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MISS MEADOWS

missUm filme daqueles que aparentam ser bem tolinhos e que a gente começa a ver e de repente acaba se prendendo. Porque a trama é estranha e inesperada, assim como a personagem interpretada por Katie Holmes. Bizarra até. Aliás, ela é o prato principal do filme. Um filme bobinho, sim, mas com alguns ingredientes interessantes e que mantêm nossa atenção até o final. Uma comédia, meio humor negro, um pouco drama…Leve, agradável, com tons delicados (como se fosse um conto infantil, como se a pureza pudesse sobreviver em meio ao mundo caótico…), outros inesperados, nada de muito novo, mas atraente, como a atriz que conquistou legiões de fãs em Dawson´s Creek e que é a única razão, na verdade, de um filme como esse acontecer.  7,5

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A TEORIA DE TUDO

teoriaO filme é bastante romantizado, mas parece preciso ao contar a história da vida do extraordinário físico Stephen Hawkin, antes e depois de ser acometido pela doença degenerativa (Lou Gehrig). Aliás, o próprio Stephen elogiou nas redes sociais, tanto o filme, quanto a notável interpretação do britânico Eddie Redmayne. E nesse ponto não temos como evitar os sentimentos ambíguos: de admiração pela notável inteligência e capacidade do estudante e do cientista e, ao mesmo tempo (e principalmente), de tristeza, por acompanhar a gradativa e severa limitação física que a doença lhe impôs. Inclusive de se comunicar. Mas aí vem a criatividade, que ao lado da generosidade e do amor, cria sempre mecanismos para servir a quem tem limitações: bem como a tecnologia, igualmente enaltecida no filme. Porém mais do que isso, o filme nos deixa em permanente estado de emoção, ao mostrar a superação de um doente que sempre teve preservada a luminosidade de sua mente genial, além da vontade de viver, o bom humor e surpreendentemente a capacidade de gerar filhos, fato que provocou interessante embora rápido sub-drama e posteriormente uma belíssima cena na inspirada parte final (e criativa) do filme, que deixa também evidente a fundamental importância da generosa e dedicada esposa, muito bem interpretada pela inglesa Felicity Jones (Paixão inocente…). O filme foi selecionado no Festival de Toronto de 2014.  8,0

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O PROTETOR (THE EQUALIZER)

The_Equalizer_El_protector-392015711-largeUm thriller policial que gira em torno de um submundo já bastante conhecido nos filmes do gênero. Aliás, um tema mais do que batido, desde os tempos de Charles Bronson (Desejo de Matar, I, II, III…). Ocorre que este tem ingredientes especiais: o modo de contar a história, sem pressa, com alguma densidade, torna o filme envolvente e além disso há um grande diferencial, que é Denzel Washington, aqui construindo mais um interessante (e misterioso) personagem. Com o carisma de sempre. E a atriz Chloë Grace Moretz também desempenha bem, mostrando sua versatilidade (Kick-Ass, Carrie, Se eu ficar…), embora surpreendentemente sua personagem acabe ficando como mera referência. A frase que abre o filme, de Mark Twain, sintetiza o enredo: os dois momentos principais da sua vida são quando você nasce e quando você descobre o porquê. E nesse ponto o filme vira o lugar-comum de sempre, mas a essa altura já estamos totalmente imersos na diversão.  7,8

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HÉRCULES

herculesNão confundir o filme com similares, inclusive recentes. Este é com Dwayne Johnson (na verdade The Rock, de O retorno da múmia…), ator que a meu ver não convence muito (exceto fisicamente), mas também não compromete e pelo que li é um profissional extremamente dedicado. Quando criança eu sempre fui fã dos filmes de Hércules (além dos de Maciste, Sansão, Sindbad…). Não perdia um e naquela época os efeitos eram pobres, mas a magia intensa. Hoje os efeitos especiais são um elemento a mais, embora às vezes sejam exagerados. De todo modo, continua sendo diversão pura, com todos os elementos de ação típicos desses épicos de fantasia, basicamente sem profundidade nos diálogos. Entretanto, este filme tem um diferencial que rompe com a tradição da lenda do herói: sua desmitificação, que certamente acrescenta à história um elemento original.  7,7

