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A NONA VIDA DE LOUIS DRAX

Desde a apresentação, com os créditos iniciais (que já nos mostram um excelente elenco) e a trilha sonora, já desconfiamos de que veremos um filme original, diferente da maioria. Lembra um pouco Peixe Grande, Amèlie Poulin… Talvez não seja inédita a forma, porque já houve experiências anteriores (narrativa em primeira pessoa, música que sugere sonho, ritmo rápido e cenas sintéticas, algo sobrenatural no ar…). Mas certamente é atraente. Um thriller de fantasia… E desde a primeira cena confirmamos tais impressões e o filme passa a gerar interesse imediato. Uma história insólita, com detalhes e tomadas diferentes e que não sabemos onde vai nos levar. Essa já é uma virtude importante. Ocorre que o lado sobrenatural que se acentua (e que desde a trilha sonora do início já se antevia) parece criar um subtexto que interfere na trama de uma maneira meio inadequada. Parece que aquele caminho que vinha sem interferências de repente se perde e não retoma mais o seu curso como antes. O filme cai um pouco, mas talvez isso dependa de como cada espectador vai reagir à mudança de rumos…De minha parte, achei que tudo passa a ficar meio indefinido em termos de gênero e com isso há uma perda de qualidade. Quase como se o filme a partir de certo ponto mudasse de mãos…De todo modo, o suspense é muito bom e a criatividade não perde tanto fôlego assim, oferecendo um desenlace satisfatório. Produção , direção do francês Alexandre Aja, com Jamie Dornan (The fall, Cinquenta tons de cinza), Aaron Paul (de Breaking Bad), Molly Parker (House of cards, Dexter) e ainda Oliver Platt e Barbara Hershey, entre outros. 7,8

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UM HOMEM CHAMADO OVE

Este é um filme repleto de humanidade, feito por quem sabe contar uma história. Para emocionar, mas da maneira boa e sem chantagens emocionais. Trata-se de uma comédia dramática que conta uma história de vida, sem grande originalidades mas de uma forma muito bonita e competente. E o mais importante: por quem tem talento para fazê-lo. Com méritos o filme foi selecionado para representar a Suécia no Oscar 2017, concorrendo a Melhor Filme Estrangeiro. Os dramas existenciais do personagem ríspido, rabugento e amargurado, a vizinhança, o ritmo, tudo flui muito bem, criando um enredo comovente e que ao mesmo tempo diverte e faz pensar. Algo com a delicadeza dos grandes filmes, mas ao mesmo tempo com uma simplicidade, como a da própria vida se a resumíssemos em seus elementos essenciais. A perda, como consequência do tempo e da própria existência em torno de um personagem muito interessante, um homem de idade com suas manias quase intoleráveis e que de repente sai de um emprego no qual já estava há 43 anos, vendo toda a sua rotina exigir a devida e difícil adaptação. Tudo perde o sentido, ainda mais diante do mundo atual (nesse ponto, o filme é crítico da juventude, dos costumes…aliás, a parte final tem grande conotação social !). Mas o tom é leve, singelo, a trilha sonora adequada e a direção efetivamente assumida por quem entende: Hannes Holm. A interpretação, soberba do protagonista (Rolf Lassgård). Agradável, tocante (as cenas com Sonja dão encanto ao filme, mas ao mesmo tempo contém um sofrimento palpável)…uma obra muito bem cuidada, em todos os detalhes, tomadas, ângulos, a fotografia em si, cenas contendo a síntese necessária e com algumas pitadas de humor negro, de um personagem que apresenta uma roupagem dura, mas que por dentro é apenas um ser humano tentando sobreviver a despeito de suas perdas. E como se diz, a parte final do filme já vale o ingresso!  9,0

