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SENHORAS E SENHORES, O CORTE FINAL (FINAL CUT)

senhoras-senhores-corte-finalVê-se alguém acordando em uma cena de um filme e em seguida, questão de segundos, aparece outro personagem também levantando pela manhã, mas em outro filme. E mais outro. E outro, em variadas épocas e contextos. O cineasta húngaro György Palfi não fez um filme propriamente, mas uma colagem (montagem) de diversos filmes, de toda a história do Cinema, independentemente de época, de ser a cores ou em p&b, mas surpreendentemente para contar uma história, cuja montagem certamente deu muito trabalho, estrelada na verdade por dezenas e dezenas de astros do cinema de todos os tempos, em recortes de cenas, cujos nomes aparecem na original apresentação (que também reverencia os diretores). Um trabalho de pesquisa, de fôlego, meticuloso, extraordinário, que, na verdade homenageia o próprio Cinema. São cenas rápidas, com variados temas (cenas de beijos, cenas de pessoas tomando um táxi, por exemplo…) conduzidas por uma trilha sonora composta por dezenas de músicas, mas cada uma servindo a diversos filmes com surpreendente coerência e cabimento até o final, onde a música triunfante de Titanic e após Love me tender culminam em um fecho também singular. 8,5

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WALT NOS BASTIDORES DE MARY POPPINS (SAVING MR. BANKS)

Mary PoppinsComeçando pelo único lado negativo: o título em português, talvez o mais ridículo de todos os tempos. De resto, achei tudo maravilhoso. Um filme (comédia/drama) extremamente delicado, na direção (John Lee Hancock – Um sonho possível), nas interpretações, na trilha sonora tocante e feita na medida (e que concorre ao Oscar), repleto de pequenas emoções (e às vezes grandes) e com um belíssimo roteiro. Conta a interessante história que envolveu os estúdios Disney, o filme Mary Poppins e a dificuldade de se obter o aval da escritora quanto aos direitos de filmagem/produção, dilema que durou muitos anos, mesmo com o próprio Walt Disney tendo-se envolvido pessoalmente no projeto. Para contar esses fatos, Emma Thompson está brilhante como a autora do livro e Tom Hanks excelente no papel de Disney, além do talento do restante do homogêneo elenco, composto, entre outros, por Paul Giamatti, Kathy Baker e Colin Farrell. Duas, entre várias cenas, marcantes: ela dançando e ela conversando com Disney. Durante os créditos finais, fotos das cenas reais. 9,0

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NYMPHOMANIAC – VOL 1

ninfomaniaca-poster-nacionalEste é um filme de arte, com cenas de sexo, inclusive pequena parte explícito. Quem não gostar do gênero e/ou do diretor, deve realmente passar longe. Ouvi comentários na saída do Cinema como “foi o pior filme que eu vi na minha vida… nojento”. Talvez grande parte do público também receba assim. Mas eu não me senti dessa maneira, até porque conheço alguma coisa da obra do polêmico diretor dinamarquês Lars Von Triers (Dogville, Anticristo, Melancolia), e nada é “comum“ ou “normal” nos filmes dele, que são estranhos, com um clima meio mórbido, porém sempre despertam curiosidade e sentimentos/sensações interessantes. Os filmes dele são sem dúvida originais, instigantes, ousados e ele sempre mantem determinadas características, como a de surpreender, ser sarcástico, desfilar algum eruditismo e fazer provocações, embora sem dúvidas se perceba claramente que tudo é proposital e que existe uma mensagem e um cuidado muito especial também com a forma. Gostei muito, por exemplo, de Melancolia. Mas ele é tão polêmico, que embora considerando o nome deste filme sugerir ser a primeira parte e haver um trailer ao final (nos créditos) do suposto “Volume 2”, fica a dúvida sobre se realmente haverá uma continuação. No caso, como parte de “ser polêmico”, o filme já começa com a tela do cinema escuro, sem nada acontecer, por diversos segundos…e, ainda, no meio, em uma cena séria e bastante dramática, de repente um susto no espectador, como acontece em filmes de suspense e terror…Mas só por nos obrigar a nos despir de moralismos, ficar atentos e pensar um pouco, esse cineasta já merece destaque pelo cinema inusitado que produz. Recursos cinematográficos, interessantes comparações envolvendo sexo, pescaria, matemática… Aqui, com a atriz que vem apresentando como preferida, Charlotte Gainsbourg, mais a excelente Stacy Martin, Stellan Skarsgard e participação especial de Uma Thurman e Christian Slater. Cenas chocantes, muito originais outras, perturbadoras várias: a cena da Senhora H com os filhos é extremamente incômoda (porque real…). Por fim, embora do cartaz conste a frase: “Esqueça o amor”, extrai-se do filme pensamento/filosofia exatamente em sentido contrário…7,7