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CAÇADA MORTAL (A WALK AMONG THE TOMBSTONES)

cacada-mortal_t66519_1_jpg_290x478_upscale_q90Se apenas lida a sinopse, vamos achar que se trata de mais um daqueles filmes enlatados banais ou até lembrar de Busca implacável (este já de um nível melhor), pelas semelhanças de conteúdo – o investigador particular que já foi tira – e até mesmo pela presença de Liam Neeson. O título em português também não ajuda a formar uma imagem melhor. Entretanto, embora o filme tenha cacoetes do trivial, a forma o faz ser  diferenciado, privilegiando o suspense psicológico à ação e sendo muito bem sustentado, tanto pelo referido ator e seu carisma (que lembra o de veteranos, como Harrison Ford e Pierce Brosnan), como pela firme direção de Scott Franck (Minority Report, A intérprete, Marley & eu, Wolverine Imortal…) e pela ótima sintonia entre edição e trilha sonora, que mantêm permanentes a tensão e o suspense. O roteiro escapa muitas vezes do superficial e consegue inclusive ser sutil onde outros seriam explícitos, outra virtude a ser apreciada neste thriller policial acima da média . 7,8

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SHAME

shame2Primeiro a advertência: é um filme forte, ousado, estilo deprimente, exclusivamente para adultos (pela temática e pelas cenas), estilo “filme de arte”. Ou seja: polêmico, nem para todos os gostos, nem para todos os dias. Um homem perdido na solidão de seu vício e parecendo não ter saída, nem chance, nem tempo de redenção…a barreira inexpugnável dos sentimentos…Excelente composição de personagem pelo irlandês Michael Fassbender, impressionante em várias cenas, notadamente em uma das finais, em que expressa uma verdadeira máscara de dor, angústia, frustração e impotência. Igualmente excelente a direção do britânico Steve McQueen, o mesmo de 12 anos de escravidão (onde também atua Michael, claro, um dos seus atores favoritos). Um filme denso, que choca pelas entrelinhas, pelo silêncio, pelas tempestades interiores, mas que com isso alcança grande profundidade, graças ao conjunto formado pelo protagonista, pela direção e pela trilha sonora, hipnótico, claustrofóbico. Ótima interpretação também de Carey Muligan (Drive, Não me abandone jamais…).  8,5

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ONDE OS FRACOS NÃO TÊM VEZ (NO COUNTRY FOR OLD MEN)

onde osAinda há a vastidão e a aridez das paisagens. Ainda há xerifes. Ainda há conflitos humanos. Mas agora, em tempos diferentes do Velho Oeste, o agente da violência é o tráfico de drogas, responsável por muitos assassinatos. Em certa cena, inclusive, o personagem do sempre carismático Tommy Lee Jones, um melancólico xerife à beira de se aposentar, comenta que tudo está ficando perdido quando não se ouve mais os jovens dizerem o“senhor” e a “senhora”. E nessa transformação do contexto, em que a civilização parece perder cada vez mais seus valores, um personagem ganhou acentuado destaque e acabou sendo o responsável pela fama deste filme (certamente com várias outras virtudes, inclusive a direção dos Irmãos Joel e Ethan Coen): o interpretado pelo impressionante Javier Barden, que com sua arma de ar comprimido e seus olhos sem qualquer vestígio de humanidade corporificou um dos mais aterrorizantes  vilões que o Cinema já viu. Foi dele, por esse marcante papel, o Oscar 2008 de Melhor Ator. Também atuam no filme Josh Brolin e Woody Harrelson, entre outros. Um filme diferente, lento, mas com cenas fortes, mostrando que o ser humano nem sempre realizará os seus ideias de Justiça e nunca conseguirá eliminar os pecados da ambição e da violência…e seu passado e as dores e vazios que ficarão, mesmo que latentes ou como cicatrizes, como mostra a importante cena final, que encerra subitamente o filme, mas que por isso merece ter toda a atenção. Ganhou o Oscar 2008 nas categorias de Filme, Diretor, Roteiro Adaptado e Ator Coadjuvante. Ganhou o Globo de Ouro de Roteiro e Ator Coadjuvante, fora as diversas indicações nos dois Prêmios.  8,7

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GHOST DOG (THE WAY OF THE SAMURAI)

ghost_dogUm filme diferente e imprevisível, gostoso de se ver inclusive por ser embalado a rap e reggae. Apresenta alguns momentos cômicos relacionados com o envelhecimento dos mafiosos (que são mostrados como já na terceira idade, entediados e fãs dos desenhos na TV…), mas na verdade é um drama envolvendo um matador de aluguel e uma “família” de gangsteres. Mas o filme tem outros subtextos, falando de literatura, de comunicação –ou não –  entre as pessoas etc. O personagem é bastante interessante, construído com o talento de Forest Whitaker, sendo um dos membros do bando interpretado pelo velho conhecido Henry Silva, ator veterano e com participação em mais de 100 filmes e séries. O título se refere à filosofia de vida do protagonista (que cria pombos-correio inclusive), sendo a obra permeada com textos de filosofia oriental. Produção de 1999 (EUA, França, Alemanha, Japão), que tem sua estranheza (como todos dirigidos por Jim Jarmursch), mas também a sua poesia. 7,9

