TÁXI TEERÃ
Este filme vale mais pelo seu significado (amplo e múltiplo) do que pelo que mostra (embora singulares seu enfoque a suas imagens). Porque é simplesmente um libelo a favor da liberdade, notadamente de expressão, no Irã: o cineasta Jafar Panahi, banido do cinema por muitos anos, filma ele mesmo e vários personagens (de) dentro de seu táxi (tornou-se taxista para tal fim). Com essa estratégia, descreve os costumes e ao mesmo tempo os absurdos do regime totalitário, principalmente contra a arte em geral, sendo o sistema mais cruel na medida em que ainda tenta “maquiar” a realidade. Essa tática de filmar “escondido” para fazer um falso documentário expressa todo um significado, porque esse famoso e premiado roteirista e diretor, que estudou cinema em Teerã e cometeu o “erro” de apoiar a oposição ao governo, além de ser proibido de filmar, teve vários de seus filmes apreendidos – acusados de obscenos -, após ter sua casa invadida, sendo preso por vários meses (condenado a anos de prisão, inclusive em regime domiciliar, chegando a fazer greve de fome) e foi perseguido e inclusive proibido pelas autoridades iranianas de comparecer ao Festival de Veneza na época. Houve inclusive várias manifestações públicas a favor de Panahi, entre as quais a emocionada da atriz Juliette Binoche em Cannes 2010. Sua coragem em continuar seu manifesto político, desafiando a insanidade e a violência, é admirável e merece destaque! O filme é interessante e, pelo contexto todo, foi premiado com o Urso de Ouro no 65º Festival de Cinema de Berlim (2015), tendo o prêmio sido recebido por sua sobrinha (já que o tio não pôde sair do Irã), a qual inclusive participa dos momentos mais interessantes do filme, revelando, por exemplo, que as crianças que se envolvem com cinema são educadas a fazer filmes “distribuíveis”, ou seja, aqueles que só falam bem do regime e do governo. A conversa com a moça das flores, quase no final, também é bastante reveladora, assim como extremamente pungente é a última cena. 8,0