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BIG EYES

big eyesBaseado em história real, um filme muito prazeroso de se ver, com linda fotografia, com a deliciosa e versátil Amy Adams e com o também camaleão e igualmente talentoso Christoph Waltz, ambos encantadores (cada um a seu modo e também em seu tempo dentro da história). Um filme diferente na carreira de Tim Burton, fugindo do seu cinema fantástico (Beetlejuice, Edward Mãos de Tesoura, A noiva cadáver…), mas com a competência de sempre! A época do filme (décadas de 50/60) valoriza a fotografia, os figurinos, os cenários, os costumes, excelente, como sempre, a reconstituição: os americanos são mestres nesse requisito. Mas o filme, que começa cândido, lembrando as inocentes comédias dos anos 50, tem inesperados desdobramentos… A trilha sonora, densa e sutil ao mesmo tempo, é também às vezes tensa, outras perturbadora, como o roteiro. A música, exótica, com o mesmo nome do filme e que concorre ao Oscar, arrepia dentro do contexto – embora lembre um pouco a do 007, com Adele -, sendo muito bem interpretada por Lana Del Rey. Achei que a história só se perde um pouco no final, por alguns fatos e algumas cenas inverossímeis, além de ter prolongado, sem motivo, algo de fácil e óbvia solução…mas por pouco tempo. E, de qualquer modo, o conjunto todo vale a pena, inclusive pela parte final emocionante. Durante os créditos finais apreciamos os personagens reais, sendo uma das fotos a de Amy Adams ao lado da artista verdadeira.  8,5

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BUSCA IMPLACÁVEL 3 (TAKEN 3)

filmes_5720_taken_3_movie_poster_1-246x344Já sabemos todo o roteiro de cor. Tudo o que vai acontecer. O final, os detalhes, as perseguições, a polícia sendo feita de boba e tudo o mais…Mas mesmo assim, esse tipo de filme sintoniza com uma emoção que está guardada dentro de nós. Desde crianças, desde a infância e para sempre. O ancestral sentimento do “mocinho x bandido”. Nossos heróis têm que vencer. Aí, é só adrenalina o que interessa. O ritmo do filme, o carisma de Liam Neeson (no caso, também de Forest Whitaker), é tudo um conjunto agradável de sensações e a ação do filme nos prende e embora o roteiro seja bobinho e previsível, o que predomina afinal é o sentimento geral de identificação com o gênero e com os detalhes, inclusive com as cenas de emoção (pai e filha, por exemplo). E comparando com os dois filmes anteriores da série, existem diferenças, inclusive de enfoque, porque aqui tem a participação do mestre Luc Besson. Nada a censurar, só a acrescentar. Com Maggie Grace (a filha) e a também bela Famke Janssen (a ex-esposa). E de resto, pipoca, guaraná e diversão sem compromisso, mas garantida.  7,6

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INTO THE WOODS

imto the woodsUma fábula musical, que na verdade é uma reunião de diversos contos de fada, ou melhor, de diversos personagens dos contos de fada conhecidos. E o conto de fada tem aquele encantamento de príncipes, bruxas e gigantes, lições de moral e de vida, que o filme por sinal retrata muito bem, sendo capitaneado por Meryl Streep, que mesmo no papel de bruxa vai concorrer ao Oscar, pra variar… (Melhor Atriz Coadjuvante). E tem Emily Blunt, sempre bonita e carismática. Mas aqui, quando pensamos que estamos diante do politicamente correto e teremos o “viveram felizes para sempre”, temos algumas surpresas. E são justamente elas, em conjunto com o elenco e a trilha sonora, que enriquecem o filme, no qual também se destaca o tratamento especial da imagem, que faz com que algumas cenas pareçam até animação.  O filme concorre também ao Oscar de Figurino Direção de Arte. E deixa, dentre outras, a mensagem: “Cuidado com as palavras ditas, as crianças as ouvirão….”. De todo modo, fábulas sempre têm conteúdo, comovem e alimentam de alguma forma nosso coração. 7,8