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DUAS VIDAS

Two-LivesComo está na moda e referenciou grande parte dos filmes do Oscar, este filme é baseado em fatos reais. Na época da Segunda Guerra, quando os alemães invadiram a Noruega, muitas crianças nasceram do relacionamento com as norueguesas: as mães foram consideradas vadias pelos alemães, mas as crianças colocadas em creches – até para evitar os abortos – e levadas para a Alemanha. Este pungente drama noruguês de 2012 (co-produção alemã), na maior parte passado no litoral do Mar do Norte, costa oeste da Noruega (paisagem típica), narra com suspense a história da personagem que assumiu dupla identidade como espiã da Stasi (Alemanha Oriental ou RDA – República Democrática Alemã) e sepultou esse segredo após a guerra, quando adotou nova vida e constituiu família, com a identidade falsa. E o segredo ficou guardado muito tempo, mas de repente passou a correr grande risco vinte anos depois, quando após a derrubada do Muro de Berlim e final da Guerra Fria investigações se iniciaram e ex-agentes da RDA que haviam se infiltrado em famílias norueguesas acabaram sendo expostos (mas nem todos foram descobertos). Dirigido por Georg Maas, tem no elenco Juliane Koehler (ambos alemães) e Liv Ullmann (a consagrada atriz norueguesa e que por incrível que pareça nasceu no Japão). 8,0

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O LOBO DE WALL STREET

lobo wallFilme indicado a vários Oscars: Filme, Direção (Martin Scorsese), Ator (Leonardo Di Caprio), Ator Coadjuvante (Jonah Hill) e Roteiro Adaptado. Em primeiro lugar, é um filme indicado para maiores de 18 anos, pela temática e pelas cenas envolvendo sexo e drogas. Em segundo lugar, o filme mostra personagens absolutamente imorais, o que origina duas espécies de apreciação, antagônicas. Pode-se não gostar ou detestar o filme em razão disso (porque é imoral e chocante) e pode-se justamente apreciar seu valor por mostrar algo que nos abala de certa forma. Eu fico com a segunda corrente. Gostei muito do filme, que mostra de forma crua e em tom de comédia um mundo bem louco da high society e que teria sido efetivamente o de um corretor de ações real. A realidade do filme é contemporânea embora retrate fatos de década passada e achei a direção do Scorsese um show e da mesma forma a interpretação do Di Caprio. O defeito do filme, porém, é ter perdido a noção de tempo: a partir de certa parte, torna-se cansativo e, na minha opinião, se tivesse 30 ou 40 minutos a menos seria muito melhor e sem perdas, embora tenha um valor muito acima da média, inclusive pelo brilho da direção e da interpretação de Leo e elenco de apoio, valorizados pela excelente edição. 8,4

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ÚLTIMA VIAGEM A VEGAS (LAST VEGAS)

Last_Vegas-499096802-largeRobert De Niro é tido como um dos grandes atores do Cinema, aparecendo inicialmente em Taxi Driver e firmando-se em O franco atirador, entre outros (depois de uma época dá a impressão de querer apenas relaxar). Morgan Freeman é um dos atores mais ativos da atualidade, fazendo a média de seis filmes por ano, mas curiosamente apareceu em Dirigindo Miss Daisy quando já era cinquentão e dali se tornou um ator respeitado. Kevin Kline é um ótimo comediante, tendo se destacado em Um peixe chamado Wanda, Será que ele é, entre outros. E Michael Douglas, que no início era apenas filho da lenda (viva) Kirk Douglas, virou também um ator de respeito, ganhando inclusive o Oscar de Melhor Ator em Wall Street, poder e cobiça. Esse quarteto é o responsável pelo sucesso dessa comédia que celebra a amizade, tem momentos dramáticos mas sempre com o predomínio do tratamento da leveza e as costumeiras lições de moral ao final (claro, havendo um segredo importante do passado a ser administrado e a gerar conflitos e decisões interessantes), onde estão os melhores momentos do filme. Leve, comovente a seu modo, uma boa diversão, pra acompanhar a pipoca. 7,6

