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DOIS DIAS, UMA NOITE

DOIS-DIAS-UMA-NOITEA quem gosta de cinema apenas para diversão, não é recomendado este filme. A menos que “diversão” possa significar a realidade escancarada. No caso, relacionada com questões trabalhistas e o desemprego. Discordo, portanto, totalmente das críticas que apontaram o filme como exagerado ou superficial. É a realidade diante de nossos olhos! É o que está acontecendo no mundo do trabalho, embora às vezes só se possa alcançar com o coração. O filme é tão realista, que é quase um documentário, tornando-se bastante incômodo e angustiante. Exigindo, de fato, uma especial sensibilidade para se colocar no lugar da personagem. Ou pela vivência de experiência similar ou pela própria compaixão. Somos colocados no seio de uma família, com a mãe prestes a ser demitida: em razão da concorrência asiática, ou a empresa paga um bônus de mil euros para todos ou demite a trabalhadora que estava voltando de um longo período de afastamento por depressão. E os trabalhadores votarão secretamente o destino próprio e da colega. Ela, então, resolve fazer uma campanha de final de semana para tentar ser vitoriosa na votação de segunda-feira na empresa. Marion Cottilard em mais uma brilhante interpretação, nos comove e empresta total verossimilhança à personagem, atriz essa que com Piaf já se colocou ao nível das melhores da história do Cinema (Meryl Streep, Helen Mirren, Judy Dench, Juliette Binoche, entre poucas outra). Não foi à toa que rivalizou com Julianne Morre no recente Oscar, para o prêmio de Melhor Atriz. Como já dito, é a realidade diante de nós e por isso talvez incomode tanto.  8,5

 

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INSÔNIA

insEste ótimo filme policial americano data de 2002, valendo muito ser revisto. Estamos acostumados a ver Al Pacino, sempre excelente, nesse tipo de filme. Mas não Robin Willians, que aqui surpreende, ao fazer com muita competência um papel bem diferente dos que costuma desempenhar (em comédias e filmes-família). Também está no elenco Hilary Swank, novinha mas já mostrando seu talento. É um trhiller muito bem conduzido pelo diretor Christopher Nolan, que depois veio a dirigir O grande truque, Batman, A origem, O homem de aço e Interestelar, entre outros. Apesar de se tratar de um filme policial americano, o ritmo é lento, psicológico, investigativo e esse fato deriva basicamente do ambiente, fundamental para o enredo: uma cidade pequena e isolada quase no extremo oeste do Alaska, onde nada praticamente acontece, exceto um crime, justamente o que faz com que a polícia de Los Angeles vá prestar auxílio. Mas além das belíssimas paisagens e de uma ou outra cena mais tensa (a dos troncos de madeira no rio é sensacional), a região tem uma especial particularidade: no verão o dia praticamente dura 24 horas, o que pesa decisivamente, tanto para o ritmo do filme, quanto do personagem de Pacino, que simplesmente vai adoecendo por não conseguir conciliar o sono. Uma ótica sacada e que tanto propicia ao ator um belíssimo desempenho, quanto traça um paralelo com o aspecto moral da trama, vinculado aos segredos que devem ser preservados.  8,7

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A PEQUENA MORTE (THE LITTLE DEATH)

pequena morteEis aqui um filme totalmente diferente. Como diz o cartaz, uma comédia sobre sexo. Australiana (passada em Sidney inclusive), beirando o bizarro às vezes, com humor negro e pitadas de drama, brincando com as estranhezas dos seres humanos. São histórias sobre casais e fantasias e ficamos permanentemente na expectativa sobre o que vai acontecer em seguida. Tudo é possível, pois o roteiro é feito com inteligência e argúcia. Algumas situações são bem interessantes, contudo outras nem tanto: em certas partes o filme parece irregular e se arrastar um pouco, mas a história envolvendo a intérprete de surdos e o desenhista gráfico vale o filme. E, logo em seguida, um final tão surpreendente, quanto criativo, aparecendo alguma conexão…! Produção modesta, mas com ótima direção, ritmo, trilha sonora, realmente uma diversão original, para adultos (como é o próprio nome do filme e o que sugere…) e para quem gosta de sair do convencional.  8,0

