Shortlink

MR. BROOKS (INSTINTO SECRETO)

Neste thriller psicológico Kevin Costner prova que com a maturidade deixou um pouco de lado a figura de galã e se tornou um bom ator. Aqui, ele compõe muito bem um difícil e original personagem, como o filme também é bastante original e imprevisível. A meu ver com um desfecho perfeito.  Junto com Kevin, William Hurt, Demi Moore e Marg Helgenberger (CSI) (entre outros), em papéis também diferentes do usual, em uma história muitíssimo interessante e que envolve, de certa forma, um viciado e seu universo incomum e complexo. Um filme que sai da rotina e que se destaca pelas diversas qualidades que possui, feito em 2007 e dirigido por Bruce A. Evans.  7,8

Shortlink

THE BARRENS

Não sou muito fã desses filmes do gênero suspense/terror, cujos ingredientes são padronizados: “família acampando”, “teens”, “lenda local de um monstro (no caso, o Demônio de Jersey), porque geralmente são mais do que previsíveis e já sabemos de antemão tudo que vai acontecer, inclusive até a ordem dos fatos, a exemplo da série “Sexta-feira 13”. Mas este filme de 2012 (rodado em Vancouver) tem alguns ingredientes interessantes que fogem aos clichês, embora não escape de muitos deles.  Aqui não se consegue prever exatamente o que vai acontecer, o andamento é lento, as coisas vão ocorrendo sem nenhuma pressa –  pairando sobre todos apenas a sombra da lenda contada à beira da fogueira -,  o que acentua o mistério, valorizado pela trilha sonora, pelos  movimentos de câmera, pela direção e pelas interpretações (do elenco, a mais conhecida é Mia Kirshner).  Talvez a ideia pudesse ser até mais bem aproveitada, mas o que filme apresenta já é mais do que suficiente para agradar os fãs do gênero e ser degustado mesmo por quem não o é. Inclusive é um filme desafiador para se ver sozinho, no escuro e de madrugada…alguém aceita esse desafio??? Roteirizado e dirigido por Darren Lynn Bousmann, diretor da série “Jogos mortais”, ainda não tem um título definitivo para os cinemas brasileiros (outubro/12).   7,6

Shortlink

SEM SAÍDA (NO WAY OUT)

Este é um filme dos tempos de galã de Kevin Costner (um ator mediano, na minha opinião), com o sempre ótimo Gene Hackman e a bela Sean Young (a morena de Blade Runner). Um thriller, envolvendo espionagem, Marinha dos EUA, altas patentes, assassinato, FBI, CIA, busca por um espião russo e a partir de um início bastante sensual resultando em cenas de ótimo ritmo e suspense. Não é nada extraordinário, mas é um filme  bem produzido e envolvente pelo mistério que encerra e pelos desdobramentos que vai apresentando ao longo da trama, muitos deles relacionados com o forte personagem de Will Patton (assistente do Secretário de Estado interpretado por Gene Hackman), a segunda melhor surpresa deste filme…Feito em 1987, ainda hoje guarda seus encantos.  7,8

Shortlink

A MORTE E A DONZELA

Este é um filme de produção anglo-americana-francesa, dirigido por Roman Polanski em 1994 e estrelado apenas por dois atores e uma atriz: ela, Sigourney Weaver, eles Ben Kingsley e Stuart Wilson. Foi baseado em peça teatral e é realmente típico de teatro, já que são raríssimas as cenas externas. É um filme denso, um thriller psicológico e que trata ficticiamente – diz o filme, mas certamente os fatos se aplicam a muitos casos  em regimes de exceção –  de tortura, torturados e torturadores em um certo país da América do Sul após a queda da ditadura (não mencionado explicitamente o nome do país, mas dedutível pelo nome Escobar, do personagem). No final do filme é de se pensar sobre os limites do ser humano, notadamente quando desempenha papel que a princípio não pertence à ordem natural. Chocante realmente o diálogo final. E a abertura e o desfecho do filme emolduram o título, o qual se refere a uma peça musical de Schubert, intimamente vinculada aos fatos horrendos do enredo.  7,7

 