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A VOZ DE UMA GERAÇÃO (IN A WORLD)

lakePara começar, a protagonista é também a roteirista e diretora, a ótima Lake Bell. Depois, o filme é moderno, direção equilibrada, divertido e comovente na medida certa, uma lição de enfrentamento das coisas, tudo com leveza, mas dando importantes recados e com personalidade. Uma comédia americana de 2013 e que tem a temática bem diferente, enfocando o mundo das pessoas que trabalham com vocalização e principalmente colocando a voz (para dar emoção e grandeza) nos comerciais e trailers de filmes – um grande negócio hoje em dia e que naturalmente rende muito dinheiro, pois é assim que as pessoas são atraídas para assistir aos filmes, pelo trailer muito bem feito. Ganhou o prêmio de Melhor Roteiro no Festival de Sundance. Participações muito especiais de Eva Longoria e Geena Davis. 7,6

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ÁLBUM DE FAMÍLIA (AUGUST: OSANGE COUNTY)

august-osage-countyPor milagre o título em português é bastante adequado: trata-se de uma reunião de família no Condado de Osange, no Estado americano do Oklahoma. Mas não pacífica e espontânea, bem ao contrário, dramática e traumática. Uma “lavagem de roupa suja”, como se diz, não sendo o primeiro filme sobre o assunto. O Cinema já viu muitos deles. Mesmo assim, tem uma ou outra ideia original e principalmente um elenco no qual acaba residindo a sua força e vitalidade: Meryl Streep e Julia Roberts em excelente forma, ladeadas por Ewan McGregor, Chris Cooper, Juliette Lewis, Dermot Mulroney, Margo Martindale, Benedict Cumberbatch, Sam Shepard…Um drama pesado, repleto de conflitos e de marcas do passado a serem resolvidas ou expiadas…ou pelo menos enfrentadas. O diretor é John Wells, George Clooney co-produtor e Meryl e Julia receberam várias indicações nos mais variados eventos, inclusive ambas concorrendo ao Oscar de Melhor Atriz e Melhor Atriz Coadjuvante, respectivamente. O roteirista é Tracy Letts, que o adaptou de seu próprio livro, vencedor do Prêmio Pullitzer e do Tony. 7,6

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O GRANDE HERÓI (LONE SURVIVOR)

loneNão sou um grande apreciador desse gênero, o dos filmes “de ação”. Mas este filme ganhou o prêmio de Melhor Filme de Ação no Critic Choice Awards, que também premiou como melhor ator Mark Wahlberg, e isso me deixou curioso. E realmente: é um filme de ação muito acima da média, inclusive pelas impressionantes cenas de realismo. Os americanos treinam seus “soldados” para se sentirem superiores, invencíveis…mas apenas a realidade da batalha é capaz de  revelar os verdadeiros limites, inclusive de sobrevivência…ainda mais no terreno do inimigo (o Vietnã que o diga…). No caso, uma missão da elite da Marinha dos EUA (SEALs – o mesmo grupo que matou Osama Bin Laden) e fatos imprevisíveis que duramente testaram a capacidade adquirida em anos de treinamento físico e psicológico. Para quem gosta do gênero, imperdível; mesmo para quem não costuma gostar, um ótimo entretenimento. Ponto positivo aliado naturalmente à direção, montagem etc. – qualidades que têm de ser altas em filmes desse tipo -, é a trilha sonora, muitas vezes discreta porém perfeita, pontuando a ação com a tensão dramática adequada. Algumas cenas se destacam, inclusive uma que me lembrou Platoon, de grande e impactante beleza plástica: a morte em câmera lenta, tendo ao fundo as montanhas do Afganistão. O filme se baseou em fatos reais ocorridos em 2005 (na verdade em livro escrito por um dos marines)  e após o “The End” presta homenagem a todos os que participaram da Operação Asas Vermelhas – aí, constatamos a idiotice das guerras (embora o filme não questione isso), tanto que no total foram 19 baixas americanas. Do lado cinematográfico, também positivo o fato de que os atores procuram se assemelhar o mais possível com os personagens reais que representaram…Quando à parte final, da aldeia, no começo achei difícil de acreditar que as coisas se passaram como o filme mostra…entretanto, isso mudou quando li a explicação, que é trazida logo depois das homenagens acima citadas. Independentemente disso, nessa mesma parte final, senti uma falha do roteiro, porque a missão de resgate não poderia saber quantos soldados teria de levar de volta…e sabia (a explicação do bilhete não me convence muito). Em tempo: mais uma vez um ridículo título de filme em português ! 7,6

