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QUANDO HITLER ROUBOU O COELHO COR-DE-ROSA

Este é um filme quase “politicamente correto” e esse aspecto, até mesmo enaltecido por alguns como uma virtude, pode muito bem ser utilizado contra ele, como um defeito: o de ser igual a dezenas de filmes com tema parecido, porém sem qualquer originalidade ou ousadia, pisando e repisando em lugares-comuns. Isso certamente vai afastar muitos espectadores em potencial. Porém os que se aventurarem não vão sofrer grandes abalos e talvez até o apreciem, afinal. De fato, é uma história suave, sem violência, sem cenas de guerra ou qualquer coisa parecida. Os fatos ruins ficam apenas nas falas e nas reticências. Não são mostradas cenas degradantes ou a pobreza. a miséria e o medo em suas cores reais; e tudo, pode-se dizer, flui com inesperada leveza, em se tratando da fuga de uma família judia do regime nazista, que estava se instalando na Alemanha de 1933. Entretanto, sua narrativa é delicada, baseada em sucesso literário semiautobiográfico, tem ótima trilha, fotografia e elenco (sendo um destaque a atriz de 11 anos que interpretou Anna), além de passar uma mensagem positiva, com visão otimista sobre mudanças, sobrevivência e esperança no futuro. A seguir alguns spoilers…O adequado título do filme –o mesmo do livro em que se baseou- faz referência justamente ao fato de, na fuga da Alemanha, na mala da menina só caber um bichinho de pelúcia: e ela escolheu o presente novo, deixando para trás o coelho cor-de-rosa, que era mais antigo. O livro em que o filme se baseou foi escrito por Judith Kerr em 1971 e é considerado um clássico da literatura juvenil, tendo sido traduzido para 20 idiomas. Judith, que morreu aos 95 anos em 2019, conta no livro a sua história (que vemos no filme) e na vida real acabou estudando arte após a guerra e virando ilustradora de livros infantis. Fato também marcante é que seu irmão Michael se tornou o primeiro juiz estrangeiro no Tribunal Superior de Justiça da Inglaterra. A diretora do filme é a famosa alemã Caroline Link, premiada com o Oscar de Melhor filme estrangeiro em 2003, com Lugar nenhum na África. Não é um filme memorável, mas pode muito bem ser visto com algum prazer e emoção, como mais um a contar as histórias difíceis da guerra e a deixar algumas lições de humanidade.  7,6