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SOFIA (ASSASSIN´S BULLET)

Este filme, de 2012, não tem nada de novo, ainda mais considerando o gênero, drama com espionagem. Mas é tão bem cuidado e tem um andamento tão interessante, que acaba encantando e despertando a curiosidade. Porque o ritmo é lento, longe de um thriller e as coisas vão sendo construídas sem pressa, com alguns mistérios a serem esclarecidos, como o da moça frente ao analista e com alguma ação e até romance. Christian Slater está muito bem e é sempre um prazer ver um ator veterano como Donald Sutherland, que tem expressões tão dúbias e ares de cínico, que ficamos em dúvida sobre seu caráter e de que lado está na trama. Outra virtude do filme é nos mostrar Sofia, capital da Bulgária e que é o nome do filme e da personagem, local onde se passa a ação. Um filme sem grandes novidades, mas muito enxuto e a que se assiste com muito prazer, inclusive até o seu desfecho.  7,8

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BATMAN, O CAVALEIRO DAS TREVAS RESSURGE

Aparentemente é o final da trilogia em que Christian Bale fez o papel do Homem Morcego,  com direção de Christopher Nolan. Mas isso não se sabe. É muito sucesso e muito dinheiro envolvido. O fato é que os filmes do Batman no cinema – na minha opinião, é claro – dão um baile nos demais de super-heróis. E este é um filme que continua a saga dos filmes “sombrios” desse herói/anti-herói das trevas…Não é genial como o segundo filme, nem o vilão é tão espetacular quanto o Coringa, mas Bane é um vilão de respeito… E mesmo assim é um filmaço de ação e a parte final do filme é realmente espetacular para os fãs do gênero. Uma característica especial da trilogia foi não apenas o personagem principal ter seu aprofundamento psicológico, mas muitos outros também: o Comissário Gordon (Gary Oldman, excelente), o mordomo Alfred (Michael Caine dispensa comentários), o assistente técnico Lucius Fox (Morgan Freeman, também dispensa apresentações), o policial (Joseph Gordon-Levitt, que será um futuro Robin???), Marion Cotillard (a Piaf, que se junta magistralmente a um elenco já estelar), até Liam Neeson aparece e a Mulher-gato, Selina Kyle, maravilhosamente interpretada pela bela Anne Hathaway. Um longa metragem de tirar o fôlego. Até nas cifras, porque fora a publicidade dizem que custou ¼ de milhão de dólares.   8,7

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UM DIVÃ PARA DOIS

Meryl Streep talvez seja a melhor atriz da história do cinema. Bastam algumas cenas para o espectador se certificar disso. Mesmo que o filme não seja tão bom, ela o torna bom. Mas este filme é bom e o partner de Meryl é um grande ator: Tommy Lee Jones. Além dos dois, também segura bem as pontas Steve Carell, desta vez em papel não-cômico. Mas esta é uma comédia-drama com um detalhe importante: não é apenas um filme para adultos, mas principalmente para adultos maduros e que são ou já foram casados ou tiveram relacionamentos estáveis. Porque aqui o tema são os relacionamentos e a rotina, as possibilidades de se recuperar um casamento aparentemente consumido pelo tédio. Nesse aspecto, o filme funciona até como uma terapia de casais. De qualquer sorte, divertido, não-apelativo e com uma boa mensagem séria.  8,0

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A ALEGRIA DE EMMA (EMMA´S GLÜCK)

Trata-se de um filme alemão de 2005, baseado no livro de Claudia Schreiber.  E como é bom ver um filme bem feito, que flui gostosamente, sem afrontar nossa inteligência, sem criar a sensação do inverossímil e nos fazendo contatar com sentimentos nobres. Um filme simples sobre as coisas simples da vida. Mas extremamente bem cuidado, com muita sensibilidade. Até a fotografia é repleta de luz. Direção ótima (Sven Taddicken), um par excelente de protagonistas, uma história que nos faz pensar sobre nossas vidas e que nos comove naturalmente, por sermos humanos também, como os personagens. Um filme sobre sentimentos, mas longe de ser piegas e que não deixa de lembrar que devemos conviver com fatos bons e também ruins – que não se sucedem, nem intercalam, mas ocorrem inesperadamente, cabendo a nós saber como enfrentá-los. E que o amor, que todos buscamos, pode estar simplesmente na entrega, na correta forma de olhar… Não é um romance, mas é um filme de amor. Jördis Triebel recebeu o prêmio de melhor atriz no Festival de Munique e Jürgen Vogel o de melhor ator no Bavarian Film Awards, ela, na minha opinião, fora de série.   8,8

