AQUILO QUE VOCÊ MATA (THE THINGS YOU KILL – 2025)

Produção turco-polonesa-franco-canadense, misturando drama com suspense, com elenco turco, falada em turco, ambientada em Ankara e dirigida pelo iraniano-canadense Alireza Khatami – que também é professor de literatura e o autor do roteiro. O filme, que efetivamente constitui uma grata surpresa cinematográfica, foi escolhido como representante do Canadá para o Oscar de filme internacional e ganhou o prêmio de direção no Sundance Festival. É uma obra a ser apreciada possivelmente por público especial, que começa lentamente – com uma primeira e introdutória cena instigante e enigmática e que o final vinculará -, exigindo uma certa adaptação do espectador quanto à cultura local (e a realidade paternalista da sociedade turca). No entanto, a partir de certo ponto começa a mostrar a que veio, torna-se indefinível porém maior e propicia uma verdadeira viagem, original e profunda, dotada de inegável qualidade criativa. Direção de alto nível, assim com o roteiro e as interpretações maravilhosas, que se intensificam após a primeira meia hora do filme, quando o filme deriva para os tais caminhos inesperados, alguns inclusive non sense e que vão surpreender e até chocar. E é a partir de certo instante que um acontecimento surreal dá início primeiro a uma estranheza, depois à perplexidade e à dúvida: ocorre o chamado “plot twist” ou “twist”, que na definição da IA é “uma reviravolta inesperada na trama, que muda completamente a direção da história e a compreensão do público sobre os eventos, desafiando expectativas com uma revelação surpreendente”. E assim é, mas com sem perder a inteligência e a criatividade. Essencial para o entendimento disso tudo é prestar muita atenção e compreender os argumentos utilizados pelo professor em suas aulas, como compreender os problemas acumulados pelo personagem, com relação à sua mãe, ao seu pai, à sua fertilidade e ao seu emprego, assim como as razões pelas quais Ali foi estudar literatura nos EUA e depois retornou a casa. Não é à toa que o longa abre com um relato de um sonho, que no final o vinculará no roteiro. Um filme complexo e que dá abertura para inúmeros debates. Cinema inteligente e instigante. 9,1

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