O HOMEM QUE ODIAVA AS MULHERES (THE BOSTON STRANGLER)

Este filme de 1968 é baseado em fatos que aterrorizaram a cidade de Boston em 1962, com a ação de um serial killer de mulheres, justamente na época do assassinato do presidente Kennedy (cujo enterro aparece na TV). Na verdade o filme pode ser definido por duas partes distintas, sendo a primeira a da exposição dos fatos e dos assassinatos, sem que se conheça o assassino, o que é muito interessante. Mais ainda porque o diretor Richard Fleischer (No mundo de 2020, 20 mil léguas submarinas, Os vikings…) utiliza o recurso “split screen”, que é o de dividir a tela em diversas partes, em cada uma delas aparecendo e desaparecendo uma cena diversa (neste caso em tempos diferentes, inclusive), havendo imagens sob a perspectiva da polícia e outras do assassino, o que imprime bastante suspense e mistério ao roteiro. A edição é excelente e a narrativa fria e sem pressa, embora a natureza dos fatos gere tensão e certa angústia, prendendo totalmente o espectador. Somente após 1 hora de filme é que ficamos conhecendo o assassino, que naturalmente surpreende pela aparência e pelo comportamento, a princípio acima de qualquer suspeita. A partir dali e após alguns percalços, começa a segunda metade do filme, talvez a que mereça um pouco de crítica, por não conter mais a dinâmica da parte anterior, inclusive deixando de apresentar qualquer desafio envolvendo o assassino e os seus investigadores: começa então a busca pelos motivos dos crimes e a investigação da personalidade (psique) do criminoso, o que causa desdobramentos até inesperados. É uma parte do filme que não deixa de ter interesse, mas sem a agilidade da primeira e isso diminui um pouco o impacto inicial, trazendo alguns momentos até um pouco enfadonhos. De todo modo, durante a minuciosa radiografia de Albert De Salvo é notável o aprofundamento e a credibilidade do personagem do detetive que conduz a investigação, graças à interpretação excelente de Henry Fonda. Mas o brilho maior do filme ficou mesmo por conta do ator que não estava acostumado a esse gênero de filmes (ou a ser vilão) e com um currículo de mais de cem filmes em Hollywood: Tony Curtis, simplesmente perfeito. Além dos citados, entre outros, participam do filme Murray Hamilton, Sally Kellerman e o eterno e competente coadjuvante, George Kennedy. Por fim, cabe comentar: em razão da temática do filme e do apelo do título original (perfeito por si mesmo), é quase incompreensível o título em português (esses sujeitos merecem um estudo!).  9,0