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LION

Vendo esse filme entendemos a razão de estar concorrendo ao Oscar e por outro lado ficamos sem compreender como um filme como MANCHESTER À BEIRA-MAR também concorre. A própria comparação entre os atores é abissal. Aqui, Dev Patel está excelente, junto com a ótima Nicole Kidman (e Rooney Mara também). Deixemos de lado o outro. Este é um filme extremamente bem realizado, por um diretor com o completo domínio de sua arte (Garth Davis). Todos os elementos funcionam harmonicamente para contar uma história tocante e ao mesmo tempo baseada em fatos reais. Fotografia, roteiro, trilha sonora, tudo perfeito. O menino Sunny Pawar é um ator excepcional. Nos créditos finais inclusive vemos cenas dos personagens reais e entendemos até o porquê do título. O filme é uma viagem, que nos transporta no tempo, na geografia, nas emoções. O que é o homem sem a sua origem? O diretor Garth Davis faz uma obra realmente de fôlego e que se em sua primeira parte deixa o espectador meio morno, como se estivesse diante de um documentário, na segunda parte é simplesmente avassalador, unindo todos os fios de passado e presente e mostrando com perfeição os pormenores de um caminho necessário e de emoções diversas, mas que ao mesmo tempo soam como autênticas e profundas. E sobretudo permanentes. Concorre ao Oscar nas categorias Filme, Ator e Atriz coadjuvantes, Roteiro adaptado, fotografia e trilha sonora.   9,5

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ALLIED (ALIADOS)

Dois espiões se fazendo passar por um casal francês em uma Casablanca infestada de nazistas. Ele, interpretado por Brad Pitt; ela, por Marion Cottilard. Não é um filme propriamente de ação e sim um drama/romance de espionagem de guerra, que explora no início mais o relacionamento entre os personagens, que embora simulem estar casados, na verdade vão pouco a pouco conhecendo um ao outro. E não revela qual é a missão a ser cumprida na África, o que faz com que acompanhemos os fatos com curiosidade e expectativa, na parte inicial do filme. Depois, o cenário muda para uma Londres, ainda em plena segunda guerra. E algo mais interessante acontece e que vai ser o fio condutor do enredo, injetando no filme bastante suspense e tornando-o uma ótima diversão. Aliás, um suspense que em muitos momentos é digno até do mestre Hitchcock. Além do roteiro, há também a atuação da dupla citada: Brad há muito tempo já é tido como um ótimo ator e Marion é certamente uma das melhores atrizes da atualidade, sendo inesquecível o seu desempenho em Piaf.  Além disso, o diretor Robert Zemeckis é veterano em Hollywood, já tendo dirigido diversos filmes de destaque, entre eles De volta para o futuro, Forrest Gump, Náufrago, Contato, O expresso polar, O voo…O fim do filme é muito belo! Por fim, além da qualidade do filme, há aqui um interesse extra-tela e que é o de ter supostamente ocorrido nas filmagens a origem do romance do casal na vida real, o qual teria precipitado o fim do casamento de Brad com Angelina Jolie, fato real, mas que fica à margem da ficção, levada a efeito com muita competência e com um desenlace extremamente comovente.  8,8

 

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SETE MINUTOS DEPOIS DA MEIA NOITE (A MONSTER CALLS)

Este é um filme tocante, de produção hispano-americana. E também impactante, pela forma escolhida para contar a história (belos e chocantes efeitos especiais). Na verdade, produto da imaginação e criação do personagem (garoto), que cria um monstro  colossal (a árvore – teixo – que cria vida e vira uma criatura…mas que conta fábulas…) para ajudá-lo a enfrentar uma situação muito difícil (a doença grave da mãe). O bullying na escola, as insinuações de homossexualismo, os conflitos familiares são elementos importantes mas que acabam apenas fazendo parte do amplo painel da infância retratado e de problemas de aceitação, de adaptação rumo ao mundo adulto (o filme enfatiza no início que ele é muito velho para ser criança e muito novo para ser adulto…).O rito de passagem com emoções verdadeiras, com mérito para todos os elementos do filme. Uma obra absolutamente invulgar, original e primorosamente acabada e que deveria, inclusive pelo roteiro, estar concorrendo a vários Oscar, até por exemplo no lugar daquele deprimente Manchester à beira mar. E o menino, o ator escocês Lewis MacDougall, que tem uma atuação soberba , dá de mil a zero no charlatão Casey Affleck. Entretanto, o filme foi totalmente ignorado pela Academia de Hollywood. O modo pelo qual o diretor resolveu narrar os fatos é impressionante e extremamente bem executado, com efeitos de imagem e som que engrandecem a obra e contribuem para conduzir o filme a um patamar de grandeza bastante considerável. Porque aliado à forma, há um conteúdo a ser considerado. Algo talvez não para todos os gostos, mas para ser absorvido e degustado por alguns, porém com sabores acentuados de qualidade. Inclusive em seu fecho, com a surpreendente descoberta. E até o título do filme em português foi feliz, ao contrário do que normalmente ocorre. O diretor é Juan Antonio Bayona, a mãe do menino Felicity Jones, a avó Sigourney Weaver e a voz do monstro de Liam Neeson.  9,0

