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ANTES DO AMANHECER (AVANT L´AUBE)

O filme tem, em português, o mesmo nome de outro de 1995 com Ethan Hawke. Mas aqui é uma produção franco-luxemburguesa, de 2011, que se passa em um hotel situado no meio do frio e da neve, próximo a Andorra, envolvendo um mistério investigado pela polícia e que afeta a família dos donos do hotel, assim como o próprio negócio e os empregados, especialmente um deles, de passado criminoso, a quem o proprietário dedica singular e inusitado afeto. O desaparecimento de um hóspede precipita as investigações policiais, que se desenrolam lentamente, com a tensão aumentando à medida em que a polícia vai colhendo as evidências e provas. Muito boa produção, ótimos elenco e direção. A cena final é típica francesa: sutil, não-usual, mas inteligente e que define os fatos que se seguirão com uma única frase da investigadora.  8,4

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TRUTH ABOUT MEN

Mais um ótimo filme do cinema dinamarquês, um dos melhores cinemas da atualidade. Uma comédia/drama de 2010 centrada em um personagem que passa a se questionar existencialmente, notadamente a respeito de sua felicidade, dispondo-se a buscá-la a qualquer custo. Mas há dilemas…A felicidade existe realmente? A vida burguesa é a que, afinal, nos espera com a boca bem aberta? Humanos são eternos insatisfeitos? Embora com leveza, o filme nos leva a situações realistas e profundas do mundo adulto, dentro dos relacionamentos que vêm e que passam, que são idealizados, que parecem ser o que não são, despertando até mesmo sentimentos inesperados, como o de posse. Não há concessões e o final pode ser interpretado como uma crítica à acomodação ou como uma adaptação natural ao insuperável, no sentido de que na vida temos é que aprender a ser felizes.  8,6

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AMOR IMPOSSÍVEL (SALMON FISCHING IN THE YÊMEN)

Mais uma prova da incompetência e insensibilidade dos tradutores brasileiros, que são mestres em atribuir títulos ridículos aos filmes. “Amor impossível” é simplesmente bisonho ! Mas, por outro lado, uma prova a mais de que uma boa história – não precisa ser excepcional –  em mãos competentes faz um belo filme – embora críticas ferrenhas em sentido contrário, apegadas ao livro e aos clichês. Mas minha visão foi diferente. Este filme, por exemplo, em mãos erradas seria um perfeito fiasco. De fato, nada aqui que não tenha sido visto antes, embora os valores enfocados ajudem, sem dúvidas, a forjar um bom filme, pois são edificantes, ligados a amor, honra, amizade, lealdade, aceitação do que se é verdadeiramente, ao homem escapando dos limites de sua rotina em busca de projetos aparentemente irrealizáveis… E na direção sensível e sutil de Lasse Hallström, eis um filme com ares de drama e comédia, mas bonitas mensagens, onde predominam os sentimentos. O diretor de Minha vida de cachorro, Chocolate, Chegadas e Partidas, Amigos para sempre (aquele do cachorro Hachiko, com Richard Gere), entre outras obras, prova, por exemplo, serem desnecessárias cenas de sexo para se fazer um ótimo filme. Ainda mais contando com um elenco afinado (Kristin Scott Thomas, o ótimo Amr Waked como o Sheik…) e um par admirável de protagonistas, ao contrário do que dizem alguns críticos sonolentos e/ou mal-humorados… Ewan McGregor e Emily Blunt têm aqui uma perfeita sintonia, ele um fecundo ator (especializado em filmes “diferentes”), extremamente carismático e ela com igual carisma, classe e beleza, em ambos sobrando talento. Um filme britânico de 2011, com a política pincelando o roteiro mas também de interessante significado, muito agradável e que nos traz apenas emoções boas, só por isso já valendo a pena ser apreciado. 8,6

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LINCZ (O LINCHAMENTO)

