Shortlink

RUSTOM

Este filme me deixou totalmente desconcertado. Pela absoluta falta de costume de ver filmes indianos e pela trama cheia de alternâncias. Trata-se de um filme com suspense e mistério, um policial, um thriller indiano. E além disso tem cenas de tribunal, romance…Uma mistura de coisas, mas também de cores, uma fotografia totalmente diferente, assim como os próprios costumes, os figurinos. Uma miscelânia, com ritmo intenso. Esse choque com a civilização indiana e o modo como pensa e age, além de com o cinema indiano com o enfoque no referido gênero, provoca sensações conflitantes, que alternam entre o bom e o ruim. Há coisas boas e também de gosto duvidoso (inclusive parte da trilha sonora, uma ou outra performance…), ficamos inseguros em algumas abordagens…mas, no final das contas, é algo novo e bastante bem feito, impondo a conclusão de que o diretor conseguiu, afinal, passar o recado que desejava de uma maneira eficaz. O ator principal, pelo que consta, já participou de mais de 100 filmes da chamada Bollywood. Diversão a ser degustada e que por ser algo diferente já pode valer a pena.  7,7

Shortlink

SULLY (O HEROI DO RIO HUDSON)

Os americanos são mestres em fazer esse tipo de filme. Reconstituição de fatos reais, ainda mais recentes e com ótimos efeitos especiais (e de som!!!). E a qualidade do filme se define pela mera menção de quem é o diretor: Clint Eastwood. A história todos conhecemos: o episódio recente, no qual um avião com problemas desceu em pleno rio Hudson. O fato foi propagado como histórico, inédito, heroico etc. Acontece que o filme não enfocou apenas o acontecimento em si (que mostra de uma forma emocionante e magistral), mas principalmente a pessoa do comandante do avião, os acontecimentos que se desenrolaram depois do evento (inacreditavelmente) e a conduta do comandante Sully durante todo o procedimento investigatório. O incrível supra citado é que, mesmo sendo heroi para o povo e para a imprensa, por razões diversas a conduta do comandante acabou sendo questionada e foi formado um comitê para investigar todos os pormenores, inclusive com a utilização do fantástico sistema de simulação de voo que a aviação americana possui (um dos pontos altos do filme). A atuação de Tom Hanks, hoje um ótimo ator, valoriza em muito o filme, inclusive tendo procurado ficar bastante parecido com o personagem real (que aparece no final do filme). Também participam bem Aaaron Eckhart e Laura Linney.  Em suma, algo bastante interessante para ser apreciado, inclusive sob a ótica de crítica positiva ou negativa, que fica a cargo do espectador.  8,2

Shortlink

MR. CHURCH

mr-churchUm filme despretensioso mas muito bem produzido, fotografia e trilha bem cuidadas, interpretações ótimas principalmente de Eddie Murphy (até surpreendente) e Natascha McElrone. E felizmente em tom de comédia, porque trata de alguns temas tristes. Nada aqui é muito original, tudo parece bem ao estilo de filmes tipo “mundo ideal”, com fatos mais ou menos previsíveis, exemplos edificantes etc…mas há algo tão sincero no ar e os personagens se ajustam tão bem ao roteiro, que somos levados à emoção e a apreciar a história, na verdade arrebatados por algo que necessita ser olhado com os olhos do coração e nada mais. Mérito também do diretor Bruce Beresford, de Conduzindo Miss Daysy. Em resumo, um filme como muitos outros, mas que por ser tão bem cuidado –e não cair no sentimentalismo barato – torna-se encantador e emociona e envolve na exata medida em que o espectador esteja disposto a se entregar.  7,8

Shortlink

TAKE ME TO THE RIVER

large_hntjvy1iyjgayz6kkjrp37b5yg2O que poderia ser mais puro e ingênuo do que um reencontro familiar no campo, depois de tantos anos?…mudanças, principalmente para os que viveram na cidade, mas mesmo assim a afetividade dos laços de família? Mas só na superfície. Nas camadas mais profundas há segredos represados, há a natureza humana e este filme acaba nos provocando uma sensação permanente de tensão, ao revelar inesperadas sombras. Fantasmas assombram o presente e eis instalado um clima de suspense pelo mistério e diante do rumo inesperado das coisas…ocultam quem sabe a face perversa da infância, os preconceitos e algo que era pueril acaba se transformando em um drama com tintas fortes e até mesmo chocantes (inclusive pelo que não mostra explicitamente…), na verdade perturbador, na medida em que rompe com a placidez do local, do evento e do rio – que dá título ao filme, com muita propriedade -, de águas que só na aparência são calmas…8,0