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HIDDEN FIGURES (ESTRELAS ALÉM DO TEMPO)

Os americanos são mestres em reconstituição de época. Principalmente das décadas de 50 e 60. Da mesma forma, merecem os maiores elogios quando valorizam seu patriotismo, seus heróis (com ou sem aspas) ou vão buscar no fundo do baú personagens que não foram devidamente enaltecidos e que fizeram história (incluindo as não contadas…), que foram pioneiros em questões importantes. Como na corrida espacial, disputa entre americanos e russos (guerra fria) nas conquistas do espaço, para as quais naturalmente as experiências práticas foram precedidas por sérios, complexos e minuciosos estudos por parte de cientistas e gênios recrutados pela Nasa (o filme destaca a relevante participação da IBM no processo todo). O cinema americano também é exemplar em criar o clima adequado para essa valorização de seus mitos, com o uso de imagens, efeitos de câmera, close das emoções dos personagens e principalmente músicas temáticas ao fundo. Muitos filmes são feitos sobre histórias baseadas em fatos reais e tem sido comum ao final os personagens reais aparecerem ou até darem depoimentos. Eis acima o relato das virtudes e ao mesmo tempo onde repousam minhas restrições. Porque existe um modelo que é seguido em todo filme que adota uma mesma linha e esse modelo vira um moto-contínuo…os clichês se repetem a cada filme, fazendo com que o espectador possa prever não apenas os fatos, mas até as expressões faciais dos personagens ou suas reações, conforme cada situação. A isso já se chamou de manipulação emocional, ou seja, o filme é feito – embora tenha em parte cérebro e mérito – de modo que o diretor e o produtor escolhem em que momento desejam fazer o espectador rir, chorar, sentir medo…simplesmente seguindo a cartilha. Quando a matéria envolve segregação racial ou algo do tipo os efeitos provocados são tão fortes quanto previsíveis. Embora esse filme tenha o lado positivo enaltecido acima (muito bem feito, emocionante em vários instantes), igualmente tem o negativo. Eu o achei muito estereotipado, de modo que, na minha opinião, concorrer a vários óscares (Filme, Roteiro Adaptado e Atriz Coadjuvante) só se justifica pela importância do tema para os ianques, que sempre souberam valorizar e preservar os fatos importantes de sua história, ainda mais quando se trata de confrontar o way of life com os sistemas das outras nações – mormente inimigas. Para finalizar: o título em português me desagradou bastante e achei até ridículo, como costuma acontecer… 7,7

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ATÉ O ÚLTIMO HOMEM (HACKSAW RIDGE)

Mais um filme americano contando uma história baseada em fatos reais. Só que este se coloca entre os melhores nesse particular e também do gênero “filme de guerra” (americanos x japoneses, na Batalha de Okinawa), apesar de um ou outro argumento “forçado” (americano jamais vai resistir ao clichê…e temos que absorver isso para desfrutarmos totalmente do espetáculo, quase que invariavelmente). O título do filme se refere ao local onde existe uma base japonesa sólida e que tem que ser derrotada, apesar das dezenas e dezenas de vítimas que já fez. Além de cenas espetaculares de guerra e de ótimas interpretações, o filme apresenta uma história bastante interessante e que nos convence ser verdadeira pelos depoimentos ao final (emocionantes, como o são muitas cenas do filme !). Concorre a vários óscares: Montagem, Mixagem e Edição de som (o som é espetacular, diga-se !), Ator (Andrew Garfield), Filme e Diretor. Neste último ponto, admirável o retorno de Mel Gibson, que aqui alcança um nível de excelência na direção e merecidamente está sendo lembrado pela Academia.  9,0

 

 

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FENCES (CERCAS)