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A GRANDE BELEZA

A-Grande-BelezaBonitas imagens de cenas aparentemente desvinculadas iniciam o filme, que parece até um documentário, mas que ao final revelará uma majestade ao nível do letreiro de seu título, que no início aparece com destaque no horizonte. O excelente ator Toni Servillo faz o personagem central: um escritor sofisticado, charmoso e elegante, que participa ativamente das festas contemporâneas, onde observa o vazio da decadência dos costumes de uma geração sem perspectivas aparentes, na qual ele está inserido sem aparentemente ver uma saída, embora critique a futilidade à sua volta, conjeturando buscar algo que nem ele mesmo parece saber o que é. Este é um filme novo, criativo, inteligente, muito bem acabado em todos os sentidos (inclusive musicalmente) e visualmente belo. Mas não é para todos os gostos, talvez chocando, talvez desgostando parte do público. É dos chamados, legitimamente, um filme de arte e daqueles difíceis até de comentar, pela riqueza que apresenta, de significados. O personagem, um Mastroianni moderno (impossível não lembrar de Fellini por muita coisa no filme), é um escritor maduro e que mesmo com a segurança dos 65 anos se tornou prisioneiro da fauna social paradoxalmente rodeada pela Arte. Diz ele, em meio à mundanidade que sempre buscou e que agora o sufoca, com inteligente ironia: eu com 65 anos já não tenho mais tempo a perder com coisas que não quero fazer. O filme tem momentos visuais marcantes (as estátuas e os quadros revelando-se no passeio noturno, o voo dos flamingos, por exemplo…) e algumas cenas filosoficamente muito significativas, como a da festa onde se dá o embate entre uma arrogante convidada e Gep Gambardella (o personagem de Toni), que após deixar extremamente constrangida a interlocutora (por revelar implacavelmente sua intimidade, embora parecendo apenas divertir-se), finalizou assim o seu pensamento: Estamos todos à beira do desespero. Tudo o que podemos fazer é nos olhar no rosto, nos fazer companhia, contar uma piada às vezes... Produção italiana (co-francesa) de 2013, ganhou o Globo de Ouro e concorre ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, sendo o meu palpite para vencer, pois é uma obra muito original e com alcance universal.  9,0

