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EL AURA

Belíssimo drama policial argentino de 2005/2006 (co-produção França e Espanha), capitaneado por Ricardo Darín – este é o vigésimo filme que vejo com esse ator e é sempre uma aula – e com um excelente elenco. Ótimo roteiro, ótima trilha sonora, muito mistério, suspense e constante tensão (!), em cenas extremamente bem dirigidas e com um enredo que realmente não se sabe que surpresas trará. O título do filme faz referência à doença do protagonista  – epilepsia -, que é por profissão taxidermista (empalha animais) e que acaba se envolvendo em um emaranhado de fatos, tão inesperados quanto imprevisíveis. E o espectador acompanhará tudo com emoção e o maior interesse, e sem poder tirar os olhos da tela, tal a maestria da direção/edição (por Fabián Bielinsky, que também dirigiu Nove Rainhas e que faleceu no mesmo ano de 2006 em que viu seu filme ser festejado) e das performances. Para o diretor, o gênero do filme é policial anômalo, tais as peculiaridades do roteiro e do enfoque. Há críticas mornas para o filme, mas predominam as entusiasmadas. De qualquer maneira, foi indicado ao Oscar de 2006 para a categoria Melhor Filme Estrangeiro e ganhou diversos prêmios, de filme, diretor, roteiro, fotografia, trilha sonora e ator, incluindo o Argentine Film Critics Association Awards de 2006.  9,0

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A 25ª HORA

Um belo e sensível filme, de 1967 e estrelado por Anthony Quinn. A história, “sobre” a guerra e não “de” guerra, apresenta-se leve em alguns momentos e extremamente dramática em outros, principalmente na parte final, sendo bastante inspirada e feliz na sua marcante e derradeira cena. Testemunhamos reviravoltas inacreditáveis e até bizarras nas desventuras do personagem, inocente agricultor e muito bem interpretado por Quinn, um dos atores mais versáteis do cinema. Virna Lisa, uma bela atriz da época, também estrela, sob a direção de Henri Verneuil (Os sicilianos, I…como Ícaro). A partir da Romênia de 1939, são retratados fatos relacionados com a Segunda Grande Guerra, envolvendo o domínio Alemão sobre grande parte da Europa (o totalitarismo…), as invasões dos russos, as perseguições aos judeus etc. O título do filme faz referência a um livro escrito por um dos personagens, sendo que seu autor já no início do filme esclarece –  após o anúncio pelo rádio da invasão da Tchecoslováquia pela Alemanha e um discurso de Hitler –  que tempos difíceis se aproximavam, que as 24 horas do dia já estavam perdidas e que aquele momento vivido seria, então, a 25ª hora. Baseado em sucesso literário de Virgil Gheorghiu, que o escreveu quando em campo de concentração americano, a trilha sonora é de Maurice Jarre.  8,7

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BOKEH

Este drama de ficção científica tem uma nota baixíssima no IMDb (Internet Movie Database) – base de dados de filmes da internet, ou seja, notas do público para os filmes. Mas, particularmente, discordo dessa baixa avaliação e acho que muita gente vai apreciar a obra. Não é um filme brilhante, arrebatador, de grandes emoções, mas é algo bem feito e que pode propiciar um estudo interessante da natureza humana. Das necessidades imediatas e daquelas que são fundamentais para o ser humano. O que é imprescindível, afinal? É possível se viver no ideal do amor romântico ( o “só nós dois e dane-se o mundo”)? Uma produção diferente, americana-islandesa, com a ação se passando inteiramente na Islândia e cujo título faz referência a um termo – polêmico na área da fotografia – e que, em resumo, significa “a parte da foto que fica intencionalmente fora de foco”. Ficamos sem explicação alguma sobre a causa do fenômeno (que ocorre logo nas primeiras cenas), não temos propriamente um final conforme esperado, mas a última cena parece acenar fortemente para a possibilidade de adivinharmos facilmente sobre o destino do personagem.  7,5

