FLORENCE FOSTER JENKINS (QUEM É ESSA MULHER)
Esta é uma comédia dramática e que surpreendentemente se baseia em fatos reais: a personagem realmente viveu em Nova York, entre os anos de 1868 e 1944. Era uma milionária que adorava o canto lírico e a surpresa de ser real a história reside aí, porque fez tremendo sucesso, vendeu muitos discos e no entanto não era uma boa cantora, muito ao contrário. Nesse ponto acontece a crítica social, porque a farsa era alimentada em parte pelo fato de ela ser pessoa generosa e benemérita e em outra parte pela absoluta “surdez” (nos dois sentidos) dos ouvintes. Coincidentemente a França também produziu um filme sobre a mesma personagem (“Margherite”), só que, ao contrário deste filme, a abordagem lá é bem mais séria e profunda, tratando-se de um drama, com tons cáusticos de comédia. Aqui, o ótimo diretor Stephen Frears preferiu o enfoque da comédia, do descompromisso com a profundidade, do maniqueísmo. Mas também teve êxito nessa proposta e não apenas pela produção, pela trilha sonora, pelo tom leve do filme: o sucesso do filme – que do contrário poderia ser mais um filme ao estilo “sessão da tarde de luxo”, como dizem alguns críticos – deve-se primordialmente aos seus protagonistas. Hugh Grant, no papel do marido devotado (embora com uma duplicidade…), muitas vezes é Hugh Grant, mas desempenha muito bem e contagia o personagem com o seu charme inglês já conhecido. Também tem uma ótima atuação o interessante, divertido e simpático personagem Cosmé, interpretado pelo astro de The Big Band Theory, Simon Helberg. Mas o tesouro do filme, o que o torna especial realmente e dá a ele os tons certos, de diversão, melancolia, encantamento e emoção é a maior atriz do cinema de todos os tempos, na minha opinião: Meryl Streep e que aqui, em mais um papel desafiante (camaleoa que é), tira de letra e de maneira irresistível todas as dificuldades e nos oferece mais um desempenho magnífico. Um filme que tem momentos tocantes, divertidos (a dança do personagem de Hugh, por exemplo), de beleza criativa (o anjo cantando quase ao final) e que cumpre sua missão, de distrair, fazer rir, enternecer, mostrando valores como compaixão e lealdade, mas, no final das contas, sendo mesmo um filme de amor. 9.0