Shortlink

W.E. – O ROMANCE DO SÉCULO

Quando escrevo sobre um filme, não leio antes qualquer crítica. Para não me influenciar e retratar o que senti do modo mais fiel possível. E antes de ver um filme, procuro saber o menos possível sobre ele, sobre detalhes do seu enredo, para poder me surpreender e senti-lo o mais que possa – por esse motivo, uso esse mesmo critério nos meus comentários. Quando assisto a um filme, geralmente só sei o básico sobre ele. E neste caso, realmente estou curioso para ler as críticas a respeito deste filme porque ele francamente me surpreendeu muito e a nota no IMDB (Internet Movie Data Base) foi apenas 5,3. Discordo dela veementemente e tiro meu chapéu para Madonna, que o produziu e dirigiu! Achei o filme ótimo. A história é a do Duque e da Duquesa de Windsor, ele, o Rei Eduardo VIII, renunciando ao trono da Inglaterra para assumir seu amor com uma plebeia, americana e casada. Só que o filme faz um paralelo bastante feliz com fatos contemporâneos (contrapondo Inglaterra e EUA) e as duas épocas vão sendo mostradas e se misturam de modos diversos e bastante estimulantes. O ritmo, crescente nas emoções, cria também uma sensualidade envolvente, nessa obra muito bem acabada e que se destaca também esteticamente, tratando-se de um filme extremamente bem cuidado em todos os seus elementos: figurino (indicado ao Oscar 2012), fotografia, direção de arte, produção, direção, elenco… e a trilha sonora é ao mesmo tempo bela e delicada (também concorreu ao Oscar  de Melhor Canção Original: “Masterpiece”). Cinema bem acima da média.  8,7

Shortlink

PEOPLE LIKE US

Elizabeth Banks não é uma atriz tão famosa, embora já tenha trabalhado em muitos filmes (O virgem de 40 anos, O homem aranha, W…). Mas eu a considero não só uma ótima atriz, como uma mulher muito bonita. E esses aspectos estão presentes ao longo de todo o filme, que também tem a bela Olívia Wilde (de House) e Michelle Pfeiffer, esta última, para o espanto dos fãs – que não perceberam que envelheceu um pouco -,  fazendo papel de mãe e quase avó…mas sempre atriz de respeitável currículo. O filme, americano, de 2012, também apresenta Chris Pine como protagonista e é dirigido por Alex Kurtzman. O clima é de drama, porém com tons de romance/comédia, o que faz com que algumas situações sejam menos intensas do que seriam se o foco fosse só a dramaticidade dos fatos. Isso nesse caso é bom, embora o filme não escape de alguns clichês comuns ao gênero. Ocorre que em meio a essas dezenas e dezenas de filmes parecidos, que tratam de sentimentos, relacionamentos familiares etc., alguns se destacam por alguns pontos ou algum detalhe que estimula nossa inteligência, que toca nossa sensibilidade. Escapam do lugar comum ou enfrentam o mesmo tipo de situação com maior classe ou desembaraço/competência. E esse filme, que flui de forma natural ao contar uma história um pouco fantasiosa, tem alguns momentos felizes ao tratar de seu tema. Pelo menos em muitos instantes atingiu a minha sensibilidade, sem agredir o meu bom gosto. E se não fosse isso, o desfecho realmente fornece uma solução admirável e emocionante (tirar lenços…) para um dilema que se mostrava de difícil solução. Certamente terá bom êxito nas bilheterias.  7,8