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LOGAN

Um filmaço e que os fãs da série X-MAN vão apreciar e muito! Entretanto, para os que não acompanham a série o filme também vai agradar, embora a compreensão dos fatos se torne um pouco mais difícil e vá ocorrer ao longo da história. Um filme de ação e com violência espetacularmente selvagem, sem qualquer condescendência ou compaixão. De ninguém. O espectador deve esperar de tudo neste belíssimo –  e melancólico (pelo crepúsculo de seus heróis) –  filme de ação e que tem fartura de cenas para se ficar grudado na poltrona, tal o seu impacto e perfeição. A par de tais cenas, contudo, existe aqui  uma profundidade temática elogiável, porque se trata da decadência física e psicológica de heróis, castigados pelo tempo e pela sua própria história: Wolverine,  já fatigado e inclusive intoxicado pelo adamantium que sempre constituiu sua força e vigor (embora com acessos de sua poderosa fúria) e o Professor Xavier, vivendo sob severa dependência à base de remédios para conter suas poderosas convulsões, agora descontroladas (a despeito da consciência que ainda mantém, de seu poder avassalador). Certamente este oitavo filme é um dos memoráveis da saga e aqui Hugh tem uma das mais vigorosas atuações de sua carreira, dirigido novamente pelo também roteirista James Mangold. O título do filme é o nome verdadeiro de Wolverine.  9,0

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BRIMSTONE

Este é um filme de classe. Um filmaço produzido pela Dinamarca, França, Alemanha e Bélgica, rodado nos EUA e que se passa no Velho Oeste do século XIX. Tudo é mostrado de uma forma original, singular até, sendo o drama acentuando pelo ótimo suspense, valorizados pela trilha sonora e pela belíssima fotografia (e locações). Além da excelente direção do holandês Martin Koolhoven (também autor do roteiro). É um drama pesado, que ressalta o fanatismo e a violência, mostrados sob o ponto de vista feminino, contendo inúmeras cenas chocantes e que se tornam mais intensas pelas brilhantes interpretações de Guy Pearce (um reverendo memorável), Dakota Fanning e Emilia Jones. Também apresenta Kit Harrington e Carice Van Houten (o Jon Snow e a Melisandre, ambos de Game of thrones). O filme participou da mostra oficial do Festival de Veneza de 2016 e tem méritos para receber diversos prêmios ainda.  9,0

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MISS SLOANE

O filme – produção EUA-França – tem alguns diálogos afiados, bom ritmo, excelente atuação de Jessica Chastain (indicada ao Globo de Ouro), além de ótimas performances de todo o elenco (Mark Strong, Sam Waterston, John Lithgow etc.) e da competente direção do britânico John Madden (A prova, O exótico hotel Marigold…). Mas seu tema não é original e sua duração excessiva (2h 12min). Entretanto, os americanos são craques em fazer filmes como esse (no caso, envolvendo as atividades de uma lobista e os limites legais e éticos – inclusive da própria política americana) e suas qualidades acabam prevalecendo, principalmente em sua parte final, que acaba fazendo tudo valer a pena.  7,8

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KÓBLIC

Esta é uma co-produção Espanhola-Argentina de 2016 e que se passa na época da ditadura argentina, nos anos 70. A nota do público e da crítica aponta o filme como apenas regular. Mas eu discordo desse conceito. Achei o filme muito bom. O roteiro não apresenta quase nada de novo, é verdade, mas a questão é justamente essa: nisso reside o mérito da obra, porque um roteiro banal foi transformado em um ótimo filme. Graças ao talento do diretor Sebástian Boreinztein (Um conto chinês) e ao elenco, integrado por Inma Cuesta (La novia), entre outros, mas com uma belíssima atuação de Oscar Martinez (Paulina, Inseparáveis…) e o brilho do sempre magistral Ricardo Darín (Relatos selvagens, Truman, Um conto chinês, O segredo dos seus olhos etc. etc.). Um filme que vai se construindo com segurança e crescente tensão e que em momento algum perde o rumo, apresentando de relance alguns chocantes acontecimentos do regime da época. E aqui reside o senão da crítica: a falta de aprofundamento dos fatos tenebrosos/macabros da ditadura…mas ninguém é obrigado a fazer um filme para contentar os críticos, nem para eleger como fundamental o foco por eles desejado. Um filme, a meu ver, deve ser valorizado não pelo que ele deixou de mostrar, mas sim pelo que ele apresentou, dentro dos caminhos do roteiro e da particular ótica do diretor. E mais: certamente um filme médio de Darín já é superior à maioria dos que circulam por aí: vê-lo atuar é sempre um prazer renovado.   8,5