Shortlink

SNOWDEN

snowden-2016-movie-watch-online-downloadEste é um filme extremamente bem feito e que conta uma história real, de um tipo de herói moderno, pois Edward Snowden, ex-CIA, ficou famoso por denunciar as indevidas invasões daNSA, órgão americano, na intimidade de cidadãos comuns, mostrando um campo de atuação que poderia se estender surpreendentemente a todos os cidadãos do planeta (incluindo ligações telefônicas, e-mails, informações em redes sociais…). Tratou-se (ou se trata???) de uma espécie de Big Brother universal, onde ninguém está a salvo, em nenhum instante, dos atos de espionagem do governo americano. A história do personagem (de antemão conhecida) ganha aqui contornos dinâmicos e o filme desperta o interesse desde o início graças ao elenco – Joseph Gordon-Levitt e Shailene Woodley , entre outros – mas principalmente à direção experiente e segura do veterano Oliver Stone. O filme é o que é, com seu ritmo, trilha e demais virtudes e realiza seu objetivo principal (inclusive jornalístico e de denúncia – além de provocar reflexão), graças a ele e à sua tarimba em assuntos polêmicos. De resto, para quem não conhece a história, imprescindível saber sobre como de fato ocorreu e qual o destino – inclusive atual – dos personagens que protagonizaram a inesperada e inusitada etapa da história americana atual.  8,5

Shortlink

ELIS  

074523-jpg-c_215_290_x-f_jpg-q_x-xxyxxCom uma bela direção de Hugo Prata e uma inacreditável atuação de Andréia Horta (a personificação perfeita de Elis Regina!!!), trata-se de um filme que consegue reconstituir a época na medida suficiente, reconstrói os personagens muitos dos quais hoje são ícones ou ídolos (como Bôscoli, Mieli, Nelson Motta…) e com muito esmero vai mostrando a história da maior cantora brasileira a partir da década de 60, quando chegou de Porto Alegre no Rio de Janeiro e a partir dali criou história na música brasileira. O filme não aprofunda muitas coisas, apenas citando a Bossa Nova, a Jovem Guarda, João Gilberto, os Beatles, mostrando de leve os Festivais e assim por diante, mas isso não importa (embora tenha importado para boa parte do público e da crítica). Porque mostra a história desse mito chamado Elis Regina, sua trajetória e o início da chamada MPB, passando por suas atribuladas relações diversas, seus filhos, mas principalmente mostrando um painel histórico por meio das interpretações de composições extremamente bem escolhidas para cada momento propício e o desenlace como de fato parece ter ocorrido: não por um fato específico, mas por um conjunto de coisas, pertencentes a um universo tão rico, quanto intenso e confuso de sensações, desejos, medos, anseios, que parecem ter invadido inapelavelmente a cantora, deixando-a sem rumo e sem muletas. Eu vivi aquela época – mesmo depois dela (revendo filmes, escutando músicas, acumulando ídolos) – e me identifiquei bastante com o filme. Por isso não tenho como ser neutro e então me declaro absolutamente suspeito para comentar este filme, que efetivamente me proporcionou momentos de intensa emoção e que ainda me acompanham em parte, horas depois de assistir a ele. O que neste caso basta para qualificar esta bela obra, que foi eleita como o Melhor Filme pelo Júri Popular no Festival de Gramado 2016, onde Andréia Horta também ganhou o Kikito de Melhor Atriz.  9,5