Shortlink

E DEUS CRIOU A MULHER

É…os homens sempre se sentiram atraídos pelas indomáveis. Ainda mais quando belas, têm ares de inocência e ao mesmo tempo aparentam permanente enfado e insatisfação com tudo e com todos. Elas os fazem de “gato e sapato”, mas mesmo assim todos a querem, porém ninguém a tem. Personagens como a que Brigitte Bardot faz neste filme não são novidade no cinema (a “vadia” para a aldeia, a “destruidora de homens” para todos, inclusive para os próprios homens). Mas temos que nos transportar para a época (1956) e entender que o mito BB foi habilmente construído não apenas pela sensualidade e despojamento –  neste caso,  além da natural nudez, o fascínio pelo espírito livre desafiando a moralidade -, mas por ser o foco praticamente  único de uma trama totalmente preparada para transformá-la em mito, apesar de, no fundo no fundo, tratar-se de um roteiro bem banal e novelesco. Mas tudo à feito à feição para destacar BB e torná-la a sex symbol da França e dali para o mundo: nesse sentido e no do contexto do filme, a famosa cena da dança diz tudo, em sua nada sutil simbologia. Cena que foi tida como extremamente ousada e a qual se segue um final de filme bem ao caráter de Nelson Rodrigues. Méritos da atriz e principalmente de Roger Vadim, o diretor , que a lançou e também fez o mesmo com os ícones Jane Fonda e Catherine Deneuve. No caso deste filme, além dos elementos acima citados, a locação em Saint- Tropez, o próprio título do filme (chamativo e um tiro na mosca para os propósitos mitificadores) e um bom elenco – incluindo o jovem Jean-Louis Trintignant, que se tornaria depois um dos grandes atores do cinema francês – contribuíram para o filme e o mito permanecerem, ela como um dos maiores símbolos sexuais do cinema. Graças a BB ter ido morar lá, alguns anos após a filmagem, Saint-Tropez se transformou de uma vila de pescadores em charmoso e concorrido balneário de veraneio. Outras curiosidades: houve época em que BB (a loira) e CC (Cláudia Cardinalli, a morena) geraram disputas entre os fãs, cada legião defendendo a sua como a mais bonita. E a condenação do filme pela Legião da Decência Americana acabou contribuindo em muito também para projetar internacionalmente o filme.  7,5

Shortlink

O MARIDO DA CABELEIREIRA (LE MARI DE LA COIFFEUSE)

Um filme francês de primeira, sensual, extremamente delicado, mas também algo estranho e imprevisível, dirigido por Patrice Leconte em 1990. Desenvolvido o filme a partir de um fetiche, mostrado de forma extremamente poética, o foco acaba se concentrando no casal, de uma forma lírica, até onírica, mas deixando latente uma quase imperceptível tensão quanto ao destino dos personagens, até porque a alegria de Mathilde também envolve uma misteriosa melancolia. Existirá a felicidade perfeita ?  Haverá como preservá-la, como eternizá-la? Jean Rochefort e Anna Galiena protagonizam esse filme, que é na verdade uma pequena e esquecida joia do cinema francês,  fazendo do aparentemente banal uma dança de mágicas cores e sabores. 8,5

Shortlink

A MALVADA (ALL ABOUT EVE)

Que saudade dos tempos de filmes com roteiro… Esse filme de 1950 foi roteirizado e dirigido por um dos expoentes da época, Joseph L. Mankiewicz, e apresenta um interessante e muito bem realizado estudo sobre o mundo da  ambição e da competição no teatro (incluindo a imprensa), com ótimos diálogos e personagens. É estrelado por Bette Davis, Anne Baxter. George Sanders e tem até uma passagem rápida de Marilyn Monroe, que já causava polêmicas: a esposa de Sanders, Zsa-Zsa Gabor, invadiu a filmagem por ciúmes do marido.  O filme ganhou vários Oscar: melhor filme, ator coadjuvante (Sanders), diretor, roteiro adaptado, som e figurino. Foi indicado, porém, a outros Oscar, o que bem demonstra sua qualidade: atriz (ambas as protagonistas indicadas), atriz coadjuvante (também duas coadjuvantes indicadas: Celest Holm e Thelma Ritter), direção de arte, fotografia, edição e trilha sonora, em um total recordede 14 indicações(junto com Titanic). A música é de Alfred Newman, famoso autor de trilhas cinematográficas.  8,5

 