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O GRANDE HOTEL BUDAPESTE

o grandeO filme (anglo-alemão) é belíssimo. Em todos os sentidos. Talvez o filme mais original dos últimos tempos. A arte é impecável. Produção, direção de arte, figurino…A trilha sonora perfeita, como a direção e todo o elenco. É uma comédia, meio non sense, com humor negro e um roteiro cuidadosamente articulado para contar uma história repleta de referências e de conteúdo, envolvendo um concierge do hotel que dá nome ao filme. Cuida da História (percorrendo algumas décadas entre as duas Grandes Guerras) e ao mesmo tempo conta uma história interessantíssima, divertida e emocionante. O pastelão, as citações, tudo é proposital e inteligentemente disposto. Algo realmente inovador e que merecidamente concorre a 9 Oscar. Mas na minha opinião Ralph Fiennes também merecia ser indicado. Ganhou o Globo de Ouro como Melhor Filme Comédia ou Musical e concorre a 11 Bafta (o Oscar britânico). No Oscar, a Melhor Filme, Diretor (Wes Anderson, que costuma fazer filmes com esse estilo meio “fantástico” de fotografia, vide Moonrise Kingdom), Roteiro original, Fotografia, Edição, Design de Produção, Figurino, Maquiagem e cabelo e Trilha sonora. O elenco é tão impressionante como a estética do filme: além de Fiennes, temos Tony Revolori (ótimo!), Saoirse Ronan, F. Murray Abraham, Adrien Brody, Edward Norton, Tilda Swinton, Jude Law, Mathieu Amalric,  Harvey Keitel,  Bill Murray, Owen Wilson,  Jeff Goldblum, Tom Wilkinson, Willem Dafoe e outros. O diretor explicitamente homenageia Stephan Zweig, o famoso escritor austríaco que o inspirou (inclusive alguns personagens…) e que morreu em Petrópolis. Talvez uma das muitas felizes frases do filme e que o define seja: “a história de uma ruína encantada”.  9,2

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O JOGO DA IMITAÇÃO

imitationApesar de o filme se basear em obra literária, a qual registra um fato histórico muito importante, e ser bem produzido e interessante, eu não o indicaria a nenhum Oscar. Talvez só o de ator, porque Benedict Cumberbatch está muito bem no papel de Alan Turing. Mas o filme, embora desperte emoções e conte uma história supostamente real, não apresenta originalidade e existem outros muito melhores e que poderiam estar concorrendo ao prêmio maior do Cinema. A história se passa durante a Guerra de 39-45 e envolve a máquina Enigma, inventada para decodificar as mensagens criptografadas que os alemães passavam para todas as suas frentes. Nessas mensagens diárias (e alteradas cada dia) eram transmitidas estratégias de guerra, inclusive quanto aos bombardeios de navios, cidades etc. Razão da importância de ser a máquina decifrada. E de ser reunido um seleto grupo de gênios matemáticos para se desincumbir dessa missão. O filme se torna empolgante na medida em que a equipe parece se aproximar do resultado e cresce no final, embora muita coisa romanceada – e não poderia ser diferente, já que tem a presença de Keira Knightley. Na verdade, o mérito maior do filme é a sua dupla temática, relacionada com o próprio personagem e seu segredo. E seu desfecho causa emoção e também indignação, na medida em que narra o destino do personagem e a crueldade de uma época em que o preconceito era efervescente e impiedoso . 8,3

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BIRDMAN ou A INESPERADA VIRTUDE DA IGNORÂNCIA

