UTOYA
Em 22 de julho de 2011 o mundo, incrédulo e assustado, foi obrigado a reconhecer, à força, que a violência súbita e implacável é uma realidade que pode estar em qualquer parte, que o terrorismo não tem mais fronteiras e que mesmo lugares sempre tidos como pacíficos podem ser alvos de ataques brutais e aparentemente sem sentido. Este filme aborda o que ocorreu na Ilha de Utoya, na Noruega, e que em apenas 72 minutos resultou em mais de setenta mortos e quase cem feridos, sendo as vítimas jovens de 15 a 18 anos na maioria, do partido trabalhista norueguês e o atirador um partidário da extrema direita. O filme é extremamente bem realizado, retrata os fatos com base em relatos dos sobreviventes e choca mais ainda, na medida em que mostra os acontecimentos sob a perspectiva dos agredidos. Hitchcock já dizia que o maior terror é aquilo que não se vê e o diretor Erik Poppe adota inteiramente esse pensamento: o espectador só ouve tiros, correria, gritos, não vendo o atirador: não sabe onde ele está e nem de onde ele pode surgir a qualquer momento. E nesse ponto é que reside o maior mérito do filme, ou seja, o suspense e a tensão quase insuportáveis em muitos momentos, sendo escancarado o horror sob o olhar das vítimas, no caso uma personagem tendo sido escolhida para retratar todo o pânico e o desespero. A trilha sonora tensa e perfeita, a câmera ágil (muitas vezes de mão) e a convincente interpretação do elenco tornam o drama mais intenso e perturbador. O único ponto que poderia ser questionado é o da falta de tempo para reflexões e de explicações ou questionamentos sobre a origem do mal, sobre os motivos criminosos, pois o filme apenas faz o cruel relato, sem juízo de valor, começando com a bomba detonada em Oslo (pelo mesmo criminoso) e se concentrando a partir daí, durante todo o tempo, no massacre da ilha de Utoya. Mesmo assim e a despeito da dor e do terror, é um belo momento sob o ponto de vista cinematográfico. 8,5