Este é um drama pesado, que se passa praticamente em um só local e com poucos personagens. A história é muito bem contada, mas não tem muito de original, já que vista antes, sob várias roupagens, em muitos outros filmes americanos. Ocorre que é daqueles casos em que o elenco é tão bom – principalmente o par central -, que a história dos personagens assume um plano maior do que a falta de criatividade do roteiro. Trata-se de Denzel Washington (que também dirige) e Viola Davis, os quais embora já consagrados por excelentes interpretações em diversas obras de cinema e tv, desta vez assumem papéis bem diferentes e nessa perspectiva se conduzem de forma magistral, transmitindo ao espectador toda a verdade dos seus personagens: em suas vidas de riquezas insuspeitas, apesar das aparências; de conflitos comuns, mas com uma força admirável, de orgulho e raça pela luta, pela mera alegria da existência/sobrevivência. E com todo o respeito, não dá para comparar a atuação de Ryan Gosling em La la land com a de Denzel neste filme: Ryan é um ator muito bom, mas no referido filme não tem uma atuação tão marcante como em outros (Drive, por exemplo); e, bem ao contrário, Denzel aqui apresenta uma de suas melhores atuações e se mostra nesse particular anos luz à frente do concorrente, que tem ganho prêmios mais pela magia do filme, do que por méritos. Em suma, um filme que não vai ser do agrado de muita gente, mas que vale a pena ser visto pela soberba atuação de seus protagonistas. De todo modo, além de Melhor ator e Melhor Atriz Coadjuvante (coadjuvante??? certamente arranjo político para premiar outras atrizes além de Viola), o filme concorre aos óscares de Melhor Filme e Melhor Roteiro Adaptado. O título é perfeito !   8,0

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A CHEGADA

Uma produção americana que desde o Critic Choice Awards do final de 2016 tem sido indicada em diversos eventos cinematográficos, principalmente nas categorias de melhor filme, diretor, roteiro e atriz (a excelente Amy Adams !). E não é sem mérito ! A começar pelo diretor, Denis Villeneuve, autor de obras como Incêndios, Os suspeitos, O homem duplicado e Sicário e que é o responsável pelo remake de Blade Runner, o que não é pouco! Ele torna diferente, inteligente e dinâmico o que já parecia explorado à exaustão no gênero, apresentando um trabalho fortíssimo em seu contexto e principalmente na sua parte decisiva. Mérito também do excelente roteiro de Eric Heisserer. A história é muito bem contada e vai envolvendo cada vez mais o espectador que, surpreso e fascinado, vai vendo serem desvendados os enigmas e surgirem as grandes surpresas decorrentes do desenvolvimento e entrelaçamento das duas subtramas. O filme explora a atual situação do planeta (inclusive politicamente), concentra-se nos temas envolvendo importante teoria linguística e em outros, inclusive atemporais, como o da não-linearidade do tempo, quebrando paradigmas e com isso alcançando públicos bastante diversificados, sem perder o interesse – até porque abre vasto campo para discussões – e o lirismo. O seu lado emocional, aparentemente submerso, quando aflora é simplesmente explosivo. É verdade que até certo ponto o aroma dos clichês se faz claramente sentir: mas depois percebe-se nitidamente que não havia outra saída para precipitar o conjunto final inesquecível e que nos deixa “embriagados” por horas: as emoções que o filme proporciona, a amplitude, complexidade e atualidade de suas mensagens – transmitidas com inteligência, competência (nos detalhes) e criatividade – torna obrigatória, desde já, sua inclusão no rol das principais obras de ficção científica de todos os tempos. 9,5

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LA LA LAND – CANTANDO ESTAÇÕES