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ENQUANTO VOCÊ DORME (MIENTRAS DUERMES)

Gostei bastante desse filme espanhol de suspense (drama psicológico?), feito em 2011 e com o grande ator Luis Tosar, que compõe com maestria um personagem difícil. Ele é porteiro de um edifício em Barcelona e contar mais é estragar as surpresas do filme, que são inúmeras e algumas acompanhando cenas de bastante impacto. Inclusive no final do filme. Esse ator é um dos principais do cinema espanhol e trabalhou em várias obras, entre os quais Segunda-feira ao sol e Pelos meus olhos, tendo sido indicado neste ano de 2012 ao Goya, que é o Oscar espanhol.  O diretor é Jaume Balagueró, especialista no gênero e que realiza aqui um grande trabalho, digno até de Hitchcock. Marta Etura faz a personagem por quem o psicótico tem obsessão. 8,6

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HEMINGWAY AND GELLHORN

Um filme americano de 2012 com certo cheiro de épico, dirigido por Philip Kaufman, o mesmo cineasta de A insustentável leveza do ser, Henry & June, Os eleitos, diversos da série Indiana Jones…Mas não é um épico por lhe faltar certa substância, determinada profundidade, embora tenha bons e fortes momentos, com texto consistente. É um drama histórico, romanceando a vida do escritor Ernest Hemingway  – interpretado pelo convincente Clive Owen – , mostrando-o como talento literário e ao mesmo tempo como polêmico e atormentado artista, sinônimo de masculinidade , um homem imprevisível e aventureiro, a ponto de se atirar de corpo e arma na guerra civil espanhola para combater o fascismo, de caçar um elefante ou de pescar um bicudo no alto mar azul. Centrado nesse personagem fascinante, o filme o insere em vários momentos importantes da história mundial, juntamente com uma das várias mulheres com quem se relacionou, a jornalista (correspondente de guerra) que dá nome ao filme, interpretada por Nicole Kidman – no início e no final da história muito bem caracterizada de “senhora” : na guerra civil espanhola, na segunda guerra mundial de Hitler, de Mussolini, na guerra Japão x China, mostrando as faces das batalhas, a miséria, a doença, os campos de concentração nazista, os vários horrores da guerra, enfim. Vamos acompanhando os personagens e vários eventos importantes na história da humanidade, inclusive em tons cinzentos para dar uma sensação mais realista às cenas, das quais muitas vezes os personagens parecem estar realmente participando. Uma biografia que envolve romance, história, ação e que, em suma, se trata de uma obra  bem realizada. O restante do elenco também é ótimo, inclusive contando com o brasileiro Rodrigo Santoro, que faz um papel importante em determinado segmento da narrativa. Quase no final, achei brilhante (e tocante nos seus múltiplos significados) a cena do pássaro preto bicando a janela, lembrando uma máquina de escrever e refletido no olhar da personagem.  8,4

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E AÍ, COMEU?

Mais um filme brasileiro de ótima qualidade. Produção de 2012, retrata em tom de comédia diversos dramas vividos por três amigos, colegas de bar, cada qual com seus problemas, cada um com seu temperamento. O filme é leve, não tem cenas fortes, mas a linguagem é chula e retrata a realidade do universo masculino. Mas com ótimo humor e grande propriedade. Em poucos minutos, os mais puritanos deixarão de se chocar com as palavras e passarão a apreciar e se divertir com as cenas, muito bem realizadas para retratar as desavenças dos casais e as peripécias da natureza humana, tendo efetivamente como “consultório psicológico” a mesa de bar. O filme escapa com sobras – e louros – do que poderia ser uma obra apelativa e sem conteúdo. Baseado em obra de Marcelo Rubens Paiva (também roteirista), conta com o talento de Marcos Palmeira, Bruno Mazzeo e Emilio Orciollo Netto, entre outros, com direção de Felipe Joffily. As mulheres são Dira Paes, Juliana Schalsh, Laura Neiva e Tainá Müller e até o “Seu Jorge participa, como garçom. 8,0