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BROKEN CITY

la-trama-broken-city-posters-3Um roteiro ágil, embora rotineiro (a mesma e velha fórmula de muitos filmes policiais americanos), mas um ritmo excelente, ótimo suspense, com pontos interessantes envolvendo a disputa da eleição municipal de NY, com violência, corrupção, chantagem etc. Pode-se definir assim: um daqueles “enlatados” da TV, porém com um pouco mais de sofisticação (e que por isso vale como diversão), inclusive na direção e no elenco estelar: Marc Wahlberg, Russel Crowe, Catherine Zeta-Jones.  7,6

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INTERESTELAR

interstellar-posterMais uma ousadia de Christopher Nolan, diretor de Memento, A origem e da trilogia Batman. Com técnica impecável, o filme é uma extraordinária experiência sensorial (imagens, som e trilha sonora) misturada com momentos de intenso suspense e emoção (está em jogo a sobrevivência humana e paralelamente a isso as relações de família sempre comandarão os passos e os pensamentos do homem). Uma aventura mostrando o homem como responsável pela destruição, mas também pela reconstrução…Talvez haja alguns exageros e inconsistências, mas o fato é que o roteiro envereda por complexos caminhos de espaço e tempo e da física quântica e gravitacional, não sendo fácil entender o que se vê, como também não foi fácil conceber. Na realidade, parte do que acontece só se consegue intuir/imaginar como possível, até porque a própria ciência admite hipóteses, mas não chegou a conclusões práticas sobre muitas delas. São conjeturas, embora algumas realmente fabulosas. E consistentes, porque baseadas no pensamento científico do físico Kip Thorne, que inclusive prestou assistência durante toda a filmagem e que, segundo o site Adoro Cinema, descreveu o filme como “baseado em um deformado espaço-tempo – os eventos mais exóticos do universo de repente tornam-se acessíveis para os seres humanos”. Pela frase já se tem uma ideia da complexidade da concepção do filme, que é difícil até de se comentar pelas sensações que nos assaltam durante a exibição e depois que termina. Algo emocionante, mas difícil de identificar racionalmente, nostálgico, que exalta nossa necessidade de entender, de buscar, mas também nossa pequenez e até frustração diante da vastidão do desconhecido. O ótimo Matthew McConaughey comanda também um elenco estelar: John Lithgow, Michael Caine, Jessica Chastain, Anne Hathaway, entre outros, desta produção anglo americana de 2014 e que tem cheiro de Oscars. Como diria Spock: fascinante!  9,5

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GRANDES ESPERANÇAS

Great_ExpectationsFilme americano de 1998, com Gwyneth Paltrow, Ethan Hawke, Anne Bancroft, Chris Cooper, Robert De Niro, dirigido por Alfonso Cuarón (que em 2013 faria Gravidade). Não sei se essa é a melhor versão das várias que houve para a renomada obra literária de Charles Dickens. É um bom filme, com momentos inclusive ótimos, emocionantes. Mas não consegui evitar, em diversas cenas, o pensamento sobre como deve ser bom o livro. Porque há situações no filme que são mal resolvidas ou apressadas demais, prejudicando um pouco a coerência e até mesmo as emoções. Mas nada tão grave. No conjunto, é um filme muito bem produzido e que se encarrega de contar uma interessante história, onde existem diversos elementos de aventura, suspense, romance, embora o pano de fundo trate de vingança, de prisão (nos mais diversos sentidos, principalmente no figurado: incluindo o poder da mulher), de libertação, de redenção…Desconfio que a cena final, até meio enigmática pelo passado dos personagens, não corresponda à da obra de Dickens, que naturalmente se passou em outra época inclusive com outros valores: o livro foi o último da vida do escritor e publicado na época (século XIX) sob a forma de folhetins. Em tempo para os fãs: não me lembro de filme em que Gwyteh esteja mais bela.  8,0

