THE PARADINE CASE (AGONIA DE AMOR)

O título em português, para variar, é ridículo e por isso procuro não dar destaque a ele. Alfred Hitchcock certamente levantaria assustado do caixão se tomasse conhecimento de como seu filme foi chamado no Brasil. Este filme foi feito pelo renomado cineasta no ano de 1947, não sendo bem quisto pela crítica e pelo público. Comenta-se que “o homem do dinheiro”, leia-se, David O. Selznick, o produtor, impôs praticamente todo o elenco para Hitchcock, que desejava nomes bem diferentes, mas que teve de concordar por ter tido suas vontades todas satisfeitas em outra produção. De todo modo, ao contrário do que pensa grande parte dos que criticam o filme, não acho que Gregory Peck tenha tido uma atuação comprometedora, muito menos Louis Jordan. Acho que atuaram bem, embora as melhores performances tenham sido de Ann Todd (a esposa), Charles Laughton (o juiz), Ethel Barrymore (Sophie) –que concorreu a Melhor atriz coadjuvante, única indicação do filme ao Oscar 1948-, Alida Valli (Srª Paradine) e Leo G. Carrol (o promotor) e Charles Coburn (Sir Simon), secundariamente. Igualmente penso bem diferente quanto a enquadrar este filme entre os “menores” do diretor. Ao contrário, considero este filme um dos melhores já feitos por Hitchcock, inclusive podendo ser considerado um belo exemplo de cinema noir, porque tem todos os elementos, incluindo a bela fotografia e a trilha sonora climática. E até mesmo a aparição costumeira e meteórica do diretor, neste caso em momento facilmente identificável. Mas o principal é a trama e seus desdobramentos. O roteiro é excelente e apresenta muito suspense, mistério e ótimos momentos e dilemas morais. Há inúmeras reflexões existenciais/morais que merecem destaque, por não serem muito usuais em filmes do gênero: as conversas entre as amigas, entre os amigos advogados, entre marido e mulher, entre o advogado e a filha do amigo, são vários exemplos do notável da história. O filme dá voz a diversos personagens e por mais superficiais que aparentem ser, em determinados diálogos ganham força e personalidade. Os momentos do tribunal, por sua vez, são espetaculares, inclusive os movimentos de câmera, enfocando expressões relevantes e acompanhando com maestria os deslocamentos das pessoas no interior da Corte (acentuando inclusive o enigma que ainda persistiria até quase o desenlace), filmagem que deixa distante a maior parte dos filmes que enfocam julgamentos. Chama também a atenção o duelo entre o advogado e o magistrado, este com forte temperamento e ativa atuação, ao contrário também do que também normalmente ocorre. O filme traz ainda exemplos muito belos de dignidade e sobretudo de amor, aos quais se agrega um insólito senso de humanidade e sensatez, que só pode existir quando se trata de pessoas e sentimentos absolutamente verdadeiros. 9,0