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PARAÍSOS ARTIFICIAIS

A começar pelo nome, trata-se de um filme bastante interessante e muito bem realizado. Sobre o mundo jovem, inclusive das raves, do som eletrônico e da realidade artificial (as drogas). Mais submundo do que mundo, em um coquetel de imagens psicodélicas e viagens. E cenas corajosas de sexo. Mas a qualidade técnica e artística do filme é indiscutível. Até surpreendente. O diretor Marcos Prado, em seu primeiro longa metragem (2012), faz aqui um belíssimo trabalho em todos os sentidos, criando um mundo de sons, cores e efeitos que combinam perfeitamente com os dramas da narrativa, que mistura cidades (até Amsterdã) e épocas. Mas o filme é forte e denso. Um peso permanente parece pender sobre tudo, embora sobressaia a mensagem de que somos realmente o produto das escolhas que fazemos e do que sentimos (palavras do personagem muitíssimo bem interpretado por Luca Bianchi). Trabalho de grande fôlego para públicos especiais. Nathália Dill também está bela e intensa em seu personagem de foco difuso. 8,2

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PARA ROMA, COM AMOR

Depois de homenagear por último Paris em “Meia-noite em Paris”, desta vez Woody Allen faz homenagem a Roma. E com encanto quase similar, mostrando com saborosa competência várias facetas da cidade, além dos costumes de seu povo, tudo por meio de uma história muito bem contada e com o gabarito técnico de sempre: trilha sonora, fotografia, montagem, cenários, elenco…Woody volta a atuar em um filme, mas, ao contrário de algumas obras do passado, desta vez o cineasta não apenas não deixa tudo caricato, como valoriza bastante a trama. O roteiro, aliás, ótimo, repleto de inteligência e também de humor ácido, com severas críticas sociais, tratando da efemeridade da fama, da futilidade da mídia, das infinitas possibilidades da paixão, da hipocrisia social, da vaidade humana, das belezas dos encontros, dos estereótipos humanos, enfim, um painel fascinante e que com ritmo certo vai desfilando com magia e leveza. Penélope Cruz e Judy Davis, atrizes costumeiras do diretor, maravilhosas (principalmente a primeira, no papel de uma prostituta), assim como todo o elenco (Alec Baldwin, Roberto Benigni…). Allen se mostra em ótima forma e o filme tem ótimas tiradas, entre as quais a de um diálogo do personagem que ele interpreta, um americano na Itália, vaidoso por ter sido chamado de “imbecille”, que ele acha que é um elogio e então pergunta o que significa…ao que a esposa replica: “significa aquele que está à frente do seu tempo”.  Muito bom também o personagem de Alec Baldwin, o non sense em torno de Roberto Benigni e os fatos em torno do cantor. Pelo que andei lendo, definitivamente não concordo com a maioria das críticas, que acharam o filme apenas regular, um filme menor do diretor: achei o filme muito bom.Em duas palavras, além de comédia e drama, o filme é simplesmente “uma delícia”. 8,8

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360

Filme de 2011 (produção Reino Unido, França e Áustria) dirigido pelo brasileiro Fernando Meirelles, cineasta premiado de “Cidade de Deus”, “O jardineiro fiel” e “Ensaio sobre a cegueira”. Aqui são várias histórias e vários dramas de personagens, com encontros e desencontros. Esse estilo não é original e oferece bastante risco por ser muito difícil manter o equilíbrio entre todos os fragmentos. E é o que ocorre em alguns momentos, onde se sente que alguns dramas são menos bem explorados que outros. Mas isso não é o que predomina no filme. No balanço final é um filme interessante e que pelas mensagens que passa deixa um saldo positivo. Dentro do universo cosmopolita que o filme mostra, extrai-se que sempre pode existir a chance do recomeço, que deve fazer parte do Homem a esperança, mas que a vida é curta e é duvidoso termos outra chance que não a de agir quando a oportunidade aparece, em busca de felicidade. Ou, nas palavras ditas no filme, atribuídas a um sábio: “se há uma bifurcação na estrada, pegue-a”. O filme mostra os “ruídos” de comunicação que amargam a civilização contemporânea e tem até certa dose de ação, embora seu foco sejam efetivamente os relacionamentos. Muito boa a história que Anthony Hopkins conta ao grupo, envolvendo a filha que gostaria de reencontrar, narrando o que um padre lhe disse ao ser perguntando sobre qual a reza mais curta que existe: “a reza mais curta que existe é f…se”. O elenco é muito bom, tendo também, entre outros, Jamel Deouze (de Amèlie Poulin), Rachel Weisz e Jude Law. Gostei da trilha sonora e achei o título do filme excelente.  7,8