Filme polonês de 2010 e que até parece um documentário, de tão reais as cenas e os personagens. Tanto, que é um drama policial, passado numa pequena aldeia polonesa, mas o assassino não é um estereótipo como costuma ocorrer. E o filme narra, no tempo presente e em flash backs misturados, os fatos, lentamente, mostrando a precariedade da polícia, discutindo os limites do olho por olho dente por dente e o que é a justiça, ao mostrar um sistema totalmente burocrático e amarrado, que trata pessoas boas com suspeitas e indignamente, quando quem realmente é mau tem o benefício de um procedimento judiciário moroso, mesmo para que ocorra uma simples prisão, dificultada também pela falta de aparelhamento policial. Velho, mas sempre interessante tema, ainda mais mediante um enfoque diferente do que estamos acostumados a ver (por se tratar de cinema europeu) e dizem que baseado em fatos reais (da região da Masúria). No final, o filme, pelo desfecho súbito, acaba testando inteligentemente a sede de sangue do próprio espectador. 8,3

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ATÉ A ETERNIDADE (LES PETITS MOUCHOIRS)

Filme francês de 2010, dirigido por Guilaume Canet e com grande e afinado elenco, incluindo Marion Cotillard (mulher do diretor) e François Cluzet. Necessária essa sintonia para o aprofundamento do lado psicológico dos personagens e que vai aos poucos aclarando as reticências e precipitando diversos “acertos de contas”.  O título em português, para variar, é péssimo. Em francês significa algo como “pequenas mentiras entre amigos”. Perfeito. O título em inglês também é bom: “pequenas mentiras brancas”. Segundo consta, um filme que levou multidões aos cinemas da França. Vai-se vendo o filme com prazer, enfocando um grupo de amigos que se reúne na casa de praia de um deles, a 600 Km de Paris, onde moram. Falta um do grupo, porém, mas todos resolvem manter a tradição do encontro. Entre cenas descontraídas, vão saindo das sombras os dilemas existenciais, os segredos nas relações e o que cada tenta esconder dos outros e até de si mesmo. Um filme efetivamente adulto, que lembra, entre outros de tema parecido, “O reencontro”. Por isso tudo vai indo bem, mas com aquela sensação de déjà vu…mas isso só até meia hora antes do seu final, porque dali em diante alguns fatos se precipitam e o filme passa a ser ótimo, excelente até. Em suma, o final vale o filme e a sensação da última meia hora é a que, afinal, perdura, como uma importante lição de vida.   8,6

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DÚVIDA (THE SUSPECT)

Um filme de 1945 em preto e branco com Charles Laughton, ao estilo Hichcock. Pessoalmente não gosto muito do ator, para galã não é nada convincente, mas pelo menos não compromete e o filme mantém o interesse até seu desate. Suspense bastante interessante, que cria um clima de permanente tensão a partir de certo instante o qual dura até o final. Um desfecho, aliás, bastante original e interessante, que deixa nas reticências a certeza da natureza humana.  8,4

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A VIDA DE UMA OUTRA MULHER (LA VIE D´UNE AUTRE)

Lançamento de 2012, um filme denso (embora com ares de comédia dramática), mas sensível, para se ir sentindo/saboreando os acontecimentos. Francês, portanto diferente do trivial, mais ainda com a visão feminina, da diretora Sylvie Testud.  Um acontecimento inesperado, insólito, vai precipitar todo o drama. Filme baseado em obra literária, não é algo de grande originalidade ou extraordinário, mas tem seu mérito justamente na simplicidade e na perfeição dos detalhes dramáticos dentro desse enfoque. Mas o grande destaque e que vale o filme é a atuação de Juliette Binoche. Ela é magnífica. Comovente, profunda, ilimitada. Vê-la atuar e mergulhar nos meandros da personagem é um prazer imenso e que dura além do tempo de projeção. 8,6