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HER

her-spike-jonze-posterAlgo que seria surreal há alguns anos, agora parece quase possível no mundo da inteligência artificial. Mesmo assim, o tema deste filme no início soa bizarro, pura ficção científica…Aonde a tecnologia vai nos levar e que efeitos provocará nas relações interpessoais? Mas passada a estranheza inicial, o filme se torna maravilhoso. Quem continuar estranhando, vai achar até enfadonho, inverossímil, sem sentido etc. Mas quem o apreciar, vai se emocionar com seu texto, sua poesia, sua beleza, seu lirismo. O que é o amor? Qual sua essência? De onde deriva? Qual é o verdadeiro amor, o físico ou o imaterial? Um subsiste sem o outro? O que é solidão? É ampla a liberdade de amar? Qual a natureza dos sentimentos? Particularmente, senti falta do nome do Joaquin Phoenix nos indicados ao Oscar: o trabalho dele aqui é magnífico, muito melhor, por exemplo, do que o ator de “12 years a slave”. E para mim Joaquin continua sendo um grande injustiçado de Hollywood, porque no ano passado arrasou com “O mestre” e não ganhou (um papel muito mais difícil do que o do Lincoln). Mas questões interessantíssimas são abordadas neste filme com roteiro tão diferente e firme direção, ambos de Spike Jonze (Quero ser John Malkovich)…Pode-se amar mais de uma pessoa ao mesmo tempo? O ser humano necessita de exclusividade? O que fica de um amor? Quando o filme passa a discutir essas questões, então, torna-se simplesmente fascinante, principalmente pelo ineditismo de quem está interagindo. E em sua parte final, contempla o mistério e o futuro…No fundo é uma história de amor, de despedidas, da alegria e da dor da paixão, mostrando que o amor verdadeiro está em dimensão diferente do mundo físico. E nesse contexto é verdadeiramente impressionante o que o filme nos faz sentir, considerando quem são os que compartilham o amor, aí residindo seu grande e original mérito. Não é à toa que ganhou os prêmios de Melhor Roteiro no Globo de Ouro e também no Critics Choice Awards,o prêmio de Melhor Filme (junto com Gravidade) pela Associação dos Críticos de Los Angeles e foi indicado ao Oscar de Melhor Filme, Melhor Roteiro Original e Melhor Trilha Sonora. Amy Adams também está no filme (muito bem, claro), onde o que emociona mais é a voz de Scarlett Johansson como Samantha.  9,0

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SHORT TERM 12

Short-Term-12-Poster_smaller-copy1-518x738Mais um pequeno grande filme. Orçamento e produção modestos, mas toda a força concentrada no roteiro e na atuação de todo elenco (que torna reais os personagens), com um brilho muito especial de Brie Larson (excelente). Apesar do nome, essa atriz é americana, assim como a produção, embora pareça às vezes um filme europeu. Dirigido com muita sensibilidade, não é Cinema-diversão: é um drama forte, contundente, mas que com a leveza possível fala de coisas da vida real, de relações, de generosidade, de superação, de catarse… mas a mensagem que predomina no final é de otimismo. 8,0

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GRAVIDADE

Gravidade-posterImpressionante, magnífico, extasiante, tenso, eletrizante…! Muitos são os adjetivos cabíveis para este filme, que é um deslumbramento de imagens (algumas realmente inéditas do espaço) e efeitos especiais, tudo em harmonia com o som e a trilha sonora igualmente espetaculares e uma corajosa concepção estética e também de narrativa (alguns probleminhas na parte inicial do roteiro passam batidos pelo conjunto). E isso que não assisti ao filme em 3-D e nem no Imax  – embora o tenha visto com imagem e som excelentes; mas fiquei 95% do tempo angustiado e totalmente imerso nas emoções do drama/suspense/aventura (PS – acabei vendo o filme pela segunda vez, no IMAX, em 3D: uma experiência sensorial extraordinária !). A atuação de Sandra Bullock, uma agradável surpresa, com alguns momentos realmente marcantes (indicada para o Oscar de Melhor Atriz) e o diretor, co-roteirista, co-editor e co-produtor Alfonso Cuarón ganhou o Globo de Ouro como Melhor Diretor. Não sei se vai também ser oscarizado (o filme com certeza vai ganhar pelo menos alguns prêmios técnicos e talvez também trilha sonora), até porque ignoro a extensão do trabalho do diretor em um filme onde predominam os efeitos técnicos, mas o trabalho é realmente digno de nota e o filme certamente entra para a história do Cinema como algo absolutamente inovador, lembrando importante paradigma, que foi o inesquecível e eterno 2001 uma odisseia no espaço, que foi sutilmente homenageado em pelo menos uma cena (a da posição fetal, inclusive com “cordão umbilical”). 9,0