Shortlink

UM BONDE CHAMADO DESEJO

Não é um filme do qual todos vão gostar e nem para qualquer ocasião. Porque é pesado dramaticamente, forte, difícil, impactante. Como o são os textos do mais famoso dramaturgo americano do século XX, Tennessee Williams. E esses textos são um desafio para os atores que os interpretam. Aqui, neste filme de 1951 dirigido por Elia Kazam, brilham principalmente Marlon Brando – em seu segundo filme –  e Vivien Leigh, em duas atuações memoráveis na história cinematográfica. Por injustiça, Marlon não ganhou o Oscar.  O título em inglês é A streetcar named desire e em português “Uma rua chamada pecado”, o qual não é tão ruim, mas retira toda a sutileza do título original, que é inclusive o da obra de Tennessee. No teatro, foi a peça interpretada pelo mesmo elenco, com exceção de Vivien Leigh, que entrou no lugar de Jessica Tandy. Foi indicado a 11 Oscar em 1952 e ganhou 4: melhor atriz (Vivien), melhor atriz coadjuvante (Kim Hunter), melhor ator coadjuvante (Karl Malden) e direção de arte (Richard Day). Marlon Brando perdeu o Oscar para Humphrey Bogart (Uma aventura na África) e o filme perdeu o prêmio para Uma sinfonia em Paris. Mesmo assim é uma obra absolutamente marcante e o personagem magnificamente bem interpretado por Viven Leigh (a eterna Scarlet OHara de E o vento levou) para mim é um dos mais profundos e ao mesmo tempo tristes do cinema (uma alma em calvário, atormentada pela realidade e presa das ilusões). Muito importante é saber que em razão do famigerado Código Hays (que regulou a moral dos filmes no cinema americano por quase 40 anos a partir de 1930), o roteiro da peça de Williams teve que ser alterado em algumas cenas e em alguns de seus pontos essenciais, sob pena de não poder ser adaptado e o filme exibido. A Legião da Decência, criada por católicos fanáticos em 1933, inclusive ameaçou embargar o filme, classificando-o como “condenado” (status C), caso closes não fossem cortados, cenas extirpadas, outras modificadas…até a trilha sonora, tida como muito carnal, foi substituída…Mesmo assim, há cenas que provocaram grande choque na época, o filme foi tido como audacioso (inclusive o personagem de Marlon, mostrando o corpo e uma “força da natureza” inovadores) e a trilha sonora destacou-se pela evidente sensualidade. Para a época um grande impacto. Hoje, ainda se sente claramente a sua força e a influência de Marlon nas gerações que se seguiram.  8,7

Shortlink

CONTRA O TEMPO (SOURCE CODE)

Jack Gyllenhaal estrela este filme de ficção científica (2011) que une um roteiro muito bom, original, com efeitos especiais melhores ainda e se constitui em ótimo entretenimento, um thriller de ação e suspense, com uma parte final espetacular, embora sujeita a discussões. De todo modo, universo paralelo e física quântica são temas realmente notáveis.  Vera Farmiga (bonita) e Michelle Monaghan (muito bonita) coestrelam. Os primeiros minutos do filme inclusive são realmente interessantíssimos pelo mistério que trazem e que nos instigam profundamente a tentar desvendar o que está acontecendo. Surpresas e suspense que permanecem até o final, pois o curso da história mantém o interesse e isso já é um mérito indiscutível.  8,5

Shortlink

CELA 211 (CELDA 211)

Cinema de primeiríssima qualidade. Dirigido por Daniel Monzón, este filme espanhol de 2009 é estrelado pelo consagrado – e camaleão – ator Luis Tosar (anterior ao já comentado Mientras Duermes, igualmente protagonizado por ele) e tem consistente – e muito convincente ! – atuação de todo elenco, notadamente de Alberto Ammann, que faz um papel essencial na trama. Se as coisas fossem simplificadas, seria um filme sobre rebelião em presídio. Mas é muito mais que isso, graças ao roteiro, à produção, ao elenco e à direção. Tenso, impactante, violento, emocionante, repleto de situações-limite, faz com que não desgrudemos os olhos da tela. Não é à toa que ganhou 8 prêmios Goya em 2010 (o Oscar do cinema espanhol): melhor filme, diretor, ator, ator revelação, atriz coadjuvante, roteiro adaptado, montagem e som. Adrenalina com muito talento e competência.  8,7

Shortlink

VERÃO DE 42 (HOUVE UMA VEZ UM VERÃO)

