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JOGO JUSTO (FAIR PLAY)

O título deste filme e o que aparenta ser podem dar uma visão errada do que ele realmente é. Porque a princípio parece ser um desses enlatados com temas sem grande criatividade, que apelam para o erotismo e tentam disfarçar a pobreza do roteiro injetando glamour, reviravoltas, situações e tramas banais ou facilmente degustáveis etc. Mas não é assim. Primeiro, porque é ótima a direção da jovem Chloe Domont (Star Trek: Discovery), que mostra inteiro domínio do que faz. Segundo, porque as atuações de Phoebe Dynevor (Bridgerton) e Alden Ehrenreich (Oppenheimer) são excelentes, inclusive considerada a dificuldade de seus papéis e a profundidade que se pretende atingir e que efetivamente se alcança. O roteiro é afiado, há cenas adultas e até desaconselháveis para menores, mas o drama (com suspense) tem uma temática definida e que é desenvolvida de maneira madura e extremamente segura e coerente. Aliás, são poucos os filmes que conseguem aprofundar tão bem questões tão complexas, sociais e psicológicas, envolvendo o mundo patriarcal e machista, o mercado corporativo, os preconceitos etc, dentro do mesmo contexto onde estão estabelecidos sentimentos diversos (e egos), incluindo os de inferioridade, o ciúme, o feminicídio e por aí afora, sendo aqui palpáveis, em muitos momentos, os tênues limites que separam o ódio do amor. As cenas são realistas, repletas de tensão inclusive sexual e acompanhamos os momentos diversos com variadas emoções (conforme o fluxo em espiral…), sem conseguir antever o desenlace, o qual pode até deixar dúvidas, mas não em quem fizer a devida e clara reflexão a respeito de todo o seu contexto. Estreou com muita energia no Festival de Cinema de Sundance, em janeiro deste ano e já faz inegável sucesso na Netflix. O título original é perfeito. 9,0