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SUNTAN

Um filme grego, contando a história de um médico de uma pequena ilha grega (Antíparos), sua rotina monótona e correta e esse ritmo de vida quebrado no verão, pela invasão de turistas na ilha e por um fato particular. O filme é bom porque incomoda! Quem se identifica com ele – na sensação de não-pertencimento, de ser careta, exclusão, rejeição, vontade de ser igual, de aproximar universos diferentes e incompatíveis, timidez, a constatação da juventude irresponsável etc. etc. -, vai sentir certamente muitas sensações incômodas. E quem também já conheceu alguém como quem aparece na vida do tímido médico de meia idade vai compreender perfeitamente e sentir na pele os espinhos do personagem. E nisso reside a qualidade do filme, com seu roteiro e seu excelente intérprete, que na parte final notadamente nos passa o verdadeiro horror do animal enjaulado, transmitindo-nos o triste e ao mesmo tempo o patético. Vemos sentimentos, frustrações, a dor da solidão, a gênese do ciúme e até da violência…Talvez em determinada época das nossas vidas não tenhamos conseguido ver, mas agora contemplamos com clareza o ridículo, a inadequação, o despropósito…ego ferido, raiva, inveja, dignidade a ser restaurada…e nem se pode dizer que a “viagem” é fruto da falta de cultura, da ignorância…é o amor mesmo (ou a paixão, que seja!), cego, raivoso e cruel – tornando ridículo o mais íntegro dos homens – , que causa todos esses dissabores! Inapelavelmente!   8,5

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BELLES FAMILLES

Uma comédia dramática/romântica de 2015, francesa, com os conhecidos (e ótimos) Mathieu Amalric, Gilles Lelouche, André Dussollier e Karin Viard e com a jovem atriz e modelo Marine Vacth (que inclusive já foi indicada ao Cesar, Oscar francês, como atriz revelação). A trama começa meio confusa, mas depois fica clara e vai pegando o ritmo, ficando muito interessante e até contagiante em muitos momentos, principalmente em sua parte final, cujo timming é excelente, demonstrando uma invejável harmonia de direção, edição e interpretação (fora trilha, fotografia etc.). Divertida, às vezes séria outras melancólica, mas muito bem feita, o diretor é Jean-Paul Rappeneau (Cyrano de Bergerac, com Depardieu, 1990).  8,5

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UM AMOR À ALTURA (UN HOMME A LA HAUTEUR)

O cinema francês de vez em quando tem uns “achados”, que valem o dia. Esta é uma comédia romântica, leve, despretensiosa, mas com um bom roteiro, ótimo diretor e ótimos protagonistas, o que torna o filme delicioso e nos diverte, ao mesmo tempo em que nos confronta com o preconceito, que, aliás, enfrenta de peito aberto, sem subterfúgios. O que não é para qualquer filme (americano, por exemplo, dificilmente levaria as coisas tão a fundo). Inteligência, com leveza e talento. Óbvio que temos que aceitar o exagero do tipo e os efeitos especiais – nem sempre convincentes – em Jean Du Jardin (O artista), que é realmente um ator muito carismático. E temos também que ter em mente que o filme é do tipo “bobinho”, “água-com-açúcar”. Mas vale a pena se deixar levar pelo enredo. Sem preconceitos…Sua partner é uma atriz que tem feito muitos filmes atualmente e é um sucesso também porque combina a qualidade artística com a beleza: Virginie Efira. O diretor, Laurent Tirard (Molière, Asterix e Obelix…).  8,5

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O APARTAMENTO (THE SALESMAN)

O nome original deste filme iraniano é “O vendedor”, mas na tradução virou “O apartamento”, que é bem melhor, diga-se. Uma história sem grandes atrativos inicialmente, mas que ainda assim mostra com sensibilidade embora lentamente as consequências de um fato específico e traumático na vida de um casal e principalmente sob o foco do marido.  Só que na parte final do filme a realidade nos deixa consternados, constrangidos até…O filme faz um estudo muito interessante da natureza humana e dos conflitos morais…a honra na sociedade machista, o perdão, a generosidade e a compaixão…quais são os elementos mais importantes e legítimos do que a vingança? Ainda mais diante de um ser humano fragilizado e reduzido à sua pequenez…o que somos, afinal? O quanto nos desviamos da rota??? Ótimas e tocantes cenas na parte final do filme!!! Um realismo realmente incômodo!!! E que, por ser assim, mostra a grandiosidade da obra! E que acabou ganhando o Oscar 2017 de Melhor Filme Estrangeiro! Achei exagerado, Um homem chamado Ove ou Land of mine talvez merecessem mais o prêmio, até por que este não é o melhor trabalho do diretor de filmes como A separação e O passado. Aqui, em grande parte do filme o ritmo é bastante arrastado, a questão social e política muitas vezes escapa entre os dedos. Todavia, esses fatos acabam sendo em parte compensados na parte final, com o fecho da trama e com as tensões elevadas ao máximo.  8,5

