AMOR À FLOR DA PELE
Um filme chinês do ano 2000, que se passa na Hong Kong de 1962, dirigido com sensibilidade e maestria por Wong Kar Wai, o mesmo diretor de Um beijo roubado e Amores expressos, sendo ele o primeiro cineasta de Hong Kong a presidir o grande júri do Festival de Cannes. O tema até envolve sentimentos já abordados antes e depois, no cinema, mas a maneira de mostrá-los aqui é algo extremamente original e com uma espécie de recato até inesperado. Tudo é premeditado, muito se torna inesperado, mas é certo que todos os enquadramentos, o belíssimo visual, incluindo o figurino, os detalhes, a maravilhosa montagem, a trilha sonora em alguns momentos parecendo anacrônica (boleros interpretados por Nat King Cole) e em outros renitentes, denunciadores do imprevisível (as notas da valsa alcançando nosso coração, mas não denunciando os caminhos a serem seguidos), tudo foi propositadamente ordenado e organizado/orquestrado com muito esmero em uma harmonia invejável e em muitos instantes perturbadora, em razão das tomadas de câmera, dos cortes, das sutilezas, dos olhares, das cores, das carências, dos momentos, dos sentimentos, para dar um sentido à história. Algo que mexe com o espectador, na medida em que escapa do rotineiro, mas principalmente pelas sutilezas, pelas reticências, além disso sendo generosa a entrega do elenco e prazerosa a química do casal de protagonistas. Algo diferente a ser visto e experimentado e sem dúvida uma história a ser sentida, com uma elogiável estética. O espectador desavisado inclusive poderá sentir emoções quando menos esperar e de onde a princípio não eram previstas. Aqui se trata de cinema e o que nos é mostrado não poderia ter o mesmo resultado com outro tipo de arte. É a sétima arte, em sua expressão máxima e personalíssima. Um drama com romance, contado de um modo extremamente delicado, sutil, com instantes maravilhosos de lirismo. A poesia no cinema, com emoções que afloram de maneira genuína e profunda e que tanto nos surpreende quanto nos encanta. E as sensações no final, de melancolia e de perda, que permanecem além do tempo do filme, só são possíveis quando efetivamente se trata de uma grande e bem acabada obra ou até, sintetizando, de um filme de amor – mesmo que latente e não reclamando palavras que o definam – inesquecível. 9,2