EL AUTOR (THE MOTIVE)

Filme espanhol de qualidade, sobre o difícil ofício – obsessão – de escrever e outras derivações. O protagonista é um aprendiz de escritor, seu desejo é o de escrever livros importantes, ser um profissional da literatura nobre, bem diferente da esposa escritora, que acaba de lançar e ficar famosa por uma sub-literatura. Para sair da mediocridade, orientado e desafiado pelo professor, começa a aprender a aguçar a sensibilidade para ver a vida acontecendo à sua volta e dos fatos forjar a obra desejada: o objetivo é observar a realidade, para chegar à sua verdade, à sua identidade…O filme começa com uma bela canção, cuja letra diz “Algumas vezes você sente que está só, mas está acompanhado…às vezes alguém sente solidão estando acompanhado…”. Ainda no começo, um palestrista chama a atenção da plateia sobre os elementos vitais da literatura, entre os quais “o drama”… já que sem ele o leitor ficará certamente desinteressado. E Álvaro acaba escolhendo seu caminho e ficando obcecado por ele, um rumo que parece sem retorno possível. Até que ponto é possível ser apenas um observador dos dramas cotidianos? Até onde o escritor pode interferir na realidade ao seu redor, para com ela construir seus personagens? É lícito que provoque conflitos reais, manipule, trapaceie? O roteiro é ótimo, idem o diretor (Manuel Martín Cuenca) e o ator Javier Gutiérrez é colecionador de prêmios, por este filme ganhando o Goya 2018 (o Oscar do cinema espanhol). Curioso: a sua fisionomia lembra às vezes a do ator Anthony Hopkins quando jovem. Além dele trabalham também no filme, entre outros, Adriana Paz e Antonio de La Torre (seu colega no premiado Pecados antigos, longas sombras – ou La isla mínima). O filme concorreu a vários prêmios Goya 2018 e ganhou também o de Melhor atriz coadjuvante (Adelfa Calvo, a “porteira”). Seu desfecho é muitíssimo interessante, extremamente coerente e, sob certa perspectiva, efetivamente genial.  9,0