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O BELO ANTONIO

Um drama italiano do início da década de 60, em preto e branco e bastante premiado, estrelado por Marcello Mastroianni (como sempre magnífico) e Cláudia Cardinale (na sua melhor forma), com direção de Mário Bolognini. O filme hoje em dia ainda é bom, mas deve ser avaliado principalmente pelo significado que teve na época. Realmente de grande impacto. Fotografia, direção etc. , tudo muito bem feito, com o roteiro nos trazendo algumas surpresas. No fim o que temos é também, emoldurada, uma bela crítica social e política da Itália. Mas a cena final é magnífica, a imagem se concentrando no reflexo, na lágrima escorrendo, e o amigo dizendo a Antonio que ele encontrara a redenção e poderia ser então como todos os demais…  8,6

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ANTES DO AMANHECER (AVANT L´AUBE)

O filme tem, em português, o mesmo nome de outro de 1995 com Ethan Hawke. Mas aqui é uma produção franco-luxemburguesa, de 2011, que se passa em um hotel situado no meio do frio e da neve, próximo a Andorra, envolvendo um mistério investigado pela polícia e que afeta a família dos donos do hotel, assim como o próprio negócio e os empregados, especialmente um deles, de passado criminoso, a quem o proprietário dedica singular e inusitado afeto. O desaparecimento de um hóspede precipita as investigações policiais, que se desenrolam lentamente, com a tensão aumentando à medida em que a polícia vai colhendo as evidências e provas. Muito boa produção, ótimos elenco e direção. A cena final é típica francesa: sutil, não-usual, mas inteligente e que define os fatos que se seguirão com uma única frase da investigadora.  8,4

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TRUTH ABOUT MEN

Mais um ótimo filme do cinema dinamarquês, um dos melhores cinemas da atualidade. Uma comédia/drama de 2010 centrada em um personagem que passa a se questionar existencialmente, notadamente a respeito de sua felicidade, dispondo-se a buscá-la a qualquer custo. Mas há dilemas…A felicidade existe realmente? A vida burguesa é a que, afinal, nos espera com a boca bem aberta? Humanos são eternos insatisfeitos? Embora com leveza, o filme nos leva a situações realistas e profundas do mundo adulto, dentro dos relacionamentos que vêm e que passam, que são idealizados, que parecem ser o que não são, despertando até mesmo sentimentos inesperados, como o de posse. Não há concessões e o final pode ser interpretado como uma crítica à acomodação ou como uma adaptação natural ao insuperável, no sentido de que na vida temos é que aprender a ser felizes.  8,6

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AMOR IMPOSSÍVEL (SALMON FISCHING IN THE YÊMEN)

