ANIMAIS NOTURNOS

A apresentação algo chocante e inusitada do filme (antes de introduzir a nossa principal personagem, uma socialite dona de uma galeria de arte) já indica que veremos algo diferente. E isso de fato ocorre, tanto plasticamente, como no conteúdo. Um filme que deixa o espectador permanentemente atento e tenso, diante da riqueza das reticências e de três histórias que acabarão se harmonizando, uma delas o flashback da relação que Susan (Amy Adams, esplêndida) teve com seu ex-marido Edward (Jack Gylenhaal, fabuloso), que envia a ela um manuscrito, que será então a outra história, com o texto interpretado e que fará com que ela, chocada – e já vivendo uma felicidade de fachada -, descubra verdades incômodas e relembre fatos traumatizantes…Percebendo e confirmando, finalmente, na aparentemente enigmática cena final do filme, a razão de ter recebido o referido material, a ela inteiramente dedicado. O termo “aparentemente enigmática”, que utilizei acima, decorre do fato de o final do filme poder suscitar dúvidas e inúmeras interpretações (metafóricas)…mas na minha opinião, isso não se justifica se for bem analisado o contexto. De todo modo, nesse momento, o espectador já terá tido uma experiência cinematográfica extremamente interessante e original (embora incômoda, com as incertezas, as dúvidas, a violência…), em um belo filme – embora dos mais cruéis sobre relacionamentos – e que poderá facilmente resultar em prêmios neste início de 2017, tanto para Amy e Jack, como para os também magníficos Michael Shannon e Aaron Taylor-Johnson ou de roteiro, fotografia…e até para o diretor Tom Ford, que aqui confirma sua origem de estilista junto à indústria fashion, ao impregnar o filme de imagens e sensações estéticas vinculadas à arte e à forma. Tais prêmios, porém, podem ficar prejudicados pelo fato de o filme efetivamente não ser para todos os gostos, sendo realmente de difícil digestão.  9,0