O HOMEM MOSCA (SAFETY LAST)

Este filme de 1923, naturalmente em preto e branco e naturalmente sem som, é um dos ícones do cinema mudo (comédia). E Harold Lloyd, seu genial criador e intérprete, comparado com ele a dois outros grandes nomes: Charles Chaplin e Buster Keaton. Keaton já fazia seus filmes à época, mas o que o tornou mais famoso, A general, foi produzido em 1926; Chaplin até 1923 fez incrivelmente perto de 100 (!) filmes curtos e longos, sendo The kid, outro ícone, datado de 1921: mas a partir de Em busca do ouro de 1925 é que realizou suas obras mais notáveis e famosas. Mesmo assim, Lloyd não fica muito atrás do gênio de Chaplin, embora seu personagem, ótimo, não possa ser comparado a um Carlitos. Harold Lloyd era um talento criativo, um ótimo e inteligente ator (que se diverte e brinca em cena) e que aqui produziu o seu trabalho mais notável, em todos os sentidos. Para começar, a criatividade (que nos encanta e nos faz rir) começa na primeira cena e termina na última, tudo em um clima leve e repleto de ação, envolvendo trejeitos, malandragens, os costumes da época e do próprio cinema de humor dos anos 20. Depois, embora seja evidente que em filmes mudos a trilha sonora é de vital importância (embora as legendas, obviamente), aqui é mais do que isso, pois a trilha em filmes desse tipo e com tal ritmo e criatividade precisa ser superlativa. E é isso que ocorre, em uma perfeita adequação das músicas à ação: é algo espetacular e realmente impressionante, nos fazendo sentir intensamente todo o ritmo/clima e emoção do filme. É uma história simples, de alguém que quer passar à noiva uma imagem de prosperidade que não existe (e que seria o requisito para o casamento) e que por isso se mete em muitas confusões. A noiva é a atriz Mildred Davis, que acabou realmente se casando com Lloyd logo após as filmagens. O diretor, Fred C. Newmayer, que com muita competência orienta a astuciosa movimentação de câmeras (vide cenas iniciais, parecendo uma prisão e uma forca) e transforma em diversão todos os encontros, desencontros, picaretagens etc e que nas cenas finais mostra sem dúvida um talento muito especial. Para captar cenas simplesmente antológicas. Aliás, o clímax do filme é um episódio à parte, sendo justamente uma de suas cenas a que figura nos cartazes do filme e que o tornou eterno: a cena do relógio (o personagem pendurado no ponteiro de um relógio no alto de um edifício), filmada em meio a uma sequência de momentos simplesmente inacreditáveis para aquela época e que até hoje intrigam sobre seus efeitos limitados em meio a muitos fatos reais. Lembrando que o nome original do filme é “Segurança por último”, esse final efetivamente coroa todo um contexto harmônico, que permanece desde o início e coroa o entretenimento com o inegável selo de qualidade. 9,0