Mais uma prova da incompetência e insensibilidade dos tradutores brasileiros, que são mestres em atribuir títulos ridículos aos filmes. “Amor impossível” é simplesmente bisonho ! Mas, por outro lado, uma prova a mais de que uma boa história – não precisa ser excepcional –  em mãos competentes faz um belo filme – embora críticas ferrenhas em sentido contrário, apegadas ao livro e aos clichês. Mas minha visão foi diferente. Este filme, por exemplo, em mãos erradas seria um perfeito fiasco. De fato, nada aqui que não tenha sido visto antes, embora os valores enfocados ajudem, sem dúvidas, a forjar um bom filme, pois são edificantes, ligados a amor, honra, amizade, lealdade, aceitação do que se é verdadeiramente, ao homem escapando dos limites de sua rotina em busca de projetos aparentemente irrealizáveis… E na direção sensível e sutil de Lasse Hallström, eis um filme com ares de drama e comédia, mas bonitas mensagens, onde predominam os sentimentos. O diretor de Minha vida de cachorro, Chocolate, Chegadas e Partidas, Amigos para sempre (aquele do cachorro Hachiko, com Richard Gere), entre outras obras, prova, por exemplo, serem desnecessárias cenas de sexo para se fazer um ótimo filme. Ainda mais contando com um elenco afinado (Kristin Scott Thomas, o ótimo Amr Waked como o Sheik…) e um par admirável de protagonistas, ao contrário do que dizem alguns críticos sonolentos e/ou mal-humorados… Ewan McGregor e Emily Blunt têm aqui uma perfeita sintonia, ele um fecundo ator (especializado em filmes “diferentes”), extremamente carismático e ela com igual carisma, classe e beleza, em ambos sobrando talento. Um filme britânico de 2011, com a política pincelando o roteiro mas também de interessante significado, muito agradável e que nos traz apenas emoções boas, só por isso já valendo a pena ser apreciado. 8,6

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LINCZ (O LINCHAMENTO)

Filme polonês de 2010 e que até parece um documentário, de tão reais as cenas e os personagens. Tanto, que é um drama policial, passado numa pequena aldeia polonesa, mas o assassino não é um estereótipo como costuma ocorrer. E o filme narra, no tempo presente e em flash backs misturados, os fatos, lentamente, mostrando a precariedade da polícia, discutindo os limites do olho por olho dente por dente e o que é a justiça, ao mostrar um sistema totalmente burocrático e amarrado, que trata pessoas boas com suspeitas e indignamente, quando quem realmente é mau tem o benefício de um procedimento judiciário moroso, mesmo para que ocorra uma simples prisão, dificultada também pela falta de aparelhamento policial. Velho, mas sempre interessante tema, ainda mais mediante um enfoque diferente do que estamos acostumados a ver (por se tratar de cinema europeu) e dizem que baseado em fatos reais (da região da Masúria). No final, o filme, pelo desfecho súbito, acaba testando inteligentemente a sede de sangue do próprio espectador. 8,3

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ATÉ A ETERNIDADE (LES PETITS MOUCHOIRS)

Filme francês de 2010, dirigido por Guilaume Canet e com grande e afinado elenco, incluindo Marion Cotillard (mulher do diretor) e François Cluzet. Necessária essa sintonia para o aprofundamento do lado psicológico dos personagens e que vai aos poucos aclarando as reticências e precipitando diversos “acertos de contas”.  O título em português, para variar, é péssimo. Em francês significa algo como “pequenas mentiras entre amigos”. Perfeito. O título em inglês também é bom: “pequenas mentiras brancas”. Segundo consta, um filme que levou multidões aos cinemas da França. Vai-se vendo o filme com prazer, enfocando um grupo de amigos que se reúne na casa de praia de um deles, a 600 Km de Paris, onde moram. Falta um do grupo, porém, mas todos resolvem manter a tradição do encontro. Entre cenas descontraídas, vão saindo das sombras os dilemas existenciais, os segredos nas relações e o que cada tenta esconder dos outros e até de si mesmo. Um filme efetivamente adulto, que lembra, entre outros de tema parecido, “O reencontro”. Por isso tudo vai indo bem, mas com aquela sensação de déjà vu…mas isso só até meia hora antes do seu final, porque dali em diante alguns fatos se precipitam e o filme passa a ser ótimo, excelente até. Em suma, o final vale o filme e a sensação da última meia hora é a que, afinal, perdura, como uma importante lição de vida.   8,6

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DÚVIDA (THE SUSPECT)

Um filme de 1945 em preto e branco com Charles Laughton, ao estilo Hichcock. Pessoalmente não gosto muito do ator, para galã não é nada convincente, mas pelo menos não compromete e o filme mantém o interesse até seu desate. Suspense bastante interessante, que cria um clima de permanente tensão a partir de certo instante o qual dura até o final. Um desfecho, aliás, bastante original e interessante, que deixa nas reticências a certeza da natureza humana.  8,4