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O FÍSICO

imageEste filme caberia muito bem em uma sessão da tarde, sendo adequado a toda a família e tendo inclusive pretensões históricas. Em uma boa sessão da tarde, porque é acima da média e bem prazeroso de se ver, apesar dos clichês. Ação, drama, aventura, romance…, produção americana (co-germânica) de 2013/2014, baseada no famoso livro de Noah Gordon. Bem interessante a história, de um rapaz idealista, curioso, que deseja aprender a medicina e não o charlatanismo que já praticava com seu mestre (o sueco Stellan Skarsgard, de Ninphomania). Quer crescer na vida e ajudar os outros o jovem “barbeiro” com um dom especial (o lado sobrenatural do filme). E isso em plena Idade Média (século 11), época da peste negra, da ignorância, de um mundo que começava a ser mapeado, de conhecimentos que começavam a se expandir e formar um arcabouço científico (inclusive pelo acervo de livros), para se opor ao curandeirismo da época. Através do jovem, uma história dos primórdios da própria Medicina (pelo menos assim pretende o filme…), mostrando o Oriente como sua fonte maior (a Pérsia, que abrigava árabes e judeus), apesar de a ciência naquela época enfrentar poderosos adversários: a ignorância e a própria religião! Era proibido, por exemplo, estudar as entranhas de um corpo, mesmo de um cadáver… O jovem ator Tom Payne (II) é carismático, como obviamente também o é o veterano Ben Kingsley. Há, como dito, muitos lugares comuns (principalmente na parte final) e inconsistências, mas predomina a agradável diversão. O título do filme se refere ao termo que era usado na época para definir os que curavam as pessoas.  7,7

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UMA VIAGEM EXTRAORDINÁRIA ( L’EXTRAVAGANT VOYAGE DU JEUNE ET PRODIGIEUX T.S SPIVET)

the-young-and-prodigious-spivet_t58410_2_jpg_290x478_upscale_q90Jean-Pierre Jeunet é genial. O diretor francês que mistura fantasia e realidade (o fantástico com o cotidiano), depois do fabuloso Amelie Poulin não fez muitos filmes, mas agora (no caso, em 2013) se reencontrou com seu estilo surreal, por sinal único. A um roteiro absolutamente original e criativo (como a forma também o é e muito!), acrescente-se ritmo, produção perfeita, cenários lindos, cores extremamente vivas e o imprevisível e teremos uma obra que singulariza esse diretor. Aqui, a temática não é adulta como em Amèlie, mas o filme nem por isso deixa de guardar igual atração – até porque o mundo adulto também é abordado, inclusive criticamente – e se destaca também o talentoso protagonista de dez anos, interpretado por Kyle Catlett. De mais conhecidos, participam do filme Helena Bonhan Carter e Judy Davis. Uma delícia para os sentidos nos deixarmos levar pelo encantamento das ideias e das imagens. Fotografia de cartão postal, como anotou o crítico Mario Mendes (VEJA), que muito bem definiu o trabalho do diretor, atribuindo para o filme anterior o que também aqui se aplica: “subjugou plateias com seu colorido de pirulito e sentimentos de algodão-doce”!  9,0

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WISH I WAS HERE

wishComédia (predominantemente dramática) americana de 2014, dirigida e interpretada por Zach Braff, com Kate Hudson (ótima atriz, tanto no drama, como na comédia) e Mandy Patinkin (fazendo o personagem Saul, mesmo nome do que faz em Homeland), entre outros. Ainda não tem título em português. É uma daquelas comédias americanas que tratam de famílias e seus problemas, rupturas mal resolvidas, reflexos da educação dos pais, enfim, nada de novo, inclusive sendo expressiva a participação das crianças (os filhos). Mas, como é um filme muito bem feito, com direção e interpretações seguras e que diverte e emociona, acaba se situando acima da média dentro do gênero e valendo uma menção. Não que seja boba e superficial. Mesmo que isso soe pretensioso sob certo enfoque, tem o objetivo de passar algumas mensagens bonitas e em parte o realiza.  7,5

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BOYHOOD – DA INFÂNCIA À JUVENTUDE