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KILL THE MESSENGER (O MENSAGEIRO)

kill-the-messenger-blu-ray-cover-14O título original antagoniza o provérbio latino que aconselha a não matar o mensageiro, como vários reis faziam quando recebiam mensagens ruins (Dario III, da Pérsia, por exemplo), já que quem trazia a mensagem obviamente não era responsável pelo seu conteúdo. Em razão desse significado e do próprio roteiro, mostra-se ridículo o título brasileiro do filme, o que não é raro. Obra baseada em fatos da vida real, inclusive mostra nos créditos finais parte de um filme doméstico em que aparece o verdadeiro jornalista: repórter investigativo de um Jornal de médio porte, que em um furo de reportagem acaba descobrindo sério envolvimento do governo americano (CIA) com crimes praticados a partir da América Central. Daí, surgem tensões, problemas, desdobramentos vários, envolvendo a mídia (o próprio periódico do repórter), a população organizada, a família, com o perigo passando a rondar, à espreita. O drama inicial, assim, acaba virando um bom filme de suspense, sustentado pelo elenco (Jeremy Renner, Rosemarie DeWitt, Oliver Platt, Ray Liotta…) e pela boa direção.   7,8

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OS PASSAGEIROS (LES PASSAGERS)

les passaServindo de veículo condutor  –  nos dois sentidos, para o filme e para os personagens  – os ônibus/trens elétricos que atravessavam as ruas da Paris nos anos 90 (embora pareça evocar épocas mais antigas), vemos desfilarem alguns personagens do cotidiano, com suas vidas e histórias.  É um original e interessante estudo da natureza humana, de sua essência, desencontros, solidão, medos, inclusive pelo advento da AIDS, em um trabalho aparentemente simples: é que, apesar de sua aparente despretensão, o filme filosofa sobre a sexualidade e suas facetas, a industrialização, a tecnologia e o desemprego (…e o Homem, quando ele vai importar???), a melancolia do cotidiano e da decadência, entre outros temas que desafia de frente. Por esse aspecto, intelectualizado, não é para todos os gostos. O título é ambíguo, pois também se refere à própria vida e o filme integrou a Seleção Oficial de Cannes 1999, tendo uma última cena que ao mesmo tempo em que se revela uma metáfora algo complexa, igualmente demonstra o enquadramento do filme como “filme de arte”.  8,0

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EXODUS – DEUSES E REIS

Exodus-Gods-and-Kings-Poster-7A partir de Alien, o oitavo passageiro, e com o eterno Blade Runner, o diretor Ridley Scott ficou conhecido, tendo dirigido também outros marcantes filmes na história cinematográfica, como Thelma & Louise, Gladiador, Prometheus, entre outros. Não é surpresa, portanto, que seja ótima a direção deste épico, embora não vá ficar na história ao lado dos melhores do gênero. É um bom filme apenas, talvez porque previsível, na história e nos “cacoetes” do cinema americano: o próprio nome do filme já indica que se tratada de uma adaptação da narrativa do segundo livro do Antigo Testamento (Êxodo). Mas é um bom divertimento e tem ótimos efeitos especiais, principalmente nas cenas das pragas do Egito e, claro, da travessia do Mar Vermelho, um grandioso e esperado momento e que aqui ganha interpretação bem diferente da do clássico Os dez mandamentos e de outros que contaram a história de Moisés e dos hebreus que por ele foram conduzidos do Egito para Canaã. Outra interpretação que pode render comentários diz respeito ao intermediário de Deus nas conversas com Moisés (particularmente achei que poderiam ser mais bem conduzidas). O ator Christian Bale está muito bem e é o destaque do elenco, que também tem Ben Kingsley, entre outros.  7,5

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CORAÇÃO DE CAÇADOR (WHITE HUNTER BLACK HEART)

coração de caçadorUm ótimo trabalho de direção de Clint Eastwood, que também produziu o filme e atua como protagonista: interpretando até melhor do que dirigindo. Importante saber que o filme homenageia o tempestuoso e polêmico diretor John Huston (tão grande quanto seu ego, talvez…), mostrando os fatos de sua vida quando dos preparativos e início das filmagens do famoso Uma aventura na África, que foi estrelado por Katharine Hepburn (aqui, por Marisa Berenson) e Humphrey Bogart – dando a este seu único Oscar – e se tornou um dos mais famosos filmes de aventura da história do Cinema, principalmente porque a realidade das filmagens também foi uma grande aventura, tornando-se lendária: doenças, mosquitos, animais selvagens… Este filme não acompanha as filmagens e não envereda por esse caminho (embora mostre as locações e o barco a vapor original), mas mostra, sim, as dificuldades e decorrências da obsessão do cineasta não apenas em filmar no próprio continente africano (e não em estúdio, embora na realidade Uma aventura na África tenha algumas cenas que não puderam ser filmadas in loco), mas principalmente em realizar um de seus projetos: abater um elefante de enormes presas. E nesse ponto residem os conflitos principais, inclusive em algumas ótimas cenas envolvendo Huston e o jovem roteirista (interpretado por Jeff Fahey), que o desafiava em dilemas diversos e que após as filmagens acabou inclusive publicando um livro narrando tais acontecimentos.  8,0