Shortlink

INDIGNAÇÃO

indignationUm filme baseado no livro de mesmo nome do grande e premiado escritor americano Philip Roth. Eu li o livro e foi um dos que eu mais gostei dele. E, claro, não penso que se deva esperar que um filme consiga levar para a tela toda a essência de uma obra literária. Talvez a sua linha principal (o que é o caso), mas creio que sequer esse compromisso o cinema deve ter. A adaptação deve ser livre, embora atraia responsabilidades quando se trata de uma obra com tal complexidade. Neste caso, o resultado foi excelente. Embora adaptar o roteiro de um livro de alto nível não seja tão difícil como criar algo do nada, aqui o filme conseguiu sintetizar ideias de uma forma bastante feliz. Um elenco excelente (o jovem ator Logan Lerman é realmente talentosíssimo), para mostrar a trajetória de um jovem judeu, que naturalmente acaba rompendo com a família para estudar em uma renomada faculdade, longe de casa, em uma época em que diversos jovens americanos estão sendo recrutados para lugar na Coreia. No caso, uma escola conservadora e esse tradicionalismo vai propiciar grandes momentos do filme, pelo choque que provoca, cultural e intelectual, diante do nosso personagem livre pensador, porém jovem e inexperiente com a vida em geral. O filme tem um tratamento seguro dado pelo roteirista e diretor James Schamus, um enfoque que foge do convencional e traz muitas reflexões inclusive a respeito da época (anos 50), da inocência, da intolerância, e da necessidade de o homem se amoldar ou se corromper conforme as circunstâncias, seja no tocante ao seu comportamento, seja quanto às suas ideias. Tudo, porém, acaba trazendo consequências, às vezes imprevisíveis, como surpreendente é o final do filme, que acentua o seu lado emocional ao mesmo tempo em que propicia um fecho realmente impactante. 9,0

Shortlink

CAPITÃO FANTÁSTICO

captain-fantasticPelo cartaz deste filme diferente/original já se percebe que apesar do nome, não se trata de um super-herói no sentido mais usual do termo. Mas de um líder, para os filhos, em uma opção de educação totalmente fora dos padrões vigentes, onde predomina a liberdade, inclusive de pensar, mas programada com uma preparação cultural e física espartanas: em suma, a escola em casa e com ideais elevados, inclusive ao criticar o capitalismo, as religiões, o modo de vida em que a tecnologia se sobrepõe aos seres humanos…a busca de um novo sentido, de um novo mundo…E nesse ponto o filme se torna polêmico e também por isso tem feito muito sucesso em festivais diversos, embora liberdade x sociedade não seja um tema novo. Apresentando de conhecidos os atores Frank Langella e Viggo Mortensen, este último é o protagonista e quem tem um desempenho realmente marcante. Mas todo o elenco é bom e os personagens interessantes, sendo a união da família um ponto bastante forte, que faz parecer que a fortaleza não tem rachaduras. Mas tem e até por esse ângulo é que aparecem alguns pontos falhos e que devem ser abstraídos pelo espectador para que a qualidade não se perca muito: como, por exemplo, a dose de irrealidade, tanto pelo conhecimento inverossímil das crianças, como pelo seu preparo físico; a dependência que acaba ocorrendo pelas meras necessidades cotidianas, gerando uma cena de supermercado que cria um conflito sério com a moralidade da educação e com os próprios ideais de liberdade.  E assim por diante…Mas o filme tem muito mais qualidades do que defeitos, despontando a ótima direção, edição, bela fotografia, direção de arte, trilha sonora e nesse particular destaca-se o momento muito bonito da canção Sweet Child O´Mine (Guns N´Roses).  8,6

Shortlink

THE INFILTRATOR (CONEXÃO ESCOBAR)

the-infiltrator-infiltrator-1sht_reflection-v2_rgbNos créditos finais – quando também conhecemos o destino dos personagens principais -, ficamos sabendo que o filme se baseou em uma história real, especificamente no livro do protagonista, um agente federal americano. Embora direção, edição, trilha, fotografia, tudo seja da maior qualidade, poderia ser mais um filme dos muitos sobre FBI, cartel de drogas, Escobar, mocinhos x bandidos, disfarces, jogo duplo/infiltrações…Se não fossem dois fatores que o diferenciam, pelo menos da grande parte das obras sobre o tema: a qualidade do elenco e a exploração do aspecto psicológico do casal “infiltrado”, que além das dificuldades típicas de uma missão perigosa envolvendo variados interesses – e a corda bamba o tempo todo (o medo de ser descoberto) -, também enfrenta o lado humano, que acaba conflitando com o profissional, ao formar uma espécie de afeição por quem deveria ser o inimigo. Nesse ponto o filme é ótimo. Além disso, é realmente muito bem feito, repleto de suspense e muita tensão e que em nenhum momento vacila em termos qualitativos. Embora não apresente novidades de grande impacto, é bastante acima da média. Com Bryan Cranston (lembrando em muito o personagem de Breaking Bad), Diane Kruger, John Leguizamo e Benjamin Bratt, entre outros.  8,6