Boyhood_filmCinema tem muito de momento. Podemos ver um filme sob diversas condições e com diferentes estados de espírito, de modo que em cada ocasião o aproveitamento provavelmente será um, específico. Por esse motivo, quando sinto que não assisto a um filme (de qualidade) com toda a minha sensibilidade, atenção e concentração, vejo novamente. É o caso desta obra, certamente a mais perfeita da carreira do diretor Richard Linklater (Antes da meia noite… prêmio de Melhor Direção no Festival de Berlim 2014). Na verdade, além de se tratar de um enfoque extremamente original, existe uma curiosidade que torna este filme único: o diretor passou 12 anos filmando a história (de 2002 a 2014, em cada ano reunia a equipe e rodava algumas cenas em poucos dias – portanto, o menino e o adolescente são o mesmo ator Ellar Coltrane!). A par desses méritos, é um filme que pode chegar de forma diferente e com importância também diferenciada para cada espectador, talvez conforme sua idade, talvez de acordo com suas experiências ou sua visão do mundo: mas atingiu em cheio a minha sensibilidade e aqui refaço a resenha feita há cerca de um mês, quando vi o filme pela primeira vez, apesar de ter naquela ocasião atribuído a ele a ótima nota 8,7. Com Ethan Hawke e Patricia Arquette, o filme é a própria vida passando. Impressionante o realismo das cenas, dos diálogos, a naturalidade dos fatos, mesmo os mais impactantes, produzindo em nós uma identificação imediata, envolvendo conflitos de diversas épocas e diferentes gerações. Todo o elenco e a direção são impecáveis. A trilha sonora, uma viagem deliciosa. Parece que vemos vários filmes em um. Paixões, perdas, ritos de passagem, as inquietações da infância, da juventude, da própria fase adulta, como se não tivesse fim a procura pelo amadurecimento. A constatação da efemeridade das coisas (até mesmo a “síndrome do ninho vazio” – fato natural e por isso tão doloroso quanto belo), o aprendizado de que família não é a satisfação do modelo social e sim uma questão de união, respeito e atitude. Constatamos, afinal, que a vida é bela e, como o amor, tem amplas possibilidades e na própria juventude, com momentos de lirismo, de delírio, mas também de hesitação, reside a grande esperança do mundo de amanhã. E após o filme, ainda por um bom tempo, ficamos com a sensação de estar diante de uma obra rara.  9,5

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THE DARK VALLEY (DAS FINSTERE TAL)

dark valleyO gênero, embora o filme não se passe no Velho Oeste americano, é faroeste, mesmo a história ocorrendo nos alpes gelados da Europa. Época em que nos EUA ainda havia índios, mas começava a aparecer a tecnologia do século XIX para o século XX, no caso a arte da fotografia. Mas o homem ainda era selvagem. Bárbaro. A história é recheada de suspense, valorizado pela paisagem das montanhas alemãs, pela lentidão da própria época (a violência está sempre por um fio…) e pela trilha sonora. Na verdade, o filme não tem muitas novidades, apenas contando a mesma história com uma nova e impactante roupagem. Fácil lembrar de Django e dos filmes de Clint Eastwood, achando que o filme é datado, apesar das cenas densas e fortes. Mas pela forma e pelo clima, acho que vale a pena ver, inclusive pela perenidade do tema e do gênero. Uma bela produção, na verdade e é muito interessante também a parte dos créditos finais: parece que voltamos no tempo e estamos diante dos personagens daquela época. Direção do austríaco Andreas Prochaska, estrelando Sam Riley, é uma co-produção Alemanha e Austria, 2014.  7,7

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UM BELO DOMINGO (A BEAU DIMANCHE)

um belo domingoSou fã do cinema francês. É diferente. Nos costumes, no comportamento, na visão das coisas e do mundo, na forma de mostrar a relativa importância das coisas materiais. Este não é um filme para muitos. É lento, tem um personagem estranho e enigmático, a história não apresenta nada de muito grandioso, mas no final haverá, sim, um significado real e importante. Mas é preciso se gostar do gênero: que fala sobre solidão, rompimentos, buscas e sobre o desapego já referido. Toda a procura parecerá, afinal, reduzir-se a uma simplicidade quase imperceptível e inviável. Para que se chegue a isso, porém, muitas feridas são necessárias, embora na última cena a música deliciosa (Be my baby no original) dê o tom do que parece ser o resgate do melhor caminho. Com a bela Louise Bourgoin, Pierre Rochefort e a veterana e ótima Dominique Sanda, este drama dirigido pela também experiente atriz Nicole Garcia pode ser incluído no gênero “filme de arte”, ou seja, para gostos especiais.  7,8