Um belo musical, com muitos instantes inspirados, poéticos e uma música lindíssima (City of stars), a qual é apresentada ao longo do filme com vários tipos de arranjos (violão, piano, orquestra, vozes…). A cena inicial, inclusive, é um primor. Entretanto, há um fato negativo perturbador, que é o de o filme ter recebido tantos prêmios e elogios da crítica americana e estrangeira (Critic Choice Awards e Globo de Ouro 2017 por enquanto), que isso acaba gerando uma expectativa muito difícil de ser totalmente satisfeita. Não decepcionam o roteiro ou a direção, que são ótimos – Damien Chazelle, o mesmo de Whiplash -, muito menos o elenco e os protagonistas – para mim, Ryan Gosling é um ator muito bom, mas Emma Stone é uma atriz perfeita. Mas alguns detalhes, sim, inclusive por comparação, como o fato de o par central cantar apenas razoavelmente, fato que não ocorreu em filmes como Mamma mia ou Moulin Rouge, por exemplo, nos quais todos os cantos eram maravilhosos (mesmo que havendo dublagens). Essa falta de vigor que se manifesta muitas vezes no cantar também é sentida em alguns momentos das danças, embora sejam todas bem executadas…mas nem perto de um Cantando na chuva, por exemplo. Tais fatos fazem com que o filme não seja arrebatador como era de se supor, justamente em muito pela expectativa enorme que a premiação e o falatório sobre o filme causaram. Mas mesmo assim é uma bela obra em seu conjunto, um filme muito bonito plasticamente, um musical bem feito e que valoriza/resgata o gênero (os arranjos e orquestrações são muito bonitos) e que tem momentos memoráveis e importantes, como o diálogo do casal sobre o triste destino dos sonhos frente à realidade, como os das questões envolvendo a sobrevivência do jazz, as dificuldades do show business etc. Superados tais fatos, resta também a cada espectador gostar ou não do seu desfecho, que para mim veio em um belo momento, em que a realidade cedeu aos devaneios e depois retomou seu rumo, mesmo que para um futuro talvez imprevisível… 8,8

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QUANDO SETEMBRO VIER (COME SEPTEMPER)

Comédia romântica americana de 1961 e que se passa na Itália, estrelada por uma bela e famosa dupla da época: Rock Hudson e Gina Lollobrigida (tem também Sandra Dee, Bobby Darin – inclusive compositor de parte da bela trilha sonora e que seria no futuro o marido de Sandra – e Joel Grey, entre outros). É um daqueles tipos de filme que não se faz mais: uma comédia leve, dinâmica, inocente, divertida, romântica, com belas paisagens da Itália e que tem entre seus encantos justamente o descompromisso. Embora não deixe de dar suas alfinetadas no machismo e na questão do conflito de gerações. A química do casal de protagonistas também garante o sucesso do filme, muito festejado à época, inclusive por explorar bem os costumes italianos. Rock e Gina, em razão desse filme e das cenas ao ar livre, passaram a fazer inclusive comerciais de lambreta no mundo todo. O diretor foi Robert Mulligan, que dirigiria – entre vários outros filmes – O sol é para todos e Verão de 42. Apenas como curiosidade, o filme não ganhou nenhum Oscar em 1962, mas a concorrência não estava fácil: Amor, sublime amor (West side Story), A doce vida, Clamor do Sexo, Julgamento de Nuremberg, Os canhões de Navarone, Bonequinha de luxo (moon river…), entre outros.  8,5

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AMAR FOI MINHA RUÍNA (LEAVE HER TO HEAVEN)

Este é um filme americano de 1945, estrelado por Gene Tierney, a atriz de Laura e de O fio da navalha (com Tyrone Power), entre outros. É um drama, em belíssimo technicolor (Oscar 1946 de Melhor Fotografia), e que de repente vira um filme de suspense e passa a despertar maior interesse ainda. O espectador passa a intuir acontecimentos, mas acompanha curioso, sem saber exatamente para onde será conduzido na trama, porque uma das personagens passa a ter uma conduta imprevisível e perigosa. Essa é a grande virtude desse filme, inclusive porque de início já se sabe que o personagem de Cornel Wilde (ator que não me agrada) acabou sendo preso, embora somente no final do filme se revelem os motivos. O filme também tem Jeanne Crain (igualmente bela e parecida com a irmã de criação), praticamente em início de carreira e que tem um desempenho apenas satisfatório, Vincent Price e Mae Marsh, sendo dirigido por John M. Stahl. Alguns o consideram um clássico e o desempenho de Gene Tierney superlativo. Considero uma obra muito boa, principalmente pela época em que foi feito, mas aponto apenas dois defeitos, sem os quais o filme mereceria uma cotação talvez de quatro estrelas: a trilha sonora é espetacular em alguns momentos de tensão e suspense, mas cria o mesmo clima em instantes que não justificam o fato (defeito da época, provavelmente); e as interpretações a meu ver poderiam ser muito melhores, principalmente por parte de Cornel e Jeanne.  8,0