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DALLAS BUYERS CLUB

dallas-buyers-club-poster1-405x600Este é um filme forte, pesado, difícil, porque retrata a realidade da AIDS em seu início (época em que o mundo ficou chocado com a revelação de Rock Hudson), discutindo a política de saúde americana quanto ao uso do AZT e outras drogas, bem como no tocante à restrição de algumas que poderiam prolongar a vida de doentes tidos como terminais (tratamentos alternativos sem os mesmos efeitos colaterais). Difícil se dizer “gostei do filme” porque ele nos choca com seu tema e suas cenas, na medida em que mostra os problemas e também as dificuldades em torno deles, envolvendo as batalhas contra a indústria farmacêutica e a realidade de pessoas desesperadas mendigando uma chance de continuar vivendo. O filme é sobre a luta pela vida, pelos direitos humanos, sobre atos de coragem e a insanidade da política e da legislação (em muito por interesses políticos), enfocando especificamente uma situação ocorrida no Texas, baseado em fato real. Com a participação da doce Jennifer Garner, tem a presença marcante do galã Jared Leto (em papel inesperado), mas principalmente a atuação notável do agora seguramente um grande ator Matthew McConaughey, que interpreta de forma profunda, impressionante, comovente o maior papel de sua carreira – até porque o personagem em parte é o próprio anti-herói. Ele é o próprio filme e para fazer o personagem teve que emagrecer dezenas de quilos e se desnutrir. Não foi à toa que ganhou o Globo de Ouro 2014 de Melhor Ator (assim como Jared ganhou o de Melhor Ator Coadjuvante) e não vejo quem o assombre para receber em março o Oscar. 7,7

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TRAPAÇA (AMERICAN HUSTLE)

american-hustle-poster-2Algo que se destaca incontestavelmente neste filme de alta qualidade: seu elenco poderoso e equilibradíssimo. Todos estão ótimos, inclusive perfeitamente sintonizados com um roteiro complexo (outro grande destaque), embora meio prolixo no começo. Mas o filme é muito interessante, dinâmico e a partir de certo ponto cresce até o excelente fecho, inclusive com a inclusão da trilha musical dos anos 70/80 (Elton John, Bee Gees, Paul McCartney…). Ganhou recentemente o prêmio de Melhor Filme Comédia no Globo de Ouro, no qual também foram premiadas as talentosíssimas Amy Adams e Jennifer Lawrence (Melhor Atriz e Melhor Atriz Coadjuvante, respectivamente). Mas Christian Bale, Bradley Cooper (que de uns tempos pra cá virou um ator completo) estão também sensacionais. E tem Robert De Niro de passagem, sem cacoetes. O diretor e também roteirista é o competentíssimo David O`Russell, que faz tudo dar certo (tem o feeling necessário, conforme demonstrou nos filmes anteriores que dirigiu, principalmente O vencedor e O lado bom da vida) – e acho que deveria ter ganho o Globo de Ouro na direção e/ou roteiro. Pelo que consta o personagem de Christian Bale foi baseado em um trapaceiro real, contratado pelo FBI para ajudar em uma operação (final dos anos 70). Fortíssimo concorrente a muitos mais prêmios neste ano. 8,5

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PERFECT NUMBER (SUSPECT X – mangá japonês)

Perfect_Number-p3Um filme que me surpreendeu. Drama policial, com mistério, um thriller na verdade pelo clima permanente de suspense, tratando também de temas envolvendo o amor, a incomunicabilidade. O filme apresenta um duelo interessante entre um professor de matemática e um ex-colega, este agora um investigador de crimes e aquele desde a época de estudante um obcecado por uma famosa conjetura – o que explica o título do filme, o qual possui, entretanto, um sentido ainda mais amplo no contexto. Muito bem produzido, mas a surpresa maior não é só por isso, mas pelas atuações e também por se tratar de um filme sul coreano – falado inclusive nesse idioma – e dirigido por uma mulher, Eun-Jin Pang. Produzido em 2012, um filme interessante/intrigante do início ao fim. Na verdade, eu só não gostei realmente de uma das músicas – que infelizmente pontua momentos emocionais importantes do filme -, porque achei claramente plagiada do tema do filme Verão de 42. 8,3