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RELATOS SELVAGENS

nt_14_relatos-salvajes-exterior1-360x514Esta é uma produção portenha-espanhola de 2014 (com um dedinho de Pedro Almodóvar), de excepcional qualidade. Um filme ácido, inteligente, com humor principalmente negro, que em seis episódios muito bem dosados em todos os sentidos, apresenta facetas do ser humano que de seu estado de equilíbrio é levado, por uma circunstância ou outra, a extremos, com atitudes irascíveis, de vingança, de ódio incontrolável (que em parte até compartilhamos), em um mosaico extraordinariamente sintetizado, já que cada tema poderia facilmente, por sua complexidade, render um longa metragem. É a selva urbana, é o homem virando fera de uma hora para a outra! Vemos nessas narrativas fatos do nosso próprio cotidiano e com isso nos identificamos e, chocados, nos questionamos a respeito de atitudes que podemos tomar e que por um triz podem precipitar consequências desastrosas. Apesar de ser meu favorito o último episódio (e em segundo lugar o dos dois motoristas na estrada) –  pelo tempero, além da imprevisibilidade comum a todos -, reconheço a qualidade de todos, do diretor, dos atores, fotografia, produção etc., e no capítulo mais prosaico (no sentido de identificação com nossa realidade burocrática), é um prazer renovado ver atuar esse magnífico ator Ricardo Darín, tão eficiente em papéis rebuscados, como, no caso, de cidadão comum, indignado com o desrespeito violento a seus direitos básicos. Pelas informações, o filme vai concorrer pela Argentina ao próximo Oscar de Filme Estrangeiro (eu já marcaria).  9,5

 

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O JUIZ

Filme-O-Juiz-Cinemas-2014-2O filme começa com um meio tom de comédia e seriedade, mas logo se define como drama, embora apresente alguns cacoetes de comédia, mais por conta da canastrice de Robert Downey Jr. (indomável para ele) e até de Billy Bob Thornton. Mas em poucas cenas, felizmente: foram alguns “tiques” apenas, pois no geral Robert aqui fez bem um papel difícil e Billy cumpriu o dever de casa, no fácil desempenho de promotor (nada de novo no front). Mas quem realmente cumpre com méritos a obrigação é o brilhante Robert Duvall, seguramente em um dos melhores papéis de sua carreira. Embora o personagem de Robert Downwy Jr. tenha que se desdobrar para encontrar o tom certo desse estudo profundo de relações familiares, o de Duvall aparece desde logo como uma força viva, inexpugnável, dando todas as nuances de um filme denso, difícil, mas de grande qualidade cinematográfica. Ele faz o filme, na minha opinião. Atuam também Vera Farmiga e Vincent D´Onofrio e o diretor é David Dobkin. Um drama onde tantos fatos acontecem e se entrelaçam – muitos ao mesmo tempo -, que por vezes parece se diluir e perder um pouco o foco e a força. Mas felizmente isso não ocorre a ponto de contaminar a linha principal da história e no geral acabamos tendo/vendo algo emocionante, rico e que nos faz viajar por inúmeros caminhos da própria vida, alguns belos e claros, outros tristes e sombrios. Muito interessantes o confronto “juiz” x “advogado” e as questões relacionadas com a ética. O filme foi selecionado para o Festival de Toronto 2014.  8,7

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X-MEN DIAS DE UM FUTURO ESQUECIDO

X-Men_Days_of_Future_PastUm filme que mantém e até mesmo eleva a qualidade da série (talvez quebrada por um ou outro antecessor). No caso, uma história instigante, que envolve a própria sobrevivência dos mutantes, ameaçada por criaturas (robôs) que podem ser destruídas, mas por uma sutileza do passado. E aí vem a famosa e enigmática pergunta: se pudéssemos voltar no tempo e mudássemos algum fato, mudaríamos também o futuro? Ou existe um mecanismo qualquer que impede que o futuro mude, independentemente do que pudermos fazer no passado? Questões interessantes, mas que ficam apenas nas entrelinhas porque o filme mantém o foco nos costumeiros e fascinantes personagens, com seus poderes específicos, tudo com muito charme e principalmente ritmo. Do meio para o final, inclusive, coisas fabulosas acontecem, por conta da fértil imaginação dos criadores. A parte final do filme é realmente marcante e mesmo empolgante principalmente para os fãs. Estrelando Hugh Jackman, James McAvoy (o Professor jovem), Michael Fassbender (o Magneto mais jovem), Jennifer Lawrence, Ellen Page, Halle Berry, Peter Dinklage, Ian McKellen e Patrick Stewart, entre outros, dirigidos por Bryan Singer, que voltou ao comando praticamente uma década depois dos primeiros X-Men. Rodado no Canadá, é uma produção anglo-americana de 2014.  8,2