Shortlink

THE PARADISE SUITE

56zruqqsmbhgyopaohnjuioqjvv

Um filme holandês/sueco/búlgaro, que de maneira delicada mas ao mesmo tempo pungente nos traz poderosas mensagens envolvendo situações e personagens múltiplos (imigrantes), cujos atos e destinos acabam se entrecruzando, na cidade de Amsterdã, Holanda. Há momentos lentos, mas o fato é que não é um filme comercial e quem gosta dos chamados filmes de arte deve apreciar. Porque o tratamento é extremamente atento ao universo de cada um dos personagens: a jovem búlgara, o africano, o criminoso sérvio, a mulher bósnia, o pai e o filho suecos…Mas nem todos os dramas são expostos totalmente à luz: alguns têm a sutileza como marca e com isso amplia seu valor –  como, por exemplo, a relação do pai regente com o filho pianista. É um filme que nos proporciona uma viagem marcante e interessante. 8,5

Shortlink

ELLE

elleUm filme francês interessantíssimo, audacioso e instigante, com ótimo elenco tendo à frente a consagrada e “camaleoa” Isabelle Huppert. Aliás, com mais esse filme em seu currículo, ela deixa mais do que claro que tem predileção por papéis difíceis, por personagens desafiadores. A personagem principal é fascinante, uma mistura de normalidade, com estranheza, bizarrice, depravação…alguém que acumula força – embora também traumas violentíssimos da infância – quando poderia ser fraca e age de modo totalmente fora dos padrões, estando cercada por influências e pessoas dos mais diversos feitios. O filme envereda bastante para o suspense, contém muita sensualidade (típica do cinema francês) e é absolutamente indicado para adultos, pelo texto e pelas cenas fortes que apresenta. O roteiro é ótimo e os fatos são inesperados e muitas vezes crus e/ou sarcásticos, deixando quem assiste em permanente expectativa do que vai acontecer e muita coisa ocorre de modo totalmente inesperado. O diretor é Paul Verhoeven (Robocop, O vingador do futuro, Instinto selvagem…), aqui em um grande momento e com a estrela certa para passar suas nem sempre digeríveis mensagens.  9,0

Shortlink

THE DAUGHTER

the-daughter-2016Um drama australiano, adulto, que vai se intensificando à medida em que os fatos transcorrem, saindo de uma situação de aparente normalidade (embora difícil, pois no início vemos um problema social relevante) para conflitos que desafiam a calmaria reinante. Tudo porque o passado volta à tona, trazendo grande perigo para a estabilidade de certas relações, ameaçando romper o verniz burguês. Esse retorno é representado pelo filho tentando se recuperar do vício do álcool e que comparece para a celebração do segundo casamento do pai (Geoffrey Rush), encontrando antigos relacionamentos…Esse filho é muito bem interpretado por Paul Schneider, havendo no elenco ainda, de mais conhecido e em um papel bem diferente, Sam Neil.  8,3

Shortlink

LEMBRANÇAS DE UM AMOR ETERNO (A CORRISPONDENZA)

900“Pelo que eu sei, no momento do nascimento todos nós possuímos o dom da imortalidade…”. Um filme interessante, instigante, misterioso, não convencional (embora tenha seus clichês), com drama, suspense e lirismo…belo, filosófico, com um texto rico e sofisticado ao mesmo tempo, que mistura o finito com o infinito e nos faz divagar…pensar no material e no imaterial…em analogias da astrofísica (matéria da qual o protagonista é professor) com a nossa vida cotidiana…uma viagem muito original que nos proporciona Gioseppe Tornatore, esse maravilhoso diretor dos fantásticos Cinema Paradiso e A lenda do pianista do mar, entre outros, e que depois de tantos anos ainda mostra sua destreza e competência, seu talento como diretor e principalmente como um contador de histórias que muito dizem ao coração. Essa é a chave de se gostar do filme: o emocional. Se visto apenas com o racional e em busca de estereótipos, corre-se o risco de desprezá-lo. Como fez a crítica, que o “detonou”. Mas o público em geral tem apreciado. Porque não tem mau humor, estrelismo, preconceito. É um filme para se ver com o coração aberto aos sentimentos. Estrelado por Jeremy Irons e Olga Kurylenko, acaba sendo, na verdade, uma invejável e profunda história de amor.  9,0