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A VIDA DE UMA OUTRA MULHER (LA VIE D´UNE AUTRE)

Lançamento de 2012, um filme denso (embora com ares de comédia dramática), mas sensível, para se ir sentindo/saboreando os acontecimentos. Francês, portanto diferente do trivial, mais ainda com a visão feminina, da diretora Sylvie Testud.  Um acontecimento inesperado, insólito, vai precipitar todo o drama. Filme baseado em obra literária, não é algo de grande originalidade ou extraordinário, mas tem seu mérito justamente na simplicidade e na perfeição dos detalhes dramáticos dentro desse enfoque. Mas o grande destaque e que vale o filme é a atuação de Juliette Binoche. Ela é magnífica. Comovente, profunda, ilimitada. Vê-la atuar e mergulhar nos meandros da personagem é um prazer imenso e que dura além do tempo de projeção. 8,6

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IRMA LA DOUCE

Comédia romântica de 1963 (com aquele colorido forte típico dos anos 60, inclusive indicado para o Oscar), bem do estilo “sessão da tarde”, ingênua, mas com o requinte das dirigidas por Billy Wilder – no caso, adaptação de um musical, mas o filme não adotou esse formato. Como sempre, roteiro, elenco, ritmo, tudo afinado e há o mérito inclusive de o texto conseguir abordar de maneira leve a situação enfocada, porque se trata do mundo de cafetões e prostitutas parisienses, fazendo ponto na região de Les Halles, uma delas Shirley MacLayne (com seu inseparável cãozinho). O protagonista é vivido por Jack Lemon, mas também é essencial a participação do dono do bar Moustache (Lou Jacob), que cria inclusive um importante bordão (mas isso já é outra história…), que vai dar fecho ao filme, seguindo-se no final a uma cena non sense muito interessante.  A solução final para o impasse com a polícia também é muito bem bolada. Outra curiosidade, porém bem mais sutil: em alguns instantes, Jack Lemon (quando mais alegrinho…) lembra os trejeitos da personagem que interpretou quatro anos antes, na obra-prima de Wilder, Quanto mais quente melhor. Este filme ganhou em 1964 o Oscar pela trilha sonora, o Globo de Ouro pela melhor atriz e o WGA Award pelo melhor roteiro de comédia. Não é um filmaço, mas uma comédia agradável e divertida, pra desopilar… 8,2

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A DANÇARINA E O LADRÃO (EL BAILE DE LA VICTORIA)

Repito aqui comentário já feito sobre a excelência de Ricardo Darín, para mim um dos maiores atores do cinema atual (junto com Al Pacino, Gerard Depardieu, Daniel Auteuil, etc.) e o prazer que é vê-lo atuar. Aqui em um filme espanhol, de 2009,  rodado no Chile, roteiro adaptado, sem gênero definido, passando facilmente do drama para o romance ou para o policial, da tragédia para a comédia, mas que habilmente desliza por diversas situações e facetas, deixando o espectador sem saber qual será o rumo da história. Impressiona mesmo o ritmo e o domínio do diretor Fernando Trueba, bem como a poesia que faz com o cotidiano. Apesar de haver alguns pequenos “deslizes” e pontos fracos (clichês, na verdade), esses desaparecem diante do predomínio das qualidades da produção, as cores da amizade, da paixão, das fraquezas e virtudes do ser humano sempre em busca de seu destino e da superação e muitas vezes da dor, a poesia encontrando seu ápice em um palco do maior teatro chileno, em cena tocante e memorável. O filme, de personagens em busca da “voz perdida”, de bela fotografia e excelente trilha sonora, também é político, com a pós-ditadura de Pinochet servindo de metáfora, assim como ocorre com os cenários magníficos e de liberdade plena, descortinados pelas montanhas de neve e gelo. O título tem um interessante duplo sentido, uma vez que a dançarina – que acaba formando o trio central, junto com os dois homens que saem da cadeia – se chama Victoria, maravilhosamente  interpretada pela atriz Miranda Bodenhofer. Críticas ferrenhas à parte, o filme não é uma obra-prima, mas tem muitos e relevantes significados e símbolos que facilmente passam despercebidos e que serviriam de saborosa temática para muitas horas de debates.  8,5