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A BELEZA OCULTA (COLLATERAL BEAUTY)

Este filme é sobre as perdas e como enfrentá-las… sobre a finitude do ser humano e o que o atemoriza e aterroriza. A trilha sonora e o próprio enfoque evocam o tempo todo – predestinadamente – algo metafísico. Talvez um grande problema do filme resida aí e por esse motivo tenha sido alvo de críticas ferrenhas. Inclusive porque segue velhas e repetidas fórmulas, receitas já consagradas, para atingir o emocional do público. Mas isso tudo não lhe retira a força nem o mérito, pela  verdade da mensagem que busca transmitir e dos personagens, que interagem com os sentimentos à flor da pele em busca de um sentido para tudo. O roteiro explora a referida perda, mas no tema que lhe dá o título fornece o alimento de que precisa se nutrir o ser humano para sobreviver: a beleza oculta, a interação com tudo o que existe em volta, a humanidade para obter a compreensão sobre a vida e com ela a paz. Temos, a serviço do roteiro, uma direção sensível (David Frankel, o mesmo de Um divã para doisMarley e eu) e um elenco de categoria: Will Smith, que hoje é um belo ator, Kate Winslet e Helen Mirren, que dispensam apresentações, bem como Edward Norton e Keira Knighley, esta uma atriz que já se consolidou, havendo também a participação de Naomie Harris e Michael Peña fazendo também importantes personagens, ele com a difícil missão de compartilhar com a família sua dor e seu segredo. Alerta: é um filme triste e por essa razão do qual devemos extrair as mensagens certas e que são aquelas que nos ajudam a viver melhor e a superar obstáculos. Nada além disso. Mas, seja como for, o final guarda uma surpresa e que é, afinal, a chave mestra da obra. E com ele ficam belas, embora difíceis mensagens. Apreendê-las ou não já é outra história….8,5

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SILÊNCIO

Um filme de Martin Scorsese com uma temática bem diferente, estrelado pelo carismático Liam Neeson. Os padres tentam catequisar os japoneses e encontram resistências inesperadas, de um povo que não acredita em deuses além dos terrenos e deseja banir qualquer credo cristão. Em meio à violência das torturas com métodos bárbaros, luta-se com esperança por uma mudança de postura, procurando-se fortalecer o movimento de fé com a soma cada vez maior de adeptos. Não é tarefa fácil e o mentor e professor de muitos dos padres, aquele que neles incutiu a profunda fé na cristandade, simplesmente deixou de dar notícias no distante Japão. Em busca de seu paradeiro e de respostas viajam dois jovens padres.  7,6

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ZOOTOPIA (ESSA CIDADE É O BICHO)

Animação dos estúdios Disney e que também concorre ao Oscar 2017. Depois que se vê Moana, o pensamento é que não há como deixar de ser premiado com o primeiro lugar (apesar de Zootopia já ter ganho alguns prêmios). Acontece que esta animação computadorizada, que é de um estilo totalmente diferente daquela – e maravilhosamente bem dublada – , tem também seus méritos e muitos. A trilha sonora, a inegável qualidade dos desenhos, principalmente a expressividade dos personagens, a personalidade de cada um, mas sendo também elemento de destaque o roteiro (sim, é uma história muito interessante !) e principalmente a sua criatividade. As piadas, os personagens e as metáforas fazem brilhante analogia com as etnias que convivem, com as diferenças de sexo, gênero etc., mostrando também um lado social preconceituoso, onde predominam os mais espertos,  os mais fortes e assim por diante. A parte final é genial e o fecho repleto de ação, cores e coisas edificantes, sendo o filme coroado com a mais pura diversão aliada a uma mensagem de inegável e atemporal alcance universal.  9,5

 