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CAFÉ SOCIETY

Drama com comédia, americano e que se passa na década de 30. Não está entre as grandes obras de Woody Allen (porque conta uma história sem grandes surpresas ou originalidade – com repetições até), mas é um bom filme e um Woody bom já é melhor do que a média (regra que tem valido na última década pelo menos), principalmente pelo domínio que o diretor tem sobre sua obra e seu capricho quanto à forma. A esse respeito, não há dúvidas de que o diretor chegou a um nível que não cairá mais, sendo o perfeccionismo uma de suas marcas registradas. Os cuidados com um filme chegam agora a um ponto superlativo: fotografia e tomadas impecáveis (que choque maravilhoso o da primeira cena, com uma imagem exuberante após os créditos iniciais !), como estão plenamente harmônicos todos os demais fatores, incluindo direção de arte, figurinos, cenários, trilha sonora (embora seja a costumeira, jazzística)… E por trás sempre o humor social ácido, como na frase do cunhado intelectual “viva cada dia como se sua vida fosse ali acabar…um dia dará certo!”. Não é um filme arrebatador, dentro da obra do diretor pode ser tido como mediano, mas tem lá os seus momentos marcantes. Quanto ao final, pode-se gostar ou não. De minha parte, achei muito bom. Apenas faço algumas restrições  quanto ao elenco, embora tenha achado muito boa a atuação de Steve Carell, : não gosto quando alguém faz o alter ego do diretor (fato até comum nos filmes de Woody) e não gosto do ator Jesse Eisenberg, que para mim desempenha sempre o mesmo papel em todos os filmes. E também achei que Kristen Stewart está bem em alguns momentos, mas em outros o filme necessitaria de atriz mais consistente.  7,7

PS – por um equívoco técnico esta resenha deixou de ser publicada no ano passado (2016), quando o filme foi visto

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GLOBO DE OURO – vencedores

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CRITIC CHOICE AWARDS – vencedores

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PASSAGEIROS (PASSENGERS)

Na minha visão, este é um drama romântico de ação que se vale da roupagem da ficção científica. Americano, como sempre tem alguns efeitos especiais, momentos em tom de comédia romântica, suspense, aventura…E tem Jennifer Lawrence, cuja atuação sempre vale a pena (mesmo em papéis nos quais não é muito exigida…), apesar de também ser uma mulher bonita. O filme se passa todo dentro de uma nave espacial programada para uma viagem de hibernação de 120 anos. Há alguns desdobramentos e fatos interessantes, mas no todo é um entretenimento sem maior profundidade (alguns poderão dizer “tolinho até”). Contudo, como pelo seu próprio tom já se apresenta meio sem compromisso, esse fato acaba tornando-o uma boa diversão. 7,6

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A QUALQUER CUSTO (HELL OR HIGH WATER)

Este é um faroeste moderno, com ritmo lento, mas necessário para guardar coerência com os seus personagens e os locais que habitam (o Texas dos amplos espaços, da monotonia das pequenas cidades…).  Embora o tema geral não seja original (dois irmãos assaltantes de Bancos etc.), predomina no roteiro a imprevisibilidade quanto ao destino dos personagens, o que o valoriza, assim como o próprio andamento já citado, a riqueza em simbolismos/subtextos nas críticas sociais que apresenta (Bancos, índios, modernidade x costumes…), havendo até mesmo um fundo moral relacionado com os assaltos. O elenco é muito bom, com destaque para Chris Pine (surpreendente o Capitão Kirk…), Ben Foster (apesar de fazer um papel meio estereotipado…) e o veterano Jeff Bridges, indicado como Ator Coadjuvante no Globo de Ouro (próximo domingo, dia 8 de janeiro), onde o filme também concorre nas categorias Melhor filme drama e Melhor Roteiro. A trilha sonora é igualmente ótima e a “levada” firme do diretor David Mackenzie mantem o interesse até o seu final.  8,5