Shortlink

STAR TREK – SEM FRONTEIRAS

strekAté a metade do filme, não se sente muita diferença do trivial nesse tipo de produção: ritmo, efeitos, som etc., mas sem grande criatividade ou emoção. Entretanto, a partir de certa parte, a nave decola! Os efeitos visuais e sonoros se tornam espetaculares, com algumas concepções inovadoras e não se consegue tirar os olhos da tela. O filme vira adrenalina pura, sobressaindo a empatia entre os personagens e que gerou milhões de fãs da série pelo mundo todo, tornando “Jornada nas estrelas” um marco dos seriados de televisão, para tempos imemoriais, aqui havendo uma homenagem especial à série original e aos seus personagens, além da célebre abertura (“O espaço…a fronteira final…estas são as aventuras da nave estelar Enterprise…”). Também o filme faz uma homenagem ousada, sutil e especial à diversidade, centrada no personagem Sulu, cujo ator se revelou gay muitos anos mais tarde do término do antigo seriado da década 60. De resto, boa sintonia do elenco, interessantes personagens e o ator Chris Pine continua mostrando muit personalidade ao interpretar o Capitão James T. Kirk. Para os fãs, altamente recomendado.  8,5

Shortlink

OS CINCO PORQUINHOS

five-little-pigs-2003-posterNão é tarefa fácil adaptar para o cinema  – ou, como no caso, para a TV, mas com roupagem de tela grande – as obras de Agatha Christie, a maior escritora de livros policiais de todos os tempos. Tanto, que poucos filmes tiveram sucesso e ainda assim com algumas lacunas em relação à complexidade dos livros. As dificuldades decorrem, primeiro – não necessariamente na ordem de importância -, pela necessidade de perfeição quanto à reconstituição de época, cenários, figurinos, trilha sonora, fotografia…Segundo, pelo “clima” das histórias, pois dotadas de muito charme, tensão, suspense, além de algumas doses de drama, comédia e ação…Terceiro, pelos personagens, muitos deles exigindo um superlativo desempenho dos atores, para que reflitam na exata medida sua importância e participação na trama, principalmente a conduta do protagonista, no caso o detetive Hercule Poirot e seus assessores, o amigo Hastings, a secretária Lemon e o inspetor Japp. E quarto, roteiro consistente e direção competente. A série “Agatha Christie´s Poirot” foi exibida pela TV britânica entre os anos de 1989 e 2013, com 70 episódios distribuídos em 13 temporadas. Há muitos que se destacam e este é um dos mais notáveis, pois todos os fatores acima citados estão presentes, com admirável perfeição, Poirot brilha especialmente, a história é ótima e maravilhosamente bem contada e tudo reflete exatamente o que sentimos ao ler os livros da escritora: e além disso acabamos sendo joguetes em suas hábeis, inteligentes e “perversas” mãos…e quando pensamos que temos a resposta, existe ainda uma carta na manga para nos deixar perplexos, mudar totalmente o enfoque e, com isso, reafirmar nossa admiração pela argúcia e talento de Agatha, por tudo isso eternizada como a Rainha do Crime. De suas criações emerge, como um farol, o detetive belga Hercule Poirot e que na série encontrou um intérprete à altura de sua majestade: o ator David Suchet, que está simplesmente soberbo ao dar vida a um ícone (de difícil composição) da literatura policial. Diante de tal perfeita sintonia, o ciclo se perfaz com a última cena, que complementa admiravelmente a da abertura. A nota é de fã e não poderia ser outra.  10,0

 

