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O SELVAGEM (THE WILD ONE)

Há filmes que não envelhecem muito bem e que vistos hoje em dia soam como datados, por mostrarem fatos, no caso vandalismos, que atualmente se mostram suaves perto do ocorre à nossa volta. Aqui, a narrativa do início deste filme de 1953 dirigido pelo húngaro Lásló Benedek (A morte do caixeiro viajante), já revela que haverá alguma tragédia. E podemos antevê-la quando testemunhamos uma gangue de motoqueiros “acampando” em um condado e pouco a pouco cometendo atos de baderna e vandalismo, para horror e temor dos conservadores habitantes da pequena cidade. Trata-se de motoqueiros de casacos pretos de couro, boinas e que, com suas motos ruidosas se intitulam como “rebeldes”, na verdade integrantes do BRMC (Black Rebels Motorcycle Club). O bando é liderado por Johnny Strabler, interpretado pelo icônico Marlon Brando, na época com 29 anos e já sendo elevado a um símbolo sexual, porque embora em seus primeiros anos de atuação, já tinha como bagagem a antológica atuação de dois anos antes no filme Uma rua chamada pecado. Também no início de carreira estão no filme Lee Marvin (mesma idade de Marlon) e a bela Mary Murphy (na época com 22 anos). Acompanhando o desenvolvimento da história, hoje não sentimos o peso da época, mas podemos fazer várias reflexões sobre o que está sendo proposto ou imaginamos que esteja: será o filme uma denúncia ou a confirmação de um preconceito? Apontará como solução única para combater a criminalidade a lei do mais forte ou o olho por olho…? Ou estará proclamando que não há solução e sugerindo um abismo social? De todo modo, seu tema fez com que fosse proibido por algum tempo na Inglaterra e na época causou muitos comentários e polêmica. Acontece que, independentemente de sua visão atual, este filme é apontado como fonte de grande influência cultural – inclusive por sua realização no período pós-guerra -, sendo responsável por marcos da contracultura que se concretizariam posteriormente, inclusive em filmes que também tratariam de jovens rebeldes (como os de James Dean, Dennis Hopper, Peter Fonda), que não teriam, segundo alguns, o impacto que tiveram se não fosse “O selvagem”. Enfim, o imprevisível e misterioso bad boy, que não sabe dizer “obrigado” ou pedir “perdão” e que ao final faz uma importante concessão (embora acompanhada de um sorriso bastante discutível dentro do contexto), acabou sendo um paradigma fundamental, símbolo do que os homens queriam ser e as mulheres procuravam, eternizando a imagem do motoqueiro com sua boina, jaqueta de couro e óculos ray-ban, dono da liberdade, mas também de uma rebeldia odiada ou invejada, mas praticamente indomável. 8,0