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IRMA LA DOUCE

Comédia romântica de 1963 (com aquele colorido forte típico dos anos 60, inclusive indicado para o Oscar), bem do estilo “sessão da tarde”, ingênua, mas com o requinte das dirigidas por Billy Wilder – no caso, adaptação de um musical, mas o filme não adotou esse formato. Como sempre, roteiro, elenco, ritmo, tudo afinado e há o mérito inclusive de o texto conseguir abordar de maneira leve a situação enfocada, porque se trata do mundo de cafetões e prostitutas parisienses, fazendo ponto na região de Les Halles, uma delas Shirley MacLayne (com seu inseparável cãozinho). O protagonista é vivido por Jack Lemon, mas também é essencial a participação do dono do bar Moustache (Lou Jacob), que cria inclusive um importante bordão (mas isso já é outra história…), que vai dar fecho ao filme, seguindo-se no final a uma cena non sense muito interessante.  A solução final para o impasse com a polícia também é muito bem bolada. Outra curiosidade, porém bem mais sutil: em alguns instantes, Jack Lemon (quando mais alegrinho…) lembra os trejeitos da personagem que interpretou quatro anos antes, na obra-prima de Wilder, Quanto mais quente melhor. Este filme ganhou em 1964 o Oscar pela trilha sonora, o Globo de Ouro pela melhor atriz e o WGA Award pelo melhor roteiro de comédia. Não é um filmaço, mas uma comédia agradável e divertida, pra desopilar… 8,2

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A DANÇARINA E O LADRÃO (EL BAILE DE LA VICTORIA)

Repito aqui comentário já feito sobre a excelência de Ricardo Darín, para mim um dos maiores atores do cinema atual (junto com Al Pacino, Gerard Depardieu, Daniel Auteuil, etc.) e o prazer que é vê-lo atuar. Aqui em um filme espanhol, de 2009,  rodado no Chile, roteiro adaptado, sem gênero definido, passando facilmente do drama para o romance ou para o policial, da tragédia para a comédia, mas que habilmente desliza por diversas situações e facetas, deixando o espectador sem saber qual será o rumo da história. Impressiona mesmo o ritmo e o domínio do diretor Fernando Trueba, bem como a poesia que faz com o cotidiano. Apesar de haver alguns pequenos “deslizes” e pontos fracos (clichês, na verdade), esses desaparecem diante do predomínio das qualidades da produção, as cores da amizade, da paixão, das fraquezas e virtudes do ser humano sempre em busca de seu destino e da superação e muitas vezes da dor, a poesia encontrando seu ápice em um palco do maior teatro chileno, em cena tocante e memorável. O filme, de personagens em busca da “voz perdida”, de bela fotografia e excelente trilha sonora, também é político, com a pós-ditadura de Pinochet servindo de metáfora, assim como ocorre com os cenários magníficos e de liberdade plena, descortinados pelas montanhas de neve e gelo. O título tem um interessante duplo sentido, uma vez que a dançarina – que acaba formando o trio central, junto com os dois homens que saem da cadeia – se chama Victoria, maravilhosamente  interpretada pela atriz Miranda Bodenhofer. Críticas ferrenhas à parte, o filme não é uma obra-prima, mas tem muitos e relevantes significados e símbolos que facilmente passam despercebidos e que serviriam de saborosa temática para muitas horas de debates.  8,5

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O ÚLTIMO PISTOLEIRO (THE SHOOTIST)