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GEMMA BOVERY

326431Uma comédia francesa muito agradável, estrelada por Fabrice Luchini (Dentro da casa, Pedalando com Molière…) e Gemma Artenton (O príncipe da Pérsia, O retorno de Tamara…). Um filme ágil, paisagens do interior da França (que eu particularmente aprecio muito) e um roteiro bem interessante e original, sobre um fabricante de pães (de meia idade, intelectual) que começa a ver na vida da vizinhança similaridades com o romance Madame Bovary, clássico de Flaubert. O filme é leve, mas tem alguns momentos dramáticos, alguns muito interessantes, outros nem tanto e o final é tragi-cômico e muito saboroso. A diretora, Anne Fontaine, é a mesma de Adore, A garota de Mônaco, Coco antes de Channel, Chloe, entre outros e o roteiro foi adaptado do livro de Posy Simmonds.   8,0

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FORÇA MAIOR (FORCE MAJEURE)

uuUma família esquiando nos alpes franceses nas férias e de repente um acontecimento (e uma atitude) desencadeia grave crise, com uma situação moral tão importante quanto aguda. Um estudo psicológico complexo, envolvendo o papel do homem, de protetor da família, da mulher e sua expectativa de ser protegida, dos filhos envolvidos no turbilhão, estendendo-se o conflito além da família. Excelente a interpretação do casal principal. E as imagens são belíssimas (ajudadas pela natureza e pela competência do fotógrafo e do diretor), bem como a trilha sonora é perfeita para expressar os sentimentos expressos e ocultos. E em sua parte final o filme tem duas cenas de grande impacto: ambas angustiantes, representando a primeira talvez o antídoto (inclusive facilitado pela pouquíssima visibilidade da neve) e a segunda uma metáfora ou não, mas de todo modo de difícil interpretação (a caminhada pela estrada cheia de curvas). Uma obra muito bem construída e que inclusive permite muitas discussões e interpretações, inclusive sobre seu propósito de criticar a sociedade, a burguesia…Ficou entre os nove finalistas para concorrer pela Suécia ao Oscar 2015 de Melhor filme estrangeiro, mas não foi selecionado entre os cinco. É um drama forte e que não parece fazer concessões.   8,0

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RED DOG

Red_Dog_(movie_poster)Um filme inesperado. Algo diferente, gostoso de se assistir, em tom de comédia, mas contando evidentemente alguns dramas. Em torno de um cão e de sua lenda (inclusive como o cão andarilho), as histórias são contadas e vamos saboreando, sem sobressaltos, momentos da vida de uma comunidade de trabalhadores/mineradores em uma pequena cidade no noroeste da Austrália (Dampier, na verdade um importante porto industrial). Daquelas produções não dispendiosas, mas muito bem acabadas, com mensagens que fazem bem, evocando o lado bom das pessoas, a amizade, a camaradagem e por isso deixando boas coisas no ar. Poderia ser a princípio um filme infantil ou juvenil, mas acaba sendo algo estilo “família”, apto a agradar a todas as idades, como os filmes que passavam na “Disneylândia” da TV de antigamente. De encher a alma de alegria e emoção, celebrando a vida. Na verdade, na época atual, às vezes a gente sente falta de algo tão simples e puro. Produzido na Austrália (co-EUA) em 2011 e o mais interessante é que na entrada da cidade de Dampier existe realmente a estátua do “cão vermelho” (exatamente como aparece), fato que ainda mais valoriza o filme. E a lenda. 8,5

 