Shortlink

SHERLOCK – THE ABOMINABLE BRIDE

sherlock-the-abominable-bride-1Há quem, acostumado com algumas versões que o cinema fez para o Sherlock Holmes, infanto-juvenis, pense que esse personagem era apenas um herói tradicional, daqueles de caráter, moralista, sem desvios de conduta em face do politicamente correto. Mero engano. O próprio Conan Doyle não construiu assim sua mais famosa criatura, cujo endereço na rua Baker Street ficou famoso. Mas talvez mesmo o escritor ficasse surpreso com o rumo que seu personagem tomou na série feita para a TV britânica, da qual na verdade este filme constitui um episódio especial, preparatório para a quarta e demorada temporada. Porque aqui vemos algo parecido com o que o cinema moderno fez com “Batman”, que nas últimas versões se transformou efetivamente no cavaleiro das trevas e não naquele morno e risível super herói do seriado da TV. Este filme é surpreendente em seu roteiro (envolvendo o passado da era vitoriana e o herói moderno), absolutamente ousado em sua loucura (como a overdose do personagem!) e tem momentos realmente geniais e desafiadores. A cena da “confraria” é um “achado”. O elenco é impecável, notadamente o extraordinário Benedict Cumberbatch, que incorporou de uma maneira memorável o detetive mais famoso do mundo (sem esquecer Hercule Poirot, da Agatha Christie). Martin Freeman também está ótimo!  E os recursos cinematográficos utilizados para contar uma história original como essa são também admiráveis, sem tirar os méritos da direção e da edição. De negativo apenas um fator: para quem não acompanha a série da televisão, ficarão muitos pontos sem ligação ou sem explicação, o que é uma pena para a total compreensão da beleza desta obra. Mesmo assim, com toda a complexidade que nos é apresentada, vale a pena se deixar levar pela insanidade, porque aqui está sem dúvida vestida de inteligência.  9,0

Shortlink

FLORENCE FOSTER JENKINS (QUEM É ESSA MULHER)

www-filmeonline2016-bizwp-contentuploads201609florence-foster-jenkins-748cae5bd6e7c85bd1cf01190daf0554318de75dEsta é uma comédia dramática e que surpreendentemente se baseia em fatos reais: a personagem realmente viveu em Nova York, entre os anos de 1868 e 1944. Era uma milionária que adorava o canto lírico e a surpresa de ser real a história reside aí, porque fez tremendo sucesso, vendeu muitos discos e no entanto não era uma boa cantora, muito ao contrário. Nesse ponto acontece a crítica social, porque a farsa era alimentada em parte pelo fato de ela ser pessoa generosa e benemérita e em outra parte pela absoluta “surdez” (nos dois sentidos) dos ouvintes. Coincidentemente a França também produziu um filme sobre a mesma personagem (“Margherite”), só que, ao contrário deste filme, a abordagem lá é bem mais séria e profunda, tratando-se de um drama, com tons cáusticos de comédia. Aqui, o ótimo diretor Stephen Frears preferiu o enfoque da comédia, do descompromisso com a profundidade, do maniqueísmo. Mas também teve êxito nessa proposta e não apenas pela produção, pela trilha sonora, pelo tom leve do filme: o sucesso do filme – que do contrário poderia ser mais um filme ao estilo “sessão da tarde de luxo”, como dizem alguns críticos – deve-se primordialmente aos seus protagonistas. Hugh Grant, no papel do marido devotado (embora com uma duplicidade…), muitas vezes é Hugh Grant, mas desempenha muito bem e contagia o personagem com o seu charme inglês já conhecido. Também tem uma ótima atuação o interessante, divertido e simpático personagem Cosmé, interpretado pelo astro de The Big Band Theory, Simon Helberg. Mas o tesouro do filme, o que o torna especial realmente e dá a ele os tons certos, de diversão, melancolia, encantamento e emoção é a maior atriz do cinema de todos os tempos, na minha opinião: Meryl Streep e que aqui, em mais um papel desafiante (camaleoa que é), tira de letra e de maneira irresistível todas as dificuldades e nos oferece mais um desempenho magnífico. Um filme que tem momentos tocantes, divertidos (a dança do personagem de Hugh, por exemplo), de beleza criativa (o anjo cantando quase ao final) e que cumpre sua missão, de distrair, fazer rir, enternecer, mostrando valores como compaixão e lealdade, mas, no final das contas, sendo mesmo um filme de amor. 9.0

