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MEU NOME É NINGUÉM (IL MIO NOME È NESSUNO)

Sérgio Leone fez poucos filmes, mas revolucionou o faroeste. Com seu estilo absolutamente original, dirigiu a famosa Trilogia dos Dólares, composta de três filmes produzidos na Itália (e não nos EUA, berço do gênero) e com Clint Eastwood, em 1964, 1965 e 1966, respectivamente, Por um punhado de dólares, Por uns dólares e mais e Três homens em conflito (O Bom, o Mau e o Feio). Quando havia se decidido pela aposentadoria, foi convidado dois anos depois a realizar um arrojado projeto nos Estados Unidos e com a participação de um ator que sempre admirou: Henri Fonda. Além dele, Charles Bronson, Claudia Cardinale e Jason Roberts, entre outros: e assim nasceu o maior faroeste da história do cinema (na minha opinião): Era uma vez no Oeste. Aqui, cinco anos depois, em 1973, dirigiu outro faroeste, mas diferente:  novamente com Henri Fonda (com incríveis 68 anos), que faz um pistoleiro famoso no Oeste já querendo começar a se tornar civilizado (a linha de trem na amplidão…), com Terence Hill (aproveitando o sucesso da série Trinity, de há uns dois três anos) e com o costumeiro parceiro Ennio Morricone na trilha sonora. Mas um faroeste com humor. A direção e as imagens grandiosas são bem ao estilo do diretor (que mostra a vastidão do Oeste), mas este western é uma comédia, embora também apresente situações dramáticas, inclusive típicas de filmes do gênero. O enfoque aqui é a leveza e há cenas até de pastelão, embora o lado do humor seja muito bem dosado e tenha o contraponto do personagem de Henri Fonda. Mas tudo acaba sendo muito divertido. E há curiosidades também, na medida em que ao longo do filme são feitas algumas homenagens, umas sutis, outras não: 1) no cemitério em que o pistoleiro Jack Beauregard (Henri) e “Ninguém” conversam, um dos túmulos tem o nome de Sam Peckinpah –que quatro anos antes havia feito grande sucesso com o western Meu ódio será tua herança-, em uma clara brincadeira (ou alfinetada?) de cineasta para cineasta: o pistoleiro então comenta, na cena, que esse nome era estranho para um Navajo; 2) em um dos momentos do filme, Terence Hill reprisa uma famosa cena dos filmes de Trinity de dois/três anos antes (os tapas na cara do antagonista); 3) quando aparece o bando dos 150 (que cavalga sem parar em diversas cenas!), toca a música A cavalgada das Valquírias, de Richard Wagner; 4) a música que toca várias vezes para enaltecer o heroísmo de Jack Beauregard claramente segue toda a linha de “My way”, de autoria de Jacques Revaux e imortalizada na voz de Frank Sinatra e Elvis Presley. Em suma, a história aqui é simples, embora divertida e evoque vários símbolos dos grandes faroestes: Jack Beauregard ainda tem fama do mais rápido pistoleiro do Oeste, mas deseja se aposentar; no entanto, um jovem pistoleiro, seu maior fã, passa a ser “sua sombra”, alegando ter um plano para colocá-lo de vez como a maior lenda do Oeste (antes da aposentadoria), incluindo-se em tais planos enfrentar naturalmente o Bando dos 150. Para finalizar, pode ser uma comédia, mas, nas mãos de Leone, ainda assim é um notável tributo ao gênero.  8,8