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SELMA

SelmaFilmes sobre racismo são comuns. Mas esse é um dos especiais (embora não tenha a empolgação do trailer), inclusive porque se concentra na década de 60 e na figura mítica do pastor protestante e ativista Martin Luther King Jr., que acabou inscrevendo seu nome na História. Eis os EUA, o suposto país da Democracia, há apenas 50 anos tratando seus cidadãos ainda como animais, sem direitos cívicos/civis. Sob o comando de um Presidente fraco e obviamente também racista (Lyndon Johnson, interpretado por Tom Wilkinson), quando os negros só queriam igualdade, principalmente o direito ao voto. E em uma cidade onde a grande maioria da população era negra – Selma, Alabama -, mas os poucos brancos é que decidiam o destino de todos (por terem direito a voto, micro retrato do país todo), concentrou-se a força da rebelião. Força política, porque a física estava com a polícia, obviamente: racista e violenta, protagonizando cenas que nos deixam realmente revoltados e com uma indignação tão grande, quanto foi a impotência de reação em face da insanidade da força bruta. A ponte Edmund Pettus será inesquecível! Idem a Marcha até Montgomery. Na dolorosa memória reside, assim, a força do filme, que com a excelente interpretação de David Oyelowo (ator não indicado ao Oscar, tendo o fato gerado muitos protestos) e o forte roteiro, foi um dos indicados ao Oscar 2015 de Melhor Filme. Mas a diretora Ava DuVernay também não figurou entre os indicados, fato que também acarretou protestos, tendo servido como consolo o Oscar de Melhor Música (“Glory”). Também integram o elenco Oprah Winfrey, Carmen Ejogo, Tim Roth, entre outros. Filme americano, co-produção britânica.  8,5

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MR. NOBODY

Mr.-Nobody-2009Essa é uma pequena joia que passou despercebida nos cinemas (2009). Um filme que estimula nossa atenção, nossa percepção, desperta nossa curiosidade e nossa sensibilidade, nos emocionando em diversas cenas, pelo conteúdo e pela beleza plástica. Mas é bastante complexo para se entender, embora nada seja de graça: o roteiro é um produto intelectual muito bem elaborado e apresenta perfeita coerência, embora tudo aparentemente seja uma colcha de retalhos, misturando realidade e sonhos, passado e futuro…(alguns dilemas são resolvidos parcialmente na parte final do filme). Afinal, o que é o real e o que é o imaginário: o que realmente ocorreu ou o que a memória permite lembrar? E o que é a insustentável leveza (lembrando aqui Milan Kundera), senão não sabermos o que aconteceria se tivéssemos seguido a outra opção?…Mas e se os diversos caminhos pudessem coexistir? Se as dimensões fossem de tempo e não de espaço? E o que vale a pena lembrar da vida?…”Não há vida sem você!”, uma bela e pungente frase. Realmente impressionante a cabeça de um roteirista que faz um filme desses! E que no caso é também o seu diretor, o belga Jaco Van Dormael. Os episódios da infância, da juventude, os paradoxos… cenas lindíssimas, com músicas absolutamente integradas e significativas. Belíssima a fotografia, notadamente nas histórias da puberdade e da juventude, das descobertas, dos segredos…Um filme de gêneros múltiplos (drama, romance, ficção científica…) e que para ser totalmente apreendido/entendido (talvez…) deve ser visto mais de uma vez. Com Jared Leto, Diane Kruger, Sarah Polley e Juno Temple, entre outros.   9,0

 

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TAXI DRIVER

Taxi-Driver-1976Este filme, de 1976, virou uma espécie de “clássico”. Por diversos fatores. Primeiro, porque é um filme ousado e original, estilo meio noir, que faz um retrato cru e violento de Nova Iorque, com um clima especial e construído com maestria pelo diretor Martin Scorsese, aqui em um dos seus primeiros trabalhos. Inclusive com muita força na melancólica e jazzística trilha sonora de Bernard Herrmann (que evoca múltiplos sentimentos) e nas narrativas in off. O homem é produto do meio, realmente? Ou só é revelado pelo meio? Quais os limites da invisibilidade/solidão? Em segundo lugar, porque Robert de Niro – que já havia feito O poderoso Chefão e, com Scorsese, Caminhos perigosos – começava a se firmar como um dos maiores atores do Cinema e neste filme atua com raro brilho e energia. E terceiro, porque Jodie Foster, então com 14 anos e no início da carreira, já mostrava grande talento, tendo inclusive ganho o Bafta (Oscar britânico) de Melhor Coadjuvante. Mas além dos citados, o elenco tem também o camaleão Harvey Keitel, Cybill Sheperd, Peter Boyle e Albert Brooks, entre outros. O roteiro é de Paulo Schrader e a fotografia de Michael Chapman, que destaca o clima meio claustrofóbico e a escuridão, coerentes com o enredo. O filme, que ganhou a Palma de Ouro de Cannes, foi indicado aos Oscar de Melhor Filme, Melhor Ator, Melhor Atriz Coadjuvante e Melhor Música. Mas seu problema é que era o ano de Um estranho no ninho…Pessoalmente eu gostei muito (embora não seja filme para todos os gostos), mas faço uma ressalva: achei os últimos 10/15min fracos e destoantes, inclusive até meio ridículo em algumas cenas e quanto aos efeitos visuais.  8,5

