CHAGA DE FOGO (DETECTIVE STORY)
Mais uma vez um título em português dramático e exagerado, quando poderia simplesmente ter traduzido literalmente o original, que é perfeito. Porque este filme de 1951 se passa em uma delegacia de Nova Iorque e em um dia apenas, mostrando sua rotina e a dos seus policiais/detetives, frente a diversas ocorrências e vários tipos de pessoas, incluindo perigosos assaltantes, criminosos ocasionais e repórteres. Vemos diversos dramas acontecendo (um ou outro não muito bem resolvido, talvez), mas o mais contundente é o que transita na intimidade do protagonista, um detetive que odiou o pai a vida toda e seguiu uma carreira respeitando rigorosamente as regras, em outras palavras, um tira severo e com “tolerância zero”, para quem a lei deve ser cumprida sem flexibilidade, sem exceções e o coração nada tem a ver com as questões envolvendo o dia a dia da delegacia: bandido é bandido, não importa o crime e o seu dever, como guardião da lei e protetor do povo, é zelar pelo irrestrito cumprimento das normas. Esse protagonista, que vai acabar sendo defrontado com sensível (e decisiva) questão de natureza particular, além da ética, é magnificamente bem interpretado por Kirk Douglas, que bem poderia ter ganho o Oscar por esse papel, porém não foi sequer indicado. Por se tratar de um roteiro que exige dinamismo/ritmo em um espaço limitadíssimo, não há como se deixar de reconhecer o belo trabalho do diretor William Wyler (A princesa e o plebeu, Da terra nascem os homens, O morro dos ventos uivantes…), além de todo o elenco, com destaque para Eleanor Parker (indicada ao Oscar por este filme e a Baronesa em A noviça rebelde, anos mais tarde), Lee Grant (indicada ao Oscar de coadjuvante por este filme, atriz de teatro, cinema e TV), William Bendix e Joseph Wiseman, entre outros. É um filme com ótima fotografia, ótimo roteiro e tido como dos belos “noir” da década de 50. Foi indicado a inúmeros prêmios de filme, roteiro, ator, atriz…Talvez o final apenas seja discutível, por ser simplista demais. 8,6