Imprimir Shortlink

A FLOR QUE NÃO MORREU (GREEN MANSIONS)

Este filme é bem bobinho e típico de Sessão da Tarde, mas está aqui por dois motivos. O primeiro, é porque muita gente gosta dele e os bem jovens poderão apreciá-lo como filme de ação, aventura e até romance; ou os não tão jovens poderão gostar por um detalhe ou outro, já que até que é uma boa diversão, embora totalmente previsível e nada que possa realmente ser levado a sério: a personagem feminina parece ter saído de um banho de salão de beleza, com cabelo, pele, sobrancelha, unhas, tudo muito bem tratado (embora viva na selva); o suposto “mocinho” tem uma barba que nunca cresce e permanece impecável durante todo o filme (inclusive nas expressões dramáticas); o velho, na  verdade é um moço com um disfarce que soa falso o tempo todo; o roteiro é instável e algumas cenas são muito fracas, como a luta com o índio, por exemplo; a selva tem uma cobra coral fajuta, mas ali aparece até um violão para o “mocinho” tocar o tema que evoca o nome do filme; e outras coisas mais. O segundo motivo, porém, é o interesse para o cinéfilo, que reside em alguns detalhes. O mais relevante é a presença de Audrey Hepburn, com sua permanente beleza e modos de princesa, mas nos momentos dramáticos sempre mostrando a excelente atriz que sempre foi (há um pequeno monólogo no filme, que é um exemplo disso): esse é um filme mais raro da atriz, algo que geralmente passa despercebido em sua filmografia. E não é à toa, porque depois de fazer A princesa e o plebeu, Cinderela em Paris e Sabrina, a atriz simplesmente resolveu encarar um desafio: um gênero totalmente diferente do seu habitual, algo filmado parte em estúdio e parte nas selvas da Venezuela e região! Realmente daquelas propostas que alguma atriz ou algum ator, em certo momento da carreira, aceita para se testar ou mesmo para variar o repertório. Na verdade, provavelmente Audrey aceitou esse projeto (antes de fazer Bonequinha de luxo, por exemplo) porque o diretor do filme era seu marido na época: o ator Mel Ferrer. Pena que o seu parceiro no filme é um ator tão apático quanto Anthony Perkins, aqui em seus primeiros filmes e um ano antes de ser Norman Bates em Psicose. Audrey e todos nós merecíamos alguém bem melhor. E se outro fosse, quem sabe o filme se tornasse muitas vezes superior, porque Perkins compromete muitas cenas com sua falta de talento dramático, bastando notar suas expressões faciais quando o personagem é submetido a situações perigosas! Sem comentários! O avô, porém, é o ótimo ator Lee J. Cobb (apesar do falso “envelhecimento”) e o índio principal é o bom Henry Silva, que participou de mais de 130 filmes (um dos mais assíduos coadjuvantes da história do cinema). A música tocada ao violão (que só aparece naquele momento e depois desaparece tão misteriosamente como apareceu) é muito bonita, sendo fato que a trilha que aparece como sendo de Villa Lobos, foi na verdade adaptada do trabalho que o maestro realizou para a obra original e não para sua adaptação cinematográfica. Em resumo, o filme tem algumas cenas interessantes, principalmente quando mostra a natureza selvagem (inclusive alguns animais interessantes em seu habitat, como uma onça, uma sucuri e um tamanduá), algumas de ação e suspense, boa trilha sonora, mas o que vale a pena mesmo é a atuação de Audrey, desenvolta em todas as cenas, apesar de estar descalça o tempo todo, parecendo um ser etéreo flutuando com sua beleza mágica sobre todas as coisas. Não fosse por ela, estaria entre os milhares de filmes totalmente relegados ao total e permanente esquecimento. Mesmo com ela, a receita é se desfrutar do filme com pipoca e guaraná, como se faz com as exibições costumeiras das matinês. 7,5