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PARA SEMPRE ALICE (STILL ALICE)

l_3316960_34af0015Não é um drama alegre, pode-se dizer de início, para alertar as pessoas que não gostam de ver filmes assim. A professora de linguística interpretada por Julianne Moore vê-se diante de um grave paradoxo em sua vida. O filme não tem novidades no roteiro, embora seguro na direção e seu melhor trunfo seja realmente a interpretação de Julianne, indicada ao Oscar por ele (premiação no próximo dia 22 de fevereiro de 2015). Aliás, essa atriz há muito já merece ser premiada pelos excelentes trabalhos que desenvolve, nos mais variados gêneros. E este é um deles, porque não é nada fácil interpretar a personagem em suas diversas “nuances”. Fora Julianne, entre outros, o filme tem Kristen Stewart e Alec Baldwin. Dele eu não gostei, parecendo dominado pelo ego (como quase sempre), mas dela sim: em fase extremamente produtiva, desempenhando com alguma versatilidade nas várias produções de que participa.  7,5

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UM SANTO VIZINHO (ST VINCENT)

8192_poster_iphoneÉ simples: o diretor encontrou a mão e o filme encontrou seu tom. Este é um daqueles filmes bobinhos, inocentes, com história fácil e previsível, comédia com alguns dramas e lições de moral e de humanidade…Já sabemos mais ou menos o que vai acontecer, pelo menos em parte…Mas é tão bem feito! A direção é tão segura (Theodore Melfi), o elenco é tão bom, que o fato de o roteiro ser simples, mas bem construído e tudo se encaixar, faz do filme uma diversão excelente, para toda a família! E passarmos fácil do riso à emoção, por nos sentirmos seguros de sua sinceridade, de serem genuínos seus sentimentos. Não há os exageros típicos de filmes banais. Bill Murray, depois da maturidade, encontrou seus caminhos, está excelente. Naomi Watts é ótima em qualquer papel. Melissa McCarhy é perfeita e o garoto, Jaeden Lieberher, está esplêndido também.  8,0

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PAS SON GENRE

95806629Romantismos à parte, é fácil para um casal perceber o abismo que existe,  pelas diferenças culturais, intelectuais etc ? E percebendo, há razões para ser otimista e achar que é possível conciliar as coisas e levar a relação avante e com sucesso? Ou se deve antecipar o fim e desde logo admitir a impossibilidade do relacionamento, evitando sofrimentos? E aceitando a desigualdade, no final da fase do deslumbramento, será possível a lucidez? Um filme francês com tom de comédia, mas que discute temas sérios (violência sócio-cultural…) com ótimo roteiro e a interpretação luminosa de Emilie Dequenne (atriz indicada ao Cesar 2015­). Comédia dramática, em suma, que apresenta com inteligência muitas facetas da realidade. E um final de filme que os americanos, por exemplo, provavelmente não fariam, o que no caso aqui soa como mérito.  8,5

