ORGULHO E PRECONCEITO
Realmente a escritora Jane Austen foi extraordinária. Precoce e superlativa no seu gênero literário, inclusive porque deve ter vivido ou presenciado muitos dos fatos que retratou em suas obras. Não é à toa que muitas delas viraram filmes, os quais são seguidamente readaptados pelo cinema. Um dos mais famosos certamente é este, baseado no livro escrito quando Jane tinha 20 anos e que só foi lançado 16 anos depois, em 1813 (por alguns considerado a sua obra-prima). O filme é ótimo, embora não tenha como às vezes disfarçar a dificuldade de se condensar em pouco tempo um romance com tantos personagens e tantas emoções: sonhos, amor, equívocos, preconceito e orgulho (como diz o título original: Pride and Prejudice), ascendência social, escândalos, maus julgamentos, sofrimento, casamentos por interesse, pompa e circunstância…a exposição da natureza humana às vezes com graça, benevolência, outras vezes com fina ironia. O fato é que, afinal, trata-se de sentimentos e esta versão de 2005 conquistou e ainda conquista muitos corações, pois é talvez a melhor adaptação de uma obra de Jane, ao desfilar com ritmo e energia os acontecimentos de uma época, evidenciando tanto os diversos personagens (alguns memoráveis), como as tramas que os envolvem. Além disso, o filme tem algumas cenas realmente muito belas, uma ou outra inesquecível (a da chuva, a do sol…), notabilizando-se pela lindíssima trilha sonora e pela qualidade da direção de arte, figurino, fotografia, do roteiro escrito por Emma Thompson e direção de Joe Wright (Desejo e reparação, Anna Karenina, O destino de uma nação). É uma produção realmente harmoniosa, inclusive quanto à atuação de todo o elenco, sobressaindo-se a camaleoa Keira Knighley (jovem, mas talentosíssima) e os já consagrados Donald Sutherland (que imprime tocante humanidade ao pai das meninas) e Brenda Blethyn (a mãe bem ao estilo “italiana”). Mas também se destacam alguns nomes que viriam a ser depois muito conhecidos no cinema, como Rosamund Pike, Carey Mulligan e Tom Hollander. É quase o ano de 1880 na Inglaterra e naquela casa povoada só de filhas todas sonham com um casamento conveniente, leia-se com um nobre ou rico latifundiário. Aliás, desde pequenas as meninas são apresentadas à sociedade com esse objetivo e o filme destaca esse aspecto “descaradamente” em todo o seu desenrolar (a procura do “bom partido”). A partir da família Bennet, então, tudo acontece, sendo fato que ela não é uma família de posses e por esse motivo também sofre certos preconceitos – nesse ponto, há inclusive uma cena em que a personagem de Judi Dench aparece (tem poucas cenas no filme) e nesse pouco tempo já deixa clara sua intensidade e qualidade dramática. No centro dos fatos, porém, aos poucos vão aflorar os sentimentos além do interesse e aqui acaba se concentrando o ponto vital da história: os encontros e desencontros do par que gera eletricidade apenas pelo olhar: nossa sapeca e contestadora Elizabeth e o tímido e reservado milionário “senhor” Darci. Se não é fácil adaptar uma obra de Jane Austen, neste caso o resultado foi plenamente satisfatório e para muitas fãs este é um filme que ficou para sempre. 8,8