Dirigido pelo excelente Don Siegel, este western produzido em 1976 nos EUA tem um significado especial e bastante emocional: o ator John Wayne vivia na vida real o mesmo drama que o seu personagem, o pistoleiro em fim de carreira enfrentando um tumor. E em muitas cenas, de fato, a gente sente que o desconforto do personagem é o do próprio ator; aliás, alguns diálogos foram incluídos por esse fato. E esse mito do cinema, ídolo do faroeste americano (entre outros gêneros), viria a morrer do câncer de estômago – após anos antes ter tido câncer de pulmão – três anos depois, sendo esse seu último filme. Dizem que John Wayne se preocupava tanto com a imagem que dele tinham os americanos, fãs de cinema, que fez o diretor alterar o roteiro, retirando uma cena em que o protagonista atira em um adversário pelas costas, ato no seu entender de grande covardia  e que nunca havia praticado nos seus mais de 250 filmes. Além de John, também estão no filme grandes atores como a excelente Lauren Bacall,  James Stewart, Richard Boone e John Carradine, entre outros. Merece também destaque a história do filme, que se passa no início do século XX, em um tipo de fronteira temporal entre o Oeste dos foras-da-lei e da barbárie (o Velho Oeste, ainda com seus resquícios) e o Oeste da modernização, da mudança dos costumes rumo à civilidade. De ruim no filme mesmo só o “sangue”, muito mal feito, parecendo uma tinta grotesca manchando as roupas após as feridas com tiros. 8,5

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HANAMI – CEREJEIRAS EM FLOR

Este é um filme para nos fazer pensar na vida (2008). Fala da morte (inclusive apresentando a dança das sobras, de comunicação com a morte, a “batô”), mas nele é a vida que brota a cada instante. Porque feito com lirismo e leveza. E tem algumas surpresas.  A partir da primeira cena, por exemplo, criamos uma expectativa e pouco tempo depois somos surpreendidos. Em um filme repleto de boas lições…como a de nos lembrar que é muito triste a frase “agora já é tarde demais”, que o crescimento e a separação da família podem transformar as relações e fazer com que os pais acabem invadindo sem querer o espaço dos filhos, que o remorso é muito ruim…O filme destaca a efemeridade da vida (há inclusive uma bonita analogia com a vida curta das moscas), enaltecendo o provérbio de se viver cada dia como se fosse o último, mas não no sentido de se aproveitar tudo o que está ao alcance, mas sim no de se ter prazer até nas pequenas coisas, aprofundar as relações e conhecer de verdade as pessoas que nos cercam, dizendo a elas o que verdadeiramente sentimos. Nos solidarizar com elas. Sobre o título deste filme dirigido pela alemã Doris Dörrie com sensibilidade e competência, a cerejeira é de origem oriental e era associada à vida breve do samurai, como a existência de sua flor, que por esse motivo deve ser admirada intensamente, inclusive pela sua poética beleza. Além do ótimo roteiro, a fotografia é excelente, muito valorizada pelas cores e por algumas maravilhosas paisagens japonesas (o Monte Fuji é apresentado com sua exuberância e também em gravuras do mestre japonês Hakusai – aliás, a simbologia oriental é bastante utilizada na história). Uma questão que surge: devemos sofrer em silêncio ao sabermos que a pessoa amada está desenganada?  Interessante notar também que o personagem estranhou ao ver as duas mulheres demonstrando carinho… ficou na defensiva quando viu os japoneses com o cartaz de “abraços grátis”… ficou meio reticente em se aproximar da estranha dançarina…Detalhes, mostrando o quanto é triste sermos esses seres com medo das relações, presos a preconceitos, vivendo na expectativa dos outros. Mas o foco a ser seguido é de esperança e otimismo:  de que o bom aprendizado da vida nos faça respeitar as diferenças, apreciar a beleza e apreender o que realmente importa, despindo-nos da vaidade e dos temores e preconceitos, frutos até da educação que tivemos…Por que termos medo de ser crianças, de ser ridículos…??? Afinal, todos não o são um pouco? As cerejeiras em flor são um espetáculo maravilhoso mas efêmero…..mas de sua magia não se consegue esquecer. 8,7

