OS SETE SAMURAIS

Muitos fãs conhecem o filme Sete homens e um destino, de recente remake, mas produzido em 1960, de forma grandiosa, com paisagens e trilha maravilhosas e um elenco de peso, formado entre outros por Yul Brunner, Steve McQueen, Charles Bronson, James Coburn, Robert Vaughan. O que alguns aficcionados não sabem é que tal faroeste foi simplesmente a versão americana do filme japonês Os sete samurais, realizado em 1954 e ganhador do Leão de Prata no Festival de Veneza daquele ano. Este filme foi dirigido pelo aclamado Akira Kurosawa, que havia feito quatro anos antes o ótimo Rashomon e que muitas obras mais daria à sétima arte, como Yojimbo (1961), Dersu Uzala (1975), Kagemusha, a sombra de um samurai (1980) e Ran (1985). A história dos dois filmes é exatamente a mesma: inofensivos fazendeiros ameaçados por bando de malfeitores (que os atacam nas épocas de colheita) e que vão buscar por socorro para tentarem se proteger condignamente. A diferença é que aqui os fatos se passam no século 16, no Japão feudal, e envolvem ronins (samurais sem mestre) e lá naquele a história transcorre no Velho Oeste e envolvendo pistoleiros. Temos nesta obra sem dúvida um trabalho de fôlego, muita ação, coreografia, competência na direção, na edição, uma trabalhosa produção e cenas de grande efeito e também trabalhosas em sua realização (como as incríveis na chuva, por exemplo). Entretanto, não se pode incluir este filme no rol das obras sérias do cinema, pelos momentos de inesperado e inusitado humor que ele apresenta, incluindo algumas cenas de pastelão e uma ou outra que até mesmo soa ridícula. Não há como levar a sério principalmente o personagem do ator Toshiro Mifune, tido como um dos grandes do cinema japonês. e aqui um mero clichê, que por esse motivo destoa da harmonia geral, forjando um inapropriado alívio cômico. Isso contamina em parte a riqueza da obra e nos dias de hoje causa uma certa decepção, transportando o filme por adequação para as famosas sessões da tarde, ao invés de situá-lo na galeria dos grandes filmes de arte, por exemplo. Uma pena, mas não há como fazer concessão a essa mistura de enredo sério e pastelão, pelo qual o filme inclusive se assemelha, em alguns tons bem humorados ao irmão americano que nasceria mais tarde. Assim, acabam figurando juntos como ótimos exemplos de divertidos filmes de ação e aventura, mas não sem chegar próximos dos patamares onde costumam colocá-los os mais empolgados e que os superestimam, talvez contagiados pela crítica construtora de mitos. 8,6