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WADJDA

wadjda4 wadjda4Uma história simples (embora com muitas mensagens nas reticências), que penetra com ousadia e competência no universo dos costumes árabes, onde dominam o ensino religioso, as proibições ainda estranhas para nós (a esposa não pode sair de casa porque ficou sem o motorista, por exemplo), o universo masculino e onde, em meio a uma realidade mostrada de forma bastante ampla e não usual para nós – a vida social e pessoal da protagonista – , uma bicicleta se torna um essencial símbolo de libertação, pois é o sonho de consumo da personagem (excelente interpretação da menina Waade Mohammed, que faz aqui o seu primeiro filme), que, inconformada por ter que seguir todas as normas, não entende bem o porquê de não poder fazer tudo o que os meninos fazem, principalmente andar de bicicleta (ato, no caso, não recomendado para meninas, inclusive por atentar contra a honra). Filme indicado (surpreendentemente pelo tema que aborda) a concorrer ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro pela Arábia Saudita (2014), foi também a primeira vez que um filme saudita foi dirigido por uma mulher, no caso, com enorme talento: Haifaa Al-Mansour. Ao que parece não passou na seleção inicial do Oscar, mas mesmo assim é um filme bonito, diferente e que vale a visão.  7,5

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THE BROKEN CIRCLE BREAKDOWN (ALABAMA MONROE)

thebrokencircle3Geralmente eu não vejo filmes com essa temática (cheirando a chantagem sentimental). Mas este é especial, porque tem méritos que vão muito além da tristeza de muitos de seus momentos. Muito interessantes a oportuna narrativa quebrada,  assim como alguns assuntos: como a discussão entre a fé e a racionalidade, sobre a própria religião e Deus, a crítica à política americana no campo da saúde etc.. Uma produção belga-holandesa de 2012, rodada em Flanders e acima da média, principalmente considerando seu gênero (drama com música country/bluegrass, apresentando ótimas execuções, inclusive algumas bem tocantes). Por sua qualidade obviamente, foi o indicado pela Bélgica para concorrer ao Oscar 2014 de Melhor Filme Estrangeiro. No final das contas um filme bonito, extremamente bem feito (enxuto), com trilha sonora engajada e fundamental, direção de Felix Van Groeningen e interpretação soberba do par central: Veerle Baetens e Johan Heldenbergh. Drama forte e que reserva seus momentos mais intensos para a sua parte final, sendo memorável a última cena. 8,0

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À PROCURA DO AMOR (ENOUGH SAID)

enoughUma comédia romântica de costumes, algum drama, mas com destaque para o par central e a química extraordinária que acontece. Os dois são simplesmente ótimos e tornam esse filme americano de 2013 encantador: Julia Louis-Dreifus e James Gandolfini (o chefão da Família Soprano, com uma doçura proporcional ao seu tamanho) – em seu último trabalho cinematográfico -, coadjuvados por um excelente elenco de apoio, com destaque para Catherine Keener e Toni Collette. Dirigido com sensibilidade por Nicole Holofcener, é aquele água-com-acúcar que possui sabor bem acima da média, em razão do total equilíbrio dos seus elementos. 7,7

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RUSH – NO LIMITE DA EMOÇÃO

rush-movie-poster-8Este filme está sendo muito elogiado, contando a história da grande rivalidade que houve entre Niki Lauda e James Hunt na Fórmula 1, não apenas incluindo os duelos e disputas nas corridas, mas também mostrando a personalidade e a vida de cada um fora das pistas (James, invejado por ser um bom vivant, mulherengo, aproveitador da vida e Niki sério, compenetrado, conhecedor profundo de automóveis, conservador e de difícil convivência). Mas o filme deixa claro que um era admirador do outro, pelo desafio imposto reciprocamente. Quanto às corridas, o filme naturalmente mostra o acidente que foi impactante na vida de Lauda (que correu risco de morrer) e que quase o tira permanentemente das pistas, assim como os fatos precedentes, principalmente a famosa reunião de pilotos. A atuação dos atores tem sido elogiada e o diretor é o conhecido Ron Howard (Uma mente brilhante…). Achei um bom filme, mas não isso tudo que a mídia tem enaltecido: a mim faltou sentir alguma sincronia, profundidade e maiores e legítimas emoções. 7,0