A ESTRANHA PASSAGEIRA (NOW…VOYAGER)
Bette Davis foi uma das maiores atrizes da história do cinema, “reinando” na décadas de 30 até o início da de 60, embora também tenha sido uma grande atriz da TV e do teatro americanos. Ganhou dois Oscars (Dangerous em 1935 e Jezebel em 1938) e foi indicada 10 vezes pela Academia. Acumulou muitos prêmios ao longo da carreira, ganhando em Cannes, Veneza, o Bafta, o Globo de Ouro e inclusive um Cesar honorário. Além disso, foi a primeira mulher a receber um prêmio pelo conjunto da obra, do American Film Institute e possui duas estrelas na Calçada da Fama (cinema e TV). Consagrou-se em diversos gêneros, principalmente nos romances dramáticos, como este, em que atua ao lado de dois também famosos atores, com meia centena de filmes cada um: Paul Henreid e Claude Rains. Paul tinha nacionalidade austro-húngara e ganhou nacionalidade americana a partir de 1946. Ficou muito famoso no mesmo ano da da produção deste filme (1942) com seu papel de Victor Lazlo em Casablanca. Claude, britânico, também participou de Casablanca (Capitão Renault), , tendo lutado na Primeira Guerra e depois ficado muito conhecido, a partir de 1933, no papel de O homem invisível (na verdade pela voz…), sendo um ator bastante premiado. Este filme tem muitos tons de novelescos, predominando o clima de romance, mas com um roteiro consistente no geral, embora algumas cenas mais fracas, principalmente as relativas ao Rio de Janeiro, que claramente foram rodadas em outro local (na verdade, na Califórnia), tendo havido um trabalho de “colagem” de imagens, para simular a estada dos personagens no Brasil –mas no navio já ocorrem absurdos, como ao avistarem o Cristo Redentor seguido do Pão de Açúcar, por exemplo. O motorista de táxi e o acidente também são patéticos e destoam do contexto. Mas, esses fatos –na verdade não muito relevantes (até porque a viagem deveria ser para a Itália, mas as filmagens foram vedadas no país, em razão da Segunda Guerra) – não comprometem o todo, que tem diversos enfoques bastante interessantes, inclusive as lições de amor, embalado também pela renúncia, pela ética e pela dignidade. Lição também importante é a da transformação da vida da protagonista, a partir de uma pessoa sem graça e totalmente oprimida pela mãe (a ótima atriz Gladys Cooper). Uma das cenas do filme ficou muito famosa para a posteridade, inclusive pela conotação erótica (considerada a época da produção e o que era permitido exibir), apesar de rápida e sutil: é aquela em que o personagem masculino acende dois cigarros em sua boca, depois passando um deles à interlocutora. Posteriormente ao filme houve inclusive uma certa polêmica sobre quem teria “inventado” a exitosa cena, tendo Betty assumido a maternidade, inclusive em outras ocasiões. Contudo, depois se descobriu que a cena já pertencia, tal como realizada, ao roteiro original. 8,5