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A LUZ ENTRE OCEANOS

Um drama americano emocionalmente denso (“preparar lenços!”) – pode-se até dizer um “drama romântico à moda antiga” -, baseado em best- seller de mesmo nome da australiana M. L. Stedman (The light between oceans), que se passa na costa oeste da Austrália e que foi também produzido pela Nova Zelândia e pelo Reino Unido. A consistência emocional do filme deve-se muito ao diretor americano Derek Cianfrance, mas principalmente ao par de protagonistas, que está simplesmente magistral: Michael Fassbender e Alícia Vikander dão uma aula de interpretação. Ele, um ator que desempenha de forma superlativa qualquer tipo de papel e ela, que na visão geral da crítica (menos na minha…) já havia sido fabulosa no filme A garota dinamarquesa, mas que agora confirma a maravilhosa atriz dramática que é (com este filme me convenceu definitivamente…). Além deles e de um elenco coeso, aparece com o talento de sempre Rachel Weisz, mas que fica restrita a um papel de pequenas dimensões temporais, embora extremamente relevante (portanto, mereceria mais tempo de tela, para o devido desenvolvimento de sua importante personagem e perfeito aproveitamento da qualidade da atriz). O filme envolve, emociona genuinamente e vai ganhando força à medida em que vão se acentuando os dilemas de natureza moral e ética. Naturalmente algumas lacunas se devem às dificuldades naturais de se adaptar um romance com esse tema e envergadura, embora o filme aproveite muitos elementos da obra literária, como a parte que cita existir o termo “viúva” para designar a mulher que perde o marido, mas nada existe para designar a perda de um filho por um pai ou uma mãe… A única restrição que faço, além da falta de um melhor desenvolvimento da personagem de Rachel Weisz, diz respeito ao desfecho do filme, que soa insatisfatório diante do restante do contexto (como uma quebra…), embora essa observação possa não se aplicar a grande parte do público.  8,8

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A AUTÓPSIA DE JANE DOE

Um suspense-terror para bons estômagos, que lembra alguns clássicos e que tem o mérito de ir construindo aos poucos o clima de horror, mantendo uma permanente e incômoda tensão até o desenrolar dos acontecimentos. E com classe, mérito do diretor e do elenco. Nada que vá ficar para a história, mas um ótimo entretenimento para os fãs. Nada precipitado, nada muito exagerado! Tentando fugir, na medida do possível, dos estereótipos. Também pudera! Uma produção britânica, com um diretor norueguês (André Ovredal), não poderia recair nos clichês que acabam atrapalhando filmes desse gênero. Um bom passatempo, afinal, com foco em um necrotério onde pai e filho – que lá trabalham em parceria – veem chegar um corpo misterioso e enigmático, provindo de uma cena de assassinato e passam a dissecá-lo para tentar entendê-lo e aos fatos do crime. Só a parte final do filme é espetacular e faz tudo valer a pena. A imagem recorrente do cadáver sobre a mesa também é algo impactante e tétrico e mais um elemento marcante (a gente fica com a impressão de que a qualquer momento os olhos da defunta vão se abrir…). E os ótimos protagonistas são escolados: Emile Hirsch (jovem, mas com muitos filmes já na bagagem) e Brian Cox (o veterano ator de 70 anos).  8,0

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O CONVITE (THE INVITATION)

O maior mérito desse filme é a direção. Porque se não tivesse um diretor absolutamente competente (no caso, Karyn Kusama), cairia fácil no buraco dos lugares comuns, das banalidades e futilidades. Precedido por um fato de estrada (sem significado, afinal), o filme aborda um encontro de pessoas, um jantar em uma residência, entre amigos e desconhecidos e alguns elos com o passado…à medida em que a noite vai avançando, a reunião parece esconder outros propósitos que não os da simples confraternização. Mas as suspeitas se alternam com a absoluta normalidade, deixando em dúvida o espectador…haverá algo de errado ou não? Alguma coisa envolvendo algum fanatismo?…Algo sinistro, afinal? Uma reunião casual ou uma espécie de “lavagem cerebral”? O próprio protagonista se confunde e ora imagine uma coisa, ora outra. Esse “jogo” de emoções, sentimentos, suspeitas é um dos pontos fortes do filme, que tem diversos personagens contribuindo para criar um clima meio liberal, meio surreal, com a tensão e o suspense muito bem construídos. E embora não seja uma obra-prima, trata-se de um trabalho que tem o seu mérito como entretenimento e, afinal, como um filme do gênero drama com suspense. Mas se quisermos dar um aprofundamento maior – que talvez nem exista -, podemos concluir que sempre haverá esperança enquanto houver, no meio, pessoas que conseguem pensar e agir lucidamente em meio ao caos.  8,0