Shortlink

JULIETA

julieta_posterComo é bom ver um filme feito por quem sabe contar uma história. Pedro Almodóvar em plena maturidade é – continua – realmente fora de série. Os cuidados com todos os elementos da produção e a maestria na direção só remetem de imediato a Woody Allen, que também imprime em seus filmes marcas pessoais. Almodóvar aqui está bem menos extravagante do que de costume, embora continue prestigiando a ótima (porém não bela) Rossy de Palma, que trabalhou em inúmeros filmes seus e mantenha alguns enfoques de estilo. Este é seu mais recente trabalho e que pelos comentários vai representar a Espanha no Oscar 2017 de Melhor Filme Estrangeiro. O filme é baseado em textos de obra de Alice Munro, escritora canadense ganhadora do Nobel de Literatura de 2013, e é uma viagem, em todos os sentidos (inclusive de tempo)…e embora a trilha sonora ostente um permanente tom de mistério – lembrando muito os filmes de Hitchcock (provável homenagem) -, na verdade se trata de um forte drama envolvendo relações, perdas, abandonos, tratados com profundidade, porém sem os exageros que caracterizaram o diretor em uma determinada época. Aqui os elementos estão muitíssimo bem dosados, inclusive pela excelência das interpretações, principalmente de Adriana Ugarte e Emma Suárez (embora também tenhamos Inma Cuesta e Darío Grandinetti, entre outros). Entretanto, conforme já dito, basta analisarmos o vermelho maravilhoso na apresentação e do bolo, o amarelo na frigideira, as cores dos vestidos e a música do fechamento do filme, por exemplo, para reconhecermos instantaneamente o carimbo de Almodóvar. Conforme o espectador e o momento, certamente haverá momentos realmente tocantes no filme e que soarão bastante verdadeiros em razão da excelência do trabalho.  9,0

Shortlink

THE SHALLOWS (ÁGUAS RASAS)

the-shallowsEste filme americano de 2016 está repleto de falhas de roteiro, detalhes bobos, totalmente inverossímeis e, de fato, mostra-se totalmente despretensioso nesse particular. Mas seus méritos são outros e superam esses defeitos, fazendo com que seja um filme recomendável. Simplesmente porque é muito forte em sua dinâmica de suspense e pela produção cuidadosa (além da locação paradisíaca), inclusive em termos de efeitos especiais e trilha sonora (atenção: ver o filme sem um ótimo som é perder grande parte de seu impacto). As cenas são extremamente bem feitas e o suspense muitas vezes avassalador em razão do som e das imagens (muitas em câmera lenta, ângulos diferentes etc.) e da intimidade que a direção mantém com cada cena, o que acentua a tensão. A atriz Blake Lively (Selvagens, A incrível história de Adaline…) foi uma ótima escolha e o diretor espanhol Jaume Collet-Serra também teve esse mérito. Em suma, nada para pensar muito ou exercitar o perfeccionismo, mas uma ótima diversão, um suspense-terror que reprisa temática já batida, mas que o faz com bastante competência, a tal ponto que é praticamente impossível tirar os olhos da tela, principalmente na última meia hora de filme.  7,5

Shortlink

INFIEL (TROLÕSA)

infiel-2000Produção sueca do ano 2000, dirigida por Liv Ulmann e roteirizada por Ingmar Bergman, com quem a diretora foi casada. Cabe uma advertência inicial importante: trata-se de um filme para adultos, algo sofisticado/inteligente mas lento, repleto de diálogos, com pouca ação e temática envolvendo relações de personagens maduros e cultos. Não é, portanto, um filme para todo tipo de público, mas os fãs de Bergman irão adorar. Não apenas porque ele é o autor do roteiro, mas porque Liv Ulmann, que foi a atriz preferida do Mestre, aprendeu muito com o seu mentor, em termos de contar uma história de forma meticulosa, com ótima fotografia, todos os cuidados com a produção, com os enquadramentos e closes, neste caso exigindo que as emoções pareçam ser (e isso de fato ocorre!) genuínas diante de uma câmera que permanece por muito tempo contemplando as expressões faciais dos personagens. Fatos que exigem também e principalmente um elenco de gabarito, neste caso tendo destaque a soberba atuação de Lena Endre. O filme vasculha, em profundidade não muito habitual, a alma dos personagens e faz uma viagem, como se fosse a anatomia de uma relação e seus desdobramentos imprevisíveis. Em minha opinião só caberiam duas críticas ao filme: o recurso cinematográfico escolhido para contar a história (na figura de “Bergman”, o suposto terapeuta) e a duração do filme. Quanto ao primeiro ponto, fiquei indeciso, achando que a forma da narrativa poderia ter outras alternativas, mas quanto ao segundo, entendi ser absolutamente necessário o filme passar de duas horas para poderem ser costurados todos os pontos necessários ao perfeccionismo de Liv e com isso oferecer o perfeito retrato do universo que contemplou.  8,5