Este é um filme simples, de baixo orçamento… mas simplesmente maravilhoso. Respira delicadeza, lirismo, magia. Para mim, inesquecível. Talvez seu encanto atinja especialmente os homens e notadamente os que têm mais de 50 anos, porque o enfoque se dá sob a perspectiva masculina e da adolescência dos anos 50, cujos costumes certamente vão parecer até meio bizarros para os jovens de hoje…Mas está tudo ali e a identificação para os homens que nasceram naqueles anos é plena e o filme mergulha com rara sensibilidade no universo masculino dos 15 anos, da puberdade em plenos anos 40/50: a insegurança e expectativa dos primeiros contatos íntimos, os dilemas, incluindo o da compra do primeiro preservativo na farmácia (uma das várias cenas marcantes), o prazer-dever da conquista masculina, o desencanto com os amigos que parecem insensíveis ao amor…o primeiro amor…Hermie, interpretado por Gary Grimes, sintetiza todos os adolescentes do mundo ao vivenciar sua primeira paixão. E ele, junto com a música magnífica de Michel Legrand (elemento essencial e já clássica – Oscar de trilha sonora) e com a beleza de Jennifer O´Neill (que a fotografia valoriza com aura de deusa) formam um conjunto avassalador: Jennifer, por sinal e por acidente, nasceu no Rio de Janeiro e tinha 23 anos quando fez o filme. Há diversos, inúmeros, momentos deliciosos e antológicos, como o dos adolescentes lendo o livro proibido, as cenas de Hermie tentando se mostrar maduro perante a mulher mais velha…e a sua expressão facial, dentro do cinema e ao lado da garota, tendo ao fundo um filme de Bette Davis (A estranha passageira), é impagável. Dirigido por Robert Mulligan, em 1971, foi roteirizado por Herman (e não Hermie…!) Raucher, que comentou tempos depois do lançamento que os fatos realmente ocorreram com ele e que, após as primeiras exibições e a publicação do livro, recebeu carta da verdadeira Dorothy…E nos momentos finais, na casa de Dorothy, o filme reserva cenas para guardar na memória, como um tesouro de sensibilidade. Momentos doces, tristes, pungentes… E seu fechamento, coerente com a abertura, mantém o poema que é, com a narrativa do Hermie já adulto sobre os fatos que aconteceram naquele verão: No verão de 42 atacamos a Guarda Costeira quatro vezes, assistimos a cinco filmes e houve nove dias de chuva. Benjie quebrou seu relógio, Oscy desistiu da gaita e eu, de um modo muito especial, perdi Hermie para sempre… Para mim, uma obra definitiva sobre a adolescência daqueles anos, o primeiro amor e a perda da inocência (o chamado rito de passagem).  10,0

Shortlink

O TURISTA ACIDENTAL

No começo o filme (1988) não anima muito, parecendo não oferecer nenhuma novidade, inclusive no que diz respeito ao seu personagem principal, sujeito que parece permanentemente deprimido, escritor de guias de viagem para executivos que prefeririam ficar em casa. Claro que ele tem um forte motivo para a depressão, que é o mesmo que afeta o seu casamento…Mas o roteiro é bom, evolui naturalmente, cresce e se firma, quando já estamos envolvidos com pleno interesse no destino dos personagens – a princípio imprevisível. Nesse instante, sente-se perfeitamente o que é se estar diante de um filme bem dirigido (Lawrence Kasdan) e com um elenco extremamente afinado e competente (William Hurt, Geena Davis e Kathleen Turner – atriz por quem todos éramos apaixonados). Aliás, sete anos antes, esse mesmo cineasta já havia dirigido a dupla William-Kathleen no sensual drama de suspense Corpos ardentes  (Hurt também trabalhou em O reencontro, outro belo filme do diretor). A sintonia continuou intacta. E a mão firme de Kasdan prossegue, aprofundando as questões importantes e desaguando em um final com bonita cena e, como o restante do filme,  pontificado pela trilha sonora de muito bom gosto. Como diz o protagonista, talvez a questão não seja exatamente o quanto se ama alguém, mas no que a gente se torna quando esse alguém está conosco.  8,0