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BARRY LYNDON

A direção do filme, por Stanley Kubrick (que também o roteirizou e produziu), dispensa comentários, porque foi um dos maiores cineastas de todos os tempos (Spartacus, Lolita, Dr. Fantástico, 2001 uma odisseia no espaço, Laranja mecânica, O iluminado, De olhos bem fechados…). É um filme de época (século XVIII, rodado na Inglaterra) produção anglo-americana de 1975. Lento, mas para ser apreciado aos poucos pela história que conta, com uma trilha sonora adequada (estilo clássico) e com grande destaque em momentos importantes do enredo. Bela fotografia, cenários, figurino, o filme não teve o sucesso esperado, mas é tido como grande obra do direitor por figuras respeitáveis do mundo cinematográfico, como Martin Scorsese, que enaltece justamente seu ritmo lento, como revelador da profundidade dos personagens e da trama e fator que permite que o espectador vá bem captando emocionalmente cada momento. Algumas cenas do filme são notáveis realmente e um detalhe muito interessante é o uso apenas de velas nas cenas noturnas. Não é uma obra-prima, mas se mantém forte ainda hoje pelas suas qualidades, que são maiores do que seus poucos defeitos: um deles talvez a duração excessiva, o outro a atuação ruim de Marisa Berenson, na maior parte das cenas fria ou ausente. Ryan O´Neal está razoavelmente bem, mas apenas isso. Felizmente o restante do elenco é muito bom.  8,5

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O PLANETA PROIBIDO

Quem diria… Leslie Nielsen (falecido em 2010, com 84 anos), que acostumamos a ver como comediante nos filmes “Corra, que a polícia vem aí”, “Apertem os cintos que o piloto sumiu”, entre outros,  era galã na década de 50! Pelo menos neste filme de 1956. Mas essa não é a única surpresa. Embora com efeitos especiais e cenografia ainda obviamente precários (alguns risíveis hoje em dia), o filme se tornou um clássico da ficção científica pelo roteiro interessante, inteligente e porque foi precursor de diversos “inventos”/conceitos que acabaram se consolidando muito tempo depois, em filmes e séries de TV: o comunicador portátil, o teletransporte, o campo de força invisível, o robô – no caso chamado Robby, que ”Perdidos no espaço” imitou dez anos depois… Fora a trilha sonora eletrônica, o computador, os temas que invocam Freud e Shakespeare (assuntos que foram alvo na década de 60 na série Jornada nas Estrelas) e a minissaia usada pela mocinha. E é um filme que ainda hoje em dia pode ser visto com certa curiosidade e prazer, o que demonstra a importância que teve na época em que foi lançado, há mais de 50 anos.  8,5

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NO LIMITE (THE EDGE)

Um filme de aventuras muito interessante, valorizado pelas locações (no Alasca, de neve, tundras e rios gelados), pelo elenco (Alec Baldwin, mas principalmente Anthony Hopkins, de fundo tendo a belíssima modelo australiana Elle Macpherson), pela tensão provocada por uma dúvida que perdura quase até o final do filme (será???), pelas diferenças existentes entre dois homens que são testados em seus limites e por uma fera caçadora de homens, que propicia grandes momentos de suspense e ação. A natureza ou o homem é mais selvagem??? Produzido em 1997, ainda hoje é uma boa diversão, forçando uma parceria inesperada pela necessidade da sobrevivência.  8,5