Birdman-26set2014-posterO filme começa com o artista em seu camarim, levitando e escutando uma voz que só ele ouve. A sequência é rápida, como o ritmo de todo o filme, inclusive com câmeras manuais e recursos de textos se sobrepondo, às vezes de forma alucinante. Exatamente para apresentar um mundo neurótico, o do show business e de seus protagonistas. O mundo neurastênico e solitário dos atores! De cara um non sense, inclusive pelo fato de o personagem também mover objetos com a força mental – e o filme também fecha com outro son sense, dessa vez mais poético! Trata-se de um ator estigmatizado por um papel de super-herói que o fez famoso no Cinema – o homem-pássaro, que é a voz que escuta o tempo todo, como o seu id ou será o seu ego? – e que busca na Broadway dar algum sentido à carreira decadente (o medo de ser esquecido!). Esse ator é muitíssimo bem desempenhado por Michael Keaton, que finalmente demonstra o ótimo intérprete que é: o que está sendo inclusive reconhecido pelos vários prêmios que tem ganho, sendo também indicado ao Oscar. O filme, aliás, é o campeão de indicações do Oscar, com nove. Mas além de Keaton estão também muito bem Naomi Watts e Emma Stone e excelente Edward Norton. Este é um drama/comédia diferente e salpicado de humor…negro – inclusive fazendo referências irônicas a filmes e personalidades da vida real, à insanidade da mídia e das redes sociais, à insana busca da fama, aos “faniquitos” e vaidade dos atores, à importância da crítica teatral etc…! Diversos temas, em alta velocidade. O roteiro também é corajoso ao ironizar, por exemplo, alguns ícones, como Oprah, e Justin Bieber… O diretor, Alejandro González Iñarritu (21 gramas, Amores brutos…), forte concorrente ao Oscar 2015, é também o roteirista. O filme concorre com ótimas chances em diversas categorias e até o momento foi premiado em dois grandes eventos: Globo de Ouro e Critic´Choice Awards, recebendo prêmios de diretor, roteirista e ator. Trata-se de uma obra intensa, perturbadora (para pessoas conservadoras), inteligente e original – até na trilha sonora, com aquela percussão típica dos filmes do Seinfeld, o baterista sendo mostrado na calçada, em uma das poucas cenas externas. 8,9

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ACIMA DAS NUVENS (CLOUDS OF SILS MARIA )

sils mariaUm filme adulto, de diálogos e que faz alguns interessantes questionamentos. Sobre o verdadeiro papel da atriz. Sobre a relativa superioridade de uns filmes sobre outros filmes de psicologia tida como “barata”. Sobre o enfoque diverso que cada intérprete pode ter sobre um mesmo personagem. Porém o mais importante é a passagem do tempo e nossa visão sobre esse fato (inclusive o aspecto de “dar lugar aos jovens, aos da vez”…). No caso, a atriz – a sempre maravilhosa Juliette Binoche -, é convidada para interpretar a personagem mais velha de uma peça em que duas mulheres mantêm uma relação de poder e tensão sexual e na qual ela, quando jovem, havia interpretado a mais nova e com isso ficado famosa. Um acontecimento súbito, envolvendo o autor do texto, é que tudo precipita e cria novas perspectivas, além de um complexo de emoções envolvendo o passado, cuja revisita pode ser difícil e dolorosa, como também o próprio processo de composição da personagem (processo algo neurótico e uma magnífica situação de ambiguidade, entre a personagem e a atriz e a eficiente secretária que com ela repassa o texto – “a vida imita a arte”???). Dirigido com grande sensibilidade por Olivier Assayas e com um roteiro bem entrelaçado, esta produção francesa (co Alemanha e Suiça) apresenta também as atrizes Chloë Grace Moretz (em alta no Cinema, pela versatilidade dos papéis) e Kristen Stewart (buscando uma identidade nova depois da saga Crepúsculo), uma trilha sonora delicada, além de paisagens belíssimas dos alpes (Sils-Maria é o nome de um lindo local da Suiça), tendo concorrido à Palma de Ouro em Cannes 2014.  8,7

