VIRTUDE SELVAGEM (THE YEARLING)

O título em português, diversamente do que acontece usualmente, não é ruim, ao contrário: é um nome abrangente e que encerra ainda certo mistério, o que o torna bem interessante. O nome original significa “O filhote” e denuncia um dos pontos importantes do filme, porque o filho dos colonos tem um desejo profundo de ter um animalzinho selvagem de estimação. O filme é de 1946, foi baseado em romance vencedor do Pulitzer e aborda fatos dos idos de 1870 na Flórida, sendo que na introdução já temos o seu perfil, quando é feita uma homenagem aos colonizadores e pioneiros americanos, por sua audácia e destemor: afinal, a partir deles e das terras inóspitas colonizados é que passou a existir toda uma história e as múltiplas gerações. E o filme aborda justamente a vida e os percalços e aventuras de uma família que construiu seu lar no meio do nada, constituída pelo pai (Gregory Peck, de O sol é para todos), pela mãe (Jane Wyman, de Belinda) e pelo filho (Claude Jarman Jr., aos 12 anos e que aos 16 anos atuaria em Rio Grande), sendo também verdade que houve várias tragédias no passado, envolvendo outros filhos (que vamos conhecer ao longo da história). É uma obra daquelas de  grandes lições para a juventude, enfocando um tempo de perfeita (e necessária) integração familiar, em que havia profundo respeito e obediência aos pais, a vida era muito difícil, com pouco dinheiro e qualquer semente valorizada, no caso ainda em meio a uma natureza imprevisível. Um filme de belíssimo visual (fotografia e arte lindíssimas) e indicado para toda a  família, daqueles que poderiam ser exibidos na antigas sessões de sábado do programa “Disneylândia”, onde vemos o núcleo familiar, a mãe com dificuldades de se aproximar do filho (com medo que ele tenha o mesmo destino dos anteriores) e o pai o tempo todo ensinando a ele lições de moral e de fortalecimento do caráter, ensinamentos para crescer forte, mas principalmente no sentido de que a vida tem ganhos e perdas e temos que aprender a  conviver com ambos – aqui, a importante transição da infância para a maturidade. E no sentido das perdas, o filme tem também momentos tristes, mas que fazem efetivamente parte da vida: o adeus, as derrotas, as  renúncias, a que devem se seguir a luta, a persistência e a coragem, para que venham então os ganhos e as vitórias. É um filme bonito, tocante, naturalmente com muito de politicamente correto, ótimas performances do par central e uma interpretação do menino que parecerá às novas gerações talvez forçada, mas que não soará estranha aos mais antigos (o ator inclusive recebeu um Oscar especial por sua atuação). O filme teve 7 indicações no Oscar de 1947: Melhor Filme, Diretor (Clarence Brown), Montagem, Atriz, Ator, Direção de arte em cores e Fotografia em cores, ganhando os dois últimos. De fato, aquele foi o ano do filme Os melhores anos de nossas vidas! Em resumo, é um belo filme, de belas lições, daqueles que não se fazem mais hoje em dia e que muitos, por sinal, consideram inclusive uma obra inesquecível do cinema.  8,4