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MOANA (UM MAR DE AVENTURAS) – animação

Mais um desenho dos estúdios Disney que concorre ao Oscar, este é um trabalho primoroso de cores (e tons), imagens, trilha sonora, som e também uma história que encanta, comove, diverte, empolga, surpreende. A parte inicial é excelente e a parte final, principalmente a partir da “arraia brilhante”, é uma obra-prima e que traz inclusive algumas surpresas muito bem boladas. Apenas no meio o filme dá uma escorregada e segue alguns caminhos estranhos e que quebram um pouco a emoção e a sequência lógica dos fatos. Mas isso não chega a atrapalhar, tal a qualidade do conjunto da obra e principalmente do seu desfecho. Muitos “clichês” já conhecidos (lembrando alguns relances de Pocahontas, Aladim e de outros filmes “heroicos”), mas todos prazerosos de repetição. No final, ficamos impregnados de bons sentimentos e de coisas boas, como é costumeiro nos desenhos Disney. Se Walt estivesse vivo, certamente aprovaria com louvor essa obra, que apesar da modernidade quanto aos extraordinários efeitos de imagem (as “luzes” do colorido, as nuances das águas do mar, são impressionantes)/som e de algumas ousadias nas temáticas abordadas, guarda a mesma pureza e riqueza de intenções dos desenhos dos velhos tempos, misturando música (a qual também concorre ao Oscar), fantasia, ação e emoção na medida certa. Não há como dar nota menor.  10,0

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MOONLIGHT

Talvez ocorra com mais gente, mas eu senti a verdadeira força desse filme logo após o seu final. Por sinal, uma cena magnífica, inclusive plasticamente, que arremata repleta de sentidos. Não que não tenha sido consistente ao longo de sua duração, mas só depois do fim é que consegui – ou tentei – reunir todos os pedaços, entender e perceber a coerência e a beleza dos elementos (as partes em que o filme é dividido, as críticas sociais, a lógica do destino do personagem, segundo sua origem e experiências), apesar de dolorosas. Muito doídas em diversos momentos. Algo que não vai agradar a todos os públicos certamente. Pois é um drama pesado, com temáticas delicadas e bastante incômodas. Mas que soam aqui muito verdadeiras, nos seus enfoques de muita intensidade, mas também sensibilidade…qualquer pista a mais será spoiler… Não é de fácil digestão, mas o fato é que é justamente esse seu merecimento, o de escancarar fatos, sendo um trabalho de extrema competência do diretor Barry Jenkins. Basta dizer que o filme concorre ao Oscar nas seguintes categorias: filme, direção, atriz coadjuvante (Naomie Harris), ator coadjuvante (Mahershala Ali), roteiro adaptado, trilha sonora, fotografia e edição (montagem).  8,5

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FRANTZ

Mestres que são na reconstituição das épocas de guerra, os franceses também o são em construir filmes dramáticos – e contar boas histórias de amor – com grande sensibilidade, sem perder aquela objetividade que lhes é peculiar (tomadas apenas com a duração necessária). No caso, trata-se de história que enfoca o tempo logo após a Primeira Guerra Mundial, época em havia na Alemanha muitos focos de hostilidade contra os franceses, pelo assassinato de seus “filhos” nas batalhas em terras francesas (e vice-versa). O filme começa com um mistério a ser decifrado (o misterioso homem que veio da França e chorava no túmulo de Frantz, o filho e noivo perdido) e segue por outros rumos, sempre com delicadeza e com uma fotografia simplesmente exuberante, em preto-e-branco, alternando com momentos coloridos. Elenco maravilhoso também. Há desdobramentos talvez inesperados, mas tratados no tempo certo e com grande competência pelo diretor François Ozon. (Dentro da casa, Uma nova amiga…). Algumas questões que podem surgir…Guerra combina com consciência? E com perdão autêntico? Quando a verdade vai causar ainda mais dor, deve ser dita? O filme tem ótimos momentos, o do rio, o do violino, o da Marselhesa, o do quadro, o da orquestra, os da mansão, a última cena…! Em sua parte final, valorizado pela trilha sonora, direção, edição, fotografia e pela ótima e bonita atriz Paula Beer, nos oferece belos e duradouros momentos de tensão, mistério e emoção.  8,8