Shortlink

BOB & CAROL, TED & ALICE

Um filme antigo e que ainda hoje surpreende. Fica-se imaginando a sensação que causou quando foi lançado, em 1969, pois é uma crítica à moral da sociedade americana antes da chamada revolução sexual propriamente dita (da década de 70). E ainda hoje desperta muitas reflexões…até onde uma relação afetiva pode tolerar a verdade plena? A infidelidade banaliza o amor? A amizade impede a intimidade? A paixão é inimiga da total transparência? É possível um casal ser feliz no casamento vivendo com total liberdade sexual? Confessar a traição ameniza o fato ou a dor? Temáticas obviamente adultas, protagonizadas por dois casais –  um mais liberal, outro mais conservador -, formados pela lindíssima (pequeno frasco, perfume intenso) Nathalie Wood e Robert Culp e pela bela Dyan Cannon e Elliot Gould. Vale a pena ver o filme e analisar o quanto ainda tem de atual, embora seu início pareça até caricato nos dias de hoje.  7,5

Shortlink

INTOCÁVEIS

Filme francês de 2011 que bateu recordes de bilheteria na França. Apesar de ter uma dinâmica diferente dos filmes franceses usuais, alguns encontram explicação no sucesso do filme pela crise atual que vive a Europa, havendo um grande simbolismo na figura do milionário paralítico e do senegalês que dele cuida. Porque de certa forma o filme nada apresenta de novidade, só tem uma roupagem nova para clichês antigos, envolvendo amizade, superação etc. Mas mesmo assim é um filme delicado, poético, muito bem dirigido e com interpretações brilhantes de François Cluzet (muito parecido com Dustin Hoffman) e Omar Sy. Durante os créditos finais, por alguns segundos, aparecem os personagens da vida real. É um filme leve e que só muda um pouco esse tom quando trata das origens, da realidade fora do paraíso: não esquecer das origens é primordial, assim como dos contrastes e a mensagem pode ser a de que a solução seja a aproximação das diferenças para que se estabeleça, então, a troca legítima. Enaltecido pelo talento e a sintonia dos dois atores, há alguns diálogos e cenas saborosos, como a da dança, a da barba sendo feita (e moldada de modo sacana) aos poucos…Mas o roteiro de modo algum cai na pieguice, em razão da dignidade e da verdade que contém: com o paralítico, o negro pode ser ele mesmo, na essência de sua pureza, sem se contaminar com os problemas que sempre o afligiram e à sua raça e país; com o negro, o paralítico pode ser inteiramente livre e acreditar na natureza humana sem malícia e na afeição legítima que um ser humano pode ter pelo outro e no simples prazer de se desfrutar de uma boa companhia. Desse tipo de mensagem já vale a pena nos deixar contagiar. 8,0

Shortlink

CINCO ANOS DE NOIVADO (THE FIVE-YEAR ENGAGEMENT)

Este tipo de comédia, absolutamente comum, banal e previsível, normalmente não me agrada a ponto de figurar aqui neste blog. No entanto, achei tudo tão leve e divertido e tanta sintonia no par central, que dou a dica pra quem deseja ver um filme apenas pra se distrair e dar boas risadas. Com a participação do ótimo Rhys Ifans (quem não se lembra do Spike do filme Um lugar chamado Notting Hill ?), aqui em papel bem diferente, o filme, de 2012,  se segura bem na mão do diretor Nicholas Stoller (As viagens de Gulliver, As loucuras de Dick e Jane) e principalmente no talento do casal protagonista:  a sempre ótima Emily Blunt (O diabo veste prada, Os agentes do destino, A pesca do salmão no Iêmen…) e o cara de moço bom Jason Segel (Meu malvado favorito,  Professora sem classe, Ligeiramente grávidos…). Nada de novo, mas bem feito, o que já vale muito.  7,5

Shortlink

AGONIA DE AMOR (THE PARADINE CASE)