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LEVIATà(AN)

leviathan_poster1-400x566O filme se passa na província de Murmansk, na Rússia, não muito longe da Finlândia e embelezada pelo Mar de Barents, no Ártico. Enfoca uma desapropriação iminente e uma luta árdua e desigual contra os interesses e forças do governo. Mas há coisas mais graves. Drama de maior intensidade irá dominar o filme a partir de certo ponto…O “Leviatã” do título é obviamente uma metáfora e deriva das teorias políticas de Thomas Morus, significando o “monstro” de um governo central forte…mas também no filme há referências ao monstro bíblico, marinho, que seria uma das primeiras e mais horrendas bestas a habitar a terra: expressa, quando o padre menciona Jó e sugerida, quando a câmera focaliza carcaças velhas, que parecem monstros…O leviatã também pode se chamar “Volvo”, em uma cena no final do filme e que é bastante crua e chocante. Filme russo, extremamente bem realizado e que venceu o Festival de Londres e também o prêmio de Melhor Filme Estrangeiro no Globo de Ouro 2015. Concorre ao Oscar com ótimas chances, embora Ida tenha ganho hoje (08.02.15) o Bafta de Melhor Filme de Língua Não Inglesa (o Oscar britânico) e eu pessoalmente prefira o excelente Relatos Selvagens. Mas é um filme de respeito, inclusive tendo gerado na Rússia inúmeras polêmicas, junto ao governo, à Igreja Ortodoxa Russa (en passant também criticada) e mesmo a alguns segmentos que não entendem legítimo o seu retrato, como um povo que vive bêbado (de fato, a vodka impera…) e oprimido pelo governo. Fatos que só comprovam a força e a atualidade da obra, que inicia e termina com a mesma música impactante e que traz em si inúmeros significados. 8,5

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O QUARTO AZUL (LE CHAMBRE BLEUE – THE BLUE ROOM) –

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Os filmes franceses realmente têm um encanto próprio. Dos costumes, das paisagens…E quando é do gênero mistério/policial como este, é uma especialidade deles há décadas…a trilha sonora de suspense evidenciando a existência de tramas, segredos, perigo…relacionamentos sugerindo crimes passionais…e neste filme, baseado em obra do fecundo romancista belga Georges Simenon e com Mathieu Amalric (que o dirigiu e que atua também muito bem, com sua parceira na vida real, Stéphanie Cléau), os fatos vão sendo revelados aos poucos, o que acentua em muito o seu sabor. O suspense e o mistério envolvem e intrigam o espectador e permanecem até as cenas finais. Na verdade além delas! E em determinados trechos do filme os personagens são tão enigmáticos, o texto é tão bem posto, que as cenas – com a oportuna trilha sonora de fundo – evocam até alguns filmes de Hitchcock – aliás, a temática já fez parte de uma obra do “mestre”. Há além do suspense, um erotismo que torna o filme não recomendável para menores, mas que confirma o despojamento de sempre do cinema francês Para quem aprecia esse cinema e principalmente o gênero, mais uma ótima opção e que inclusive concorreu em Cannes e ao “César”, Oscar do cinema francês, em 2014, respectivamente incluído na seção Un Certain Regard e concorrente na categoria de Melhor Roteiro Adaptado. No final, entre várias dúvidas e pistas limitadas, a conclusão parece ser a de que a verdade não é necessariamente o que acontece, mas o que se fica sabendo. 8,7

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O HOMEM MAIS PROCURADO

maisBaseado em obra de John Le Carré (que foi cônsul e agente do governo em Hamburgo, onde se passa o filme), este filme britânico de 2014 só pode ser classificado como do gênero “espionagem”. Trata-se de um filme classudo, maduro, mas que não vai agradar a todos, por ser denso mas lento, com tramas que exigem o máximo de atenção, principalmente nos diálogos. A forma (edição e ótima direção de Anton Corbijn – o mesmo de Um homem misterioso, com George Clooney) valoriza um roteiro difícil de adaptar o livro em todos os detalhes. A trilha sonora acompanha na medida exata a tensão dos fatos. A história envolve questões do terrorismo internacional (e quem o financia), desdobramentos do 11 de setembro e a política dos serviços de inteligência. Elenco estelar e talentoso: Philip Seymour Hoffman (excelente, em seu último trabalho), Rachel Mc Adams, Robin Wright, Willem Dafoe, entre outros. O suspense na parte final é excelente, quando acompanhamos tudo atentamente, ansiosos para conhecer o desfecho: que ocorre com uma até incômoda surpresa, cheirando forte como o mundo real.  8,3

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O ANCIÃO QUE SAIU PELA JANELA E DESAPARECEU

100 anosUma comédia inesperada e agradável, com o típico humor sueco. Assim como a inocência do velhinho que faz 100 anos vai render interessantes histórias do passado – com imprevisíveis contornos políticos -, a história do presente também segue caminhos surpreendentes, alguns até meio non sense, meio