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PROMETHEUS

Para quem gosta do gênero ficção-científica, uma bela e majestosa obra e que inclusive permite filosofar bastante sobre o evolucionismo, o criacionismo e por aí adiante, até porque Prometeu (o nome da nave) foi um Titã que veio à Terra e fez da água e da argila o homem, para ser superior às outras espécies, dando-lhe todo o ensinamento e inclusive o fogo, com isso contrariando a vontade de Zeus. Para os fanáticos pelo gênero, um filmaço, um marco dos últimos anos no gênero e que não nos deixa tirar os olhos da tela. Os efeitos especiais e tecnológicos são de babar e realmente no cinema de hoje basta alguém conceber, que as empresas especializadas em efeitos realizam. Neste caso, realmente um prazer visual (tela grande, 3-D) e também sonoro. Mas o roteiro também é muito interessante, na velha história que se repete (e que teve um grande momento no final do filme Blade Runner, do mesmo diretor): quem somos, de onde viemos??? Ridley Scott repete aqui, com maior abrangência, muitos elementos de seu primeiro sucesso, Aliens, inclusive o mesmo tipo de ação e de perigos, acrescentando alguns elementos novos e fascinantes. Mas mesmo com muitas coisas já vistas (alguns cenários parecem repetitivos em relação aos filmes anteriores), o filme mantém o interesse, com muita ação e suspense. Charlize Theron faz um papel diferente dos que costuma fazer no cinema, mas não decepciona. Colocando o gênero da ficção de lado e analisando como obra, porém, o filme é agradável, embora recaia em alguns clichês irritantes do politicamente correto (o que é inevitável no cinemão americano), por exemplo o heroísmo do japonês e do negro, a coragem sem limites em nome de um ideal, o personagem que parece e pensa como ex-presidiário (tatuagens etc.), e isso em uma nave espacial…e a exemplo da primeira versão do Blade Runner, na minha opinião, o filme deveria ter acabado na penúltima cena. Mas é uma ótima diversão, sem dúvidas.  8,5

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O PRIMEIRO DIA DO RESTO DA TUA VIDA (LE PREMIER JOUR DU RESTE DU TA VIE)

Um drama de costumes francês, de 2008, com roteiro e direção de Rémi Bezonçon.  A “chamada” do filme, vê-se do cartaz,  é a frase “Esta família é a sua família” e isso define em parte o filme,  pois nos identificamos em muitos e muitos momentos. Quem não teve avô? Quem não sofreu uma perda? Quem não teve um remorso? Quem não brigou com os pais? O filme retrata momentos alegres e tristes, como vivemos todos, sem sobressaltos, sem grandes arroubos. Os grandes acontecimentos são o próprio cotidiano, as brigas, o primeiro amor, a perda da inocência, a independência, as decepções, os sonhos de infância, as relações de casal, maternais e paternais, o choque de se descobrir algo que não se sabia de um filho…a possibilidade de resgatar coisas que parecem perdidas…O crescimento, em todos os sentidos. O que impressiona nesse tipo de filme é como se consegue retratar tantos fatos em tão pouco tempo e com abordagem tão profunda e sensível: ali estão nossas esperanças, nossas expectativas, nossas frustrações, tudo, na verdade, constituindo o alimento e a beleza própria da vida,  finita que é. A mensagem final pode ser a esperança…a família como fator fundamental..pode ser também a impossibilidade de existir, afinal, algo diferente da solidão, diante da dor, do que nos é negado e do que é intangível…Cada um pode extrair a sua leitura, porque a vida é assim mesmo, inconstante, imprevisível –  diz alguém que a vida não é justa, mas mesmo assim é boa…-  e segue em frente…8,5

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TEMPO DE VALENTES (TIEMPO DE VALIENTES)

Um filme policial argentino, de 2005, que parece sério e o em parte do tempo, inclusive nas cenas de violência, mas que na verdade é uma comédia, embora com os momentos de humor muito bem dosados em relação ao realismo. Esse equilíbrio do roteiro, com a ótima direção e elenco fazem com que o filme seja um ótimo entretenimento. As cenas com a mulher do psicólogo, embora rápidas, são muito divertidas (mérito dela nesse caso) e a química entre os dois protagonistas é especial durante todo o filme (Diego Peretti – Quien dice que es fácil – e Luis Luque): o semblante sério e o comportamento do policial inclusive contrastam com a cara de comédia e tom de humor do psicólogo, ambos talentosos, o que só acrescenta sabor ao filme. Embora a partir de certo momento o filme fique comum, até com certos exageros, o produto final é sem dúvidas bastante apreciável. Diversão garantida e – bem sutilmente – o final do filme dá a sensação de que seu diretor Damián Szifrón é apreciador há muito do bom cinema, inclusive dos westerns. 8,5

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O LADO ESCURO DO CORAÇÃO (EL LADO OSCURO DEL CORAZON)