Quando se trata de filme de Alfred Hitchcock, o espectador já começa a ver a obra com respeito e também com grande expectativa. Respeito, pela qualidade do trabalho do cineasta, já reconhecida pela própria história do Cinema; e expectativa, porque certamente haverá um roteiro muito bom, interessante e com muito suspense e mistério. Além disso, sempre existe a curiosidade a respeito de em qual cena do filme Hitchcock irá aparecer, já que o cineasta teve como marca registrada aparecer rapidamente em todos os seus filmes, como um dos “figurantes”, em uma cena qualquer. E, além de tudo e do cuidado com a produção, fotografia etc., certamente o mago do suspense sempre foi criterioso em escolher seu elenco. Neste caso, o protagonista é Gregory Peck e o filme, de 1947, é um daqueles dramas que terminam com cenas de tribunal, especialidade do diretor (vide o excelente “Testemunha de acusação”) e que todo cinéfilo aprecia. Um texto inteligente, muitas vezes “ácido” e provocativo, mostrando relações pessoais surpreendentemente abertas e verdadeiras e deixando o espectador incerto sobre qual será o desfecho. Mas neste filme, além da resolução do mistério policial, o final é muito interessante sob o enfoque do casal , até mesmo emocionante pela nobreza  da cena com a esposa do advogado, interpretada por Ann Todd. Charles Laughton, como o juiz, mostra seu talento e o filme explora, maliciosamente (e até inesperadamente para a época) uma ou outra faceta de sua vida privada, travessura do mestre Hitchcock. Alida Valli também bela e ótima como a Mrs. Paradine. O título em português é, para variar, quase que ridículo, mas não retira do filme, felizmente, seu mérito incontestável, embora não seja considerado como uma das mais destacadas obras do diretor.  8,4

Shortlink

SOFIA (ASSASSIN´S BULLET)

Este filme, de 2012, não tem nada de novo, ainda mais considerando o gênero, drama com espionagem. Mas é tão bem cuidado e tem um andamento tão interessante, que acaba encantando e despertando a curiosidade. Porque o ritmo é lento, longe de um thriller e as coisas vão sendo construídas sem pressa, com alguns mistérios a serem esclarecidos, como o da moça frente ao analista e com alguma ação e até romance. Christian Slater está muito bem e é sempre um prazer ver um ator veterano como Donald Sutherland, que tem expressões tão dúbias e ares de cínico, que ficamos em dúvida sobre seu caráter e de que lado está na trama. Outra virtude do filme é nos mostrar Sofia, capital da Bulgária e que é o nome do filme e da personagem, local onde se passa a ação. Um filme sem grandes novidades, mas muito enxuto e a que se assiste com muito prazer, inclusive até o seu desfecho.  7,8

Shortlink

BATMAN, O CAVALEIRO DAS TREVAS RESSURGE

Aparentemente é o final da trilogia em que Christian Bale fez o papel do Homem Morcego,  com direção de Christopher Nolan. Mas isso não se sabe. É muito sucesso e muito dinheiro envolvido. O fato é que os filmes do Batman no cinema – na minha opinião, é claro – dão um baile nos demais de super-heróis. E este é um filme que continua a saga dos filmes “sombrios” desse herói/anti-herói das trevas…Não é genial como o segundo filme, nem o vilão é tão espetacular quanto o Coringa, mas Bane é um vilão de respeito… E mesmo assim é um filmaço de ação e a parte final do filme é realmente espetacular para os fãs do gênero. Uma característica especial da trilogia foi não apenas o personagem principal ter seu aprofundamento psicológico, mas muitos outros também: o Comissário Gordon (Gary Oldman, excelente), o mordomo Alfred (Michael Caine dispensa comentários), o assistente técnico Lucius Fox (Morgan Freeman, também dispensa apresentações), o policial (Joseph Gordon-Levitt, que será um futuro Robin???), Marion Cotillard (a Piaf, que se junta magistralmente a um elenco já estelar), até Liam Neeson aparece e a Mulher-gato, Selina Kyle, maravilhosamente interpretada pela bela Anne Hathaway. Um longa metragem de tirar o fôlego. Até nas cifras, porque fora a publicidade dizem que custou ¼ de milhão de dólares.   8,7