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WINTER SLEEP

WinterSleepEste filme turco (co-produção França e Alemanha) ganhou a Palma de Ouro em Cannes 2014 (67ª edição). Isso significa que se trata de uma obra de qualidade. Mas não quer absolutamente dizer que, automaticamente, todos vão gostar dele. Porque Cannes é um festival totalmente desvinculado de filmes comerciais, premiando propostas inovadoras, corajosas ou mesmo conservadores porém com conteúdo. Pode-se dizer que Cannes reconhece os “filmes de arte”, como se diz. Nos últimos três anos, por exemplo, foram premiados “Árvore da vida”, Amor” e “Azul é a cor mais quente” (respectivamente em 201, 2012 e 2011), filmes no mínimo polêmicos. Portanto, o mais comum é “gostar muito” ou “detestar” os laureados…E Winter sleep não é uma exceção, exigindo que o espectador esqueça totalmente os padrões do cinema americano e procure identificar e se deixar levar por outros tipos de valores e enfoque. O filme é lento e se passa na Anatólia em época de frio, em hotel próximo a algumas aldeias com o estilo típico da famosa Capadócia: formações geológicas extremamente peculiares (moradias encravadas nas rochas ou em grutas), vegetação escassa e ausência de recursos. Ali existe honra, tradição e cheiro de história, mas a vida moderna (televisão, computador…) parece contrastar com o despojamento do lugar e das pessoas. Essa impressão inicial logo vai se desfazer quanto às pessoas e é justamente nos dramas humanos que se concentra o foco e onde reside o ponto vital da história e sua densidade. E o forte aroma da vida real não dá muito espaço para fantasias e pouco a pouco vamos degustando o filme e sendo envolvidos no enredo, vendo surgir das relações aparentemente pacíficas pura filosofia, pela qual mesmo nas entrelinhas e en passant são tratados grandes temas da humanidade (o Mal, a religião, a evolução dos costumes e dos direitos femininos, a honra etc.): nos deparamos, então, com o verdadeiro sabor por trás das aparências. A força do filme é sua humanidade, paralelamente à sua intelectualidade. Além de obviamente fluir da excelente direção e da magistral interpretação, fatos corriqueiros nesse tipo de obra, onde parecemos ser meros espectadores da vida real que desfila diante de nossos olhos. E a conclusão, afinal, é de que a aridez que percebemos no início somente se limita à paisagem.  8,6

 

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SNIPER AMERICANO  

 sniperamericano-posterAchei um bom filme. Mas nada excepcional. Na verdade, parece não haver muito mais a ser contado em filmes de guerra, mesmo quando envolvem as mais recentes, como a do Iraque (e os fatos posteriores ao 11 de setembro). E por isso nada muito original acontece. O que foge do trivial é que este filme é mais bem elaborado do que a média e tem como diferencial a competente e sensível direção de Clint Eastwood. De resto, um filme bem feito, de guerra e sobre a guerra (com os traumas etc.), baseado na história real de um atirador de elite das forças especiais da Marinha americana (sniper significa justamente isso). E Bradley Cooper definitivamente prova que se tornou um ótimo ator, inclusive produzindo o filme (comprou há tempos os direitos autorais do livro). Na minha opinião, portanto, apenas o significado que os fatos de guerra têm para os americanos é que justificam as exageradas 6 indicações para o Oscar. Mas o Globo de Ouro (menos conservador), com correção, não tomou conhecimento do filme, em razão de muitos outros bem superiores em todos os quesitos. Mesmo assim, uma obra acima da média.   7,8

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WHIPLASH – EM BUSCA DA PERFEIÇÃO

whiDiante da óbvia truculência do professor Terence Fletcher (interpretado pelo ótimo J.K.Simmons), difícil não lembrar daqueles sargentos que assediavam física e moralmente os recrutas/cadetes/mariners com sua autoridade e exigências muitas vezes absurdas, em diversos filmes americanos (Nascido para matar foi talvez o mais forte precursor). Só que aqui não estamos no exército, nem na marinha, nem nos fuzileiros navais e sim no mais renomado conservatório de música americano: Juilliard School of Arts, no filme denominado de “Conservatório Shaffer”, onde o virtuosismo era o objetivo e praticamente o pré-requisito para a permanência dos alunos – Miles Davis, entre outros, passaram pela exigente escola. E o aluno no caso é o também ótimo Miles Teller, que dá suor e sangue no papel, literalmente. Pois aspecto extremamente original e relevante neste ótimo filme é o instrumento enfocado: a bateria, certamente algo inédito, embora de vital importância para a música (notadamente alguns gêneros, com o jazz), mas negligenciado nos mais diversos filmes a respeito, que sempre privilegiaram o sax, o trompete, o piano…História muito interessante, que mostra inclusive a grande relevância do baterista nos difíceis traçados jazzísticos, com ótima direção de Damioen Chazelle. O filme ganhou os prêmios de Melhor Direção e Melhor Filme (voto do público) no Festival de Sundance de 2014. Embora este comentário seja anterior, a publicação está ocorrendo após o Globo de Ouro, que acabou ontem premiando J.K. Simmons como Melhor Ator em Drama).  8,5