Este é um filme difícil de comentar (para adultos, ressalto). Acho até que a maioria das pessoas não vai gostar dele. Porque é um daqueles chamados “filme de arte”, com muita poesia recitada – de Mário Benedetti (convidado no filme), Olivério Girondo e Juan Gelman -, algum surrealismo, alegorias, andamento lento. É drama, romance, tem um pouco de humor, inclusive “negro”, mas eu gostei bastante. É de produção argentina- com o Canadá -, de 1992 e acho que não foi lançado no Brasil, embora o cinema argentino já tenha demonstrado há décadas sua excelente qualidade. História estranha, de um poeta/escritor boêmio e errante, que conversa com a morte (personificada)…mas, em clima de literatura e sensualidade, trata de seres humanos que buscam e se buscam, embora neguem o amor ou fujam dele. Exalta a arte, também a amizade. Mas é um filme eminentemente passional, inclusive na trilha sonora, recheada de boleros, trilhas de bandoneon e outras músicas interessantes…mas por mais estranha que seja a forma, competentemente escolhida pelo diretor Eliseo Subiela, o que encanta é todo o propósito filosófico, é o desvendar das almas, mesmo o clima permanente de perda, de vazio…tudo, afinal, é uma história de amor. Inteligente e sensível, sem dúvidas, e o elenco é excelente: Darío Grandinetti (que mais tarde faria Fale com ela do Almodóvar), Sandra Ballesteros (atriz famosa, do cinema e TV argentinos) e a consagrada diva argentina Nacha Guevara, entre outros. Diz o personagem e com isso segue sua busca: “Pouco me importa se as mulheres têm os seios como magnólias ou como figos secos; uma pele de pêssego ou de papel de lixa. Dou uma importância igual a zero ao fato de amanhecerem com um hálito afrodisíaco ou com um hálito inseticida. Sou perfeitamente capaz de suportar um nariz que tiraria o primeiro prêmio numa exposição de cenouras; mas isso sim! —e nisso sou irredutível— não lhes perdoo sob nenhum pretexto: que não saibam voar. Se não sabem voar, perdem seu tempo comigo”.   8,5

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QUE FAMÍLIA É ESSA? (THE JONESES)

Dirigido por Derrick Borte e estrelado por Demi Moore e David Duchovny (o Mulder de Arquivo X), este filme de 2009 foi premiado no Festival Internacional de Filmes de Toronto. Não é um filme para todos os gostos. Mas é um filme diferente e com uma ideia absolutamente original. Contar estraga a surpresa, mas o filme embora pareça no final adotar uma ideia conformista e piegas (ou de rendição), tem em seu desenrolar ótimos momentos e critica sem piedade, o “sonho americano”, a sociedade de consumo, representada aqui pelas classes abastadas (mesmo que aparentemente).  8,2

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CIÚME – O INFERNO DO AMOR POSSESSIVO (L ´ENFER)

Emmanuelle Béart, ótima e bela atriz e François Cluzet, em perfeita caracterização, fazem o casal que trilha a conhecida trajetória da alegria e juventude, casamento, filho, quando de repente se defrontam com um inimigo poderoso e milenar: o ciúme. O título deste filme de 1994 em francês é “L´enfer” e em inglês “Hell”, que significam o mesmo: “Inferno”. E esse deveria ser o título também em português, porque o filme mostra exatamente isso: com tintas bastantes reais, o horror de um relacionamento em que o ciúme se torna uma obsessão, uma paranoia. Com a habilidade do diretor e também roteirista Claude Chabrol, os fatos vão se sucedendo dramaticamente, sendo muitas vezes misturadas as cores reais com as imaginárias (no espectador há inclusive instantes de hesitação…). A degradação física e psicológica do casal nos choca e pode provocar a identificação daqueles que já foram reféns de sentimentos semelhantes. Mas nem por isso o impacto é menor. Ao término do filme, uma surpresa inteligente no lugar do habitual “The end”.  8,5