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TONI ERDMAN

Concorrendo ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, este é um filme diferente, sendo insólito principalmente na sua parte final. São dois mundos tentando se adaptar: o do pai, que interpreta um personagem (com maquiagem e dentadura postiça e que o acompanha absurdamente) e faz apresentações em asilos, simples, sem qualquer sofisticação no comportamento e o da filha, que seguiu outro rumo na vida e agora é uma elegante executiva envolvida nos negócios e em todos os meandros da vida social, inclusive o lado de bajular clientes, frequentar recepções etc. A interpretação natural e perfeita dos atores traz realidade para as diferenças, que se acentuam em cada cena e que mostram o vazio de um relacionamento que se perdeu com o tempo e que ambos, pai e filha, tentam acomodar ou resgatar, embora no fundo sem esperanças ou perspectiva de que isso seja possível. Um cena chocante é aquela em que a filha menciona pejorativamente o ralador importado que o pai lhe deu de presente, algo que para ele representou um deferência especial, mas que para ela nada significou perto da vida material a que se acostumou. Por outro lado, a cena do monstro na praça é de uma singeleza mas profundidade impressionantes. Um filme alemão que faz a gente sentir o vazio da vida moderna, a dificuldade de expressar emoções, a distância entre as gerações. A dificuldade de pai e filha em mostrar afetividade é algo tocante e incômodo ao mesmo tempo e esse fato demonstra a qualidade do filme e sua mensagem a respeito da necessidade de se repensar conceitos e comportamentos, lutando contra os efeitos da modernidade e da evolução natural. Quem nunca se sentiu assim? Torcendo para o elevador chegar logo pela falta de assunto com seu interlocutor?!? 8,0

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PASTORAL AMERICANA (AMERICAN PASTORAL)

Ewan Mc Gregor além de atuar, também dirige este filme, que tem no elenco Jennifer Connely, Dakota Fanning, Molly Parker e David Strathairn, entre outros. É baseado em livro de Philiph Roth. É muito difícil um filme ser melhor que o livro e isso também acontece aqui: a obra literária é muito superior, se bem que se está falando de um escritor e de um livro laureados. De todo modo o filme tem seus méritos, alguns instantes muito bons, a aprovação de Ewan como diretor, retratando parte da história e da política americanas, especialmente relacionada com os movimentos de jovens em oposição à guerra do Vietnã. Os novos tempos provocaram furacões e aqui o filme mostra bem os efeitos produzidos sobre uma família, na qual desde cedo um fato extremamente significativo relacionado com a filha (Fanning) vai acaba provocando desdobramentos inesperados. O filme não é linear e perde força em alguns momentos, mas no todo deixa seu recado. A história, contada a partir de um reencontro de colegas que estudaram juntos há 40 anos, envolvendo o ídolo esportivo e a garota modelo, traz uma boa ideia para iniciar o filme e tentar retratar a transformação da sociedade americana na década de 60…talvez essa ideia inicial poderia ser mais bem aproveitada. Faltou algo, embora não seja de fácil identificação.  7,5

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JACKIE

Natalie Portman está excelente interpretando uma das personagens mais carismáticas da história: Jacqueline Bouvier Kennedy, mais tarde Srª Onassis (bilionário armador grego). O filme se concentra todo nela, notadamente a partir do assassinato de John Kennedy, enaltecendo sua coragem e obstinação, principalmente na insistência em contrariar as regras de segurança que as circunstâncias recomendavam, afinal após a morte de Kennedy  – cuja cena, antiga e repetida mil vezes, ainda impacta muito- também o seu suposto assassino foi morto em seguida, quase à queima-roupa, criando um clima de apreensão, medo e tensão, que inclusive contagiou as cerimônias fúnebres do ex-Presidente. Os bastidores da Primeira Dama, físicos e psicológicos, suas intenções ocultas, seus agudos e argutos atos e argumentos (inclusive alguns fatos não publicados, a pedido dela, na célebre entrevista que deu para um repórter da Life) são o alvo e foco principal do filme. Sob a ótica de Jackie, de personalidade forte e estilo discreto ao mesmo tempo, os fatos são recompostos, ela que foi um ícone para gerações e serviu de referência para as mulheres da época, ditando estilo de cabelo, de roupas e até comportamento. Muita competência na abordagem deste drama biográfico, com várias indicações para diversas premiações, inclusive o Oscar (Atriz, Trilha sonora e Figurino).  8,0