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BEFORE I GO SLEEP (ANTES DE DORMIR)

beforeThriller psicológico com Nicole Kidman, Colin Firth e Mark Strong (Mindscape), que lembra em muitos momentos os bons filmes de Hitchcock. O tema não é tão novo, pois trata de amnésia, mas desta vez não é uma comédia como O feitiço do tempo, por exemplo, e sim um drama com suspense e ritmo incessante. O roteiro é criativo e nos deixa o tempo todo interessados e em alguns instantes aflitos para saber onde a história vai chegar, diante dos enigmas que aparecem e nos surpreendem em diversos momentos, valorizados também pela trilha sonora. A direção é de Rowan Joffe (Um homem misterioso, com George Clooney) e é basicamente uma produção britânica (co França e Suécia).  8,2

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HOMENS, MULHERES E FILHOS (MEN, WOMEN AND CHILDREN)

homensAviso: filme para cinéfilos basicamente. Forte, impactante, enquadrável como “filme de arte”. O contraste entre o avanço tecnológico e a solidão: entre a conexão com a internet e a desconexão com a felicidade, que enganosamente parece tão próxima, mas que todos parecem buscar às cegas. A grande barreira da incomunicabilidade, inclusive entre gerações, a anterior cada vez parecendo mais confusa: os adultos parecem caricaturas, clichês em busca da compreensão e de respostas. Os corações desejam (humana natureza), mas as passagens parecem trancadas, mergulhadas na futilidade, na falta de definição dos caminhos. Um filme que, na verdade, nos alerta sobre um furacão que já está sobre nós; sobre tempestadas nas quais já estamos imersos. Mas o faz com maestria, sendo incompreensível sua baixa bilheteria e sua pouca aceitação por parte da crítica. Maravilhosos roteiro, direção (Jason Reitman, de Juno, Amor sem escalas, Jovens adultos…) e magnífico todo o elenco, com grande destaque para o jovem e talentoso Ansel Ergort (A culpa é das estrelas), mas também apresentando ótimas atuações de Jennifer Garner, Adam Sandler, Rosamarie DeWitt, entre outros. Cru e direto, chocante na medida em que não faz julgamentos, tampouco parecendo apontar soluções, o filme apenas mostra fatos, perigos (inclusive a violência moral), conflitos, vazios…Ou melhor: a saída é mostrada, sim, na cena do hospital, como um fio ligando o ser humano à esperança – na magnífica parte final do filme (inclusive pelo pertinente texto de Carl Sagan) -, e é a de sempre, a mais simples e ao mesmo tempo a mais complexa.  9,0

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IDA

idaUm filme interessante, surpreendente até, e que nos mantém o tempo todo ligados, inclusive pela óbvia diferença em face do cinema comercial americano. Cinema Polonês de qualidade! Duas pessoas contrastantes (uma relação perdida e retomada) em busca de um passado, da época da Alemanha nazista. Uma delas uma freira, prestes a fazer seus votos em um convento da Polônia católica. A outra a tia, politizada, culta, ex-magistrada e polêmica executora da justiça. Não será certamente fácil confrontar o passado e principalmente a verdade. Procurar o local onde sua família judia foi morta e enterrada na época da segunda guerra… Mas como é importante todos termos origem e ir em busca dela!!! Além do roteiro, o filme é valorizado pelas excelentes interpretações e pela bela fotografia em preto e branco, derivando também por outras questões, notadamente envolvendo o destino religioso da personagem principal. Mas é um filme árido, seco, cru, praticamente sem trilha sonora e trazendo sua eloquência justamente no silêncio e nas reticências. Para os desavisados: estilo “filme de arte”, filme de Globo de Ouro (indicado inclusive para a premiação na cerimônia de 11.01.15), nada convencional como entretenimento. Alimento perfeito para os apreciadores de “cult”, mas o fato é que a mensagem final é de que, a par da importância do passado, o presente exige que cada um defina com honestidade os seus caminhos e a sua verdadeira vocação, sob pena de nunca se alcançar a felicidade (e aqui, a música terá importância fundamental). Temática, portanto, universal! E ela valoriza esse conflito e essa decisão, a gente vendo e não sabendo bem qual vai ser, afinal, a decisão, qual será o destino, seguido nas últimas cenas de forma segura, resoluta, irreversível. Palpite bom para ganhar o primeiro prêmio!  8,5

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PERSEGUIÇÃO VIRTUAL (OPEN WINDOWS)

Open_Windows-121473253-largeFilme com uma ideia muito interessante, que mistura a tecnologia (da informática) com uma trama policial, imprimindo ritmo de trhiller. Tem algum mistério e boa dose de voyeurismo. O “windows” do título se refere às janelas do famoso programa de Bill Gates: o filme, aliás, foi realizado com webcams de diferentes computadores e não com equipamento convencional, sendo inclusive selecionado em alguns festivais, principalmente de cinema fantástico. O problema é que a realização não ficou à altura do projeto e o filme oscila entre o bom e o duvidoso gosto, provocando por isso algum desconforto (desequilíbrio do roteiro). De todo modo, é uma diversão interessante pelo ritmo e pelo ineditismo. O protagonista é o conhecidíssimo Elijah Wood e a produção EUA-Espanha.  7,5

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QUE MAL EU FIZ AO BOM DEUS? (QU´EST-CE QU´ON A FAIT AU BON DIEU?) –

QbnKTMaZPy80QR1pDzhx4Iuc_Uma gostosa comédia francesa, que além de abordar com leveza uma temática envolvendo preconceitos sociais/familiares etc., também retrata a modernidade, notadamente da França atual em face de sua população miscigenada pela grande afluência de imigrantes de diversos países e raças, havendo uma estatística que indica que mais de 10% dos casamentos na França envolvem pessoas de raças distintas. Divertido, leve, um ótimo entretenimento e grande sucesso francês atual, estrelado entre outros por Chantal Lauby, Christian Clavier e Elodie Fontan e com direção de Philippe de Chauveron. 8,0

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I ORIGINS

originsMichael Pitt (Os sonhadores), Brit Marling (A Outra Terra) e Astrid Berges-Frisbey estrelam este drama com ficção científica, americano, de 2014. Uma produção independente, com uma história interessantíssima, original e que por isso mesmo nos deixa permanentemente curiosos, às vezes assombrados e sem saber exatamente para onde estamos sendo conduzidos. Tendo estreado no Festival de Sundance de janeiro de 2014, o filme foi escrito e dirigido por Mike Cahill (o mesmo diretor do também intenso A Outra Terra) e é absolutamente contagiante pelo tema, tendo também um final marcante e que além de nos fazer pensar também emociona de forma verdadeira e especialmente visceral. Contar mais será estragar as diversas experiências que este filme – cujo título em português não tenho a menor ideia de qual será – nos proporciona, revestindo o eterno conflito ciência-religião com contornos e cores mágicas e fascinantes.  8,8

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TIM MAIA

TimTim Maia foi um sujeito p…louca!!! Polêmico ao extremo, teve fases e fases em sua carreira, épocas de penúria, de prosperidade, de abismos pelas drogas, pelo fanatismo “religioso”, pela falta de responsabilidade artística, viveu o sucesso, o fracasso, foi proibido de cantar na Globo (a quem processou mais de uma vez), teve dezenas de processos e um conhecido entrevero com Roberto Carlos (que dizem foi simplesmente omitido na “série adaptada” que a Globo exibiu recentemente – Natal de 2014)…mas sem dúvidas foi um talento vocal, uma força explosiva no palco, dono de uma musicalidade impressionante e contagiante. Sua biografia, passada para o Cinema, obviamente é superficial perto da obra literária de Nelson Motta (na qual teria se baseado), mas mesmo assim apresenta um painel dos contrastes desse artista, desde sua origem de garoto até sua morte, valorizado pelos fatos mais marcantes de sua carreira, pelas ótimas interpretações – principalmente do ator Babu Santana (que interpreta Tim adulto), embora Robson Nunes também esteja muito bem fazendo o Tim jovem – e pelas músicas. A cena final, do grande sucesso “Você”, passando do violão para o palco é extremamente feliz e arrepia! O personagem de RC no filme chama a atenção por ser absolutamente caricato, parecendo que a intenção foi realmente retratá-lo dessa forma por ter humilhado Tim, que foi seu amigo e colega de conjunto no início da carreira (“Os sputniks”), mas o teria desprezado, quando Tim o procurou em um momento de dificuldades (época em que RC já era rico e famoso). De todo modo, o que o filme dirigido por Mauro Lima permite concluir é que Tim Maia, exclusivamente, foi o único responsável tanto pela sua ascensão e glória, quanto pela sua queda e destruição.  7,8

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O ABUTRE (NIGHTCRAWLER)

abutreMelhor título impossível para designar o freelancer (foca) que corre atrás das ocorrências policiais noturnas –  onde haja sangue e notícia – , para filmar e vender para os canais de televisão divulgarem em primeira edição, em seus noticiários. Vive e se alimenta das carcaças e do sangue alheio, agindo sem limites, sem pudores, sem medo. Se bem que o título alternativo do filme também era bom: Coiote e o ator emagreceu vários quilos para melhor desempenhar o papel em sua essência, porque o personagem de Jack Gyllenhaal é exatamente isso, um vampiro que persegue seus objetivos fria e implacavelmente. Quanto vale uma notícia, afinal? Qual o papel e quais os limites da imprensa sensacionalista? E da própria ambição? Um filme diferente, forte e bastante interessante, apresentando também Rene Russo.  7,8

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MISS MEADOWS

missUm filme daqueles que aparentam ser bem tolinhos e que a gente começa a ver e de repente acaba se prendendo. Porque a trama é estranha e inesperada, assim como a personagem interpretada por Katie Holmes. Bizarra até. Aliás, ela é o prato principal do filme. Um filme bobinho, sim, mas com alguns ingredientes interessantes e que mantêm nossa atenção até o final. Uma comédia, meio humor negro, um pouco drama…Leve, agradável, com tons delicados (como se fosse um conto infantil, como se a pureza pudesse sobreviver em meio ao mundo caótico…), outros inesperados, nada de muito novo, mas atraente, como a atriz que conquistou legiões de fãs em Dawson´s Creek e que é a única razão, na verdade, de um filme como esse acontecer.  7,5

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A TEORIA DE TUDO

teoriaO filme é bastante romantizado, mas parece preciso ao contar a história da vida do extraordinário físico Stephen Hawkin, antes e depois de ser acometido pela doença degenerativa (Lou Gehrig). Aliás, o próprio Stephen elogiou nas redes sociais, tanto o filme, quanto a notável interpretação do britânico Eddie Redmayne. E nesse ponto não temos como evitar os sentimentos ambíguos: de admiração pela notável inteligência e capacidade do estudante e do cientista e, ao mesmo tempo (e principalmente), de tristeza, por acompanhar a gradativa e severa limitação física que a doença lhe impôs. Inclusive de se comunicar. Mas aí vem a criatividade, que ao lado da generosidade e do amor, cria sempre mecanismos para servir a quem tem limitações: bem como a tecnologia, igualmente enaltecida no filme. Porém mais do que isso, o filme nos deixa em permanente estado de emoção, ao mostrar a superação de um doente que sempre teve preservada a luminosidade de sua mente genial, além da vontade de viver, o bom humor e surpreendentemente a capacidade de gerar filhos, fato que provocou interessante embora rápido sub-drama e posteriormente uma belíssima cena na inspirada parte final (e criativa) do filme, que deixa também evidente a fundamental importância da generosa e dedicada esposa, muito bem interpretada pela inglesa Felicity Jones (Paixão inocente…). O filme foi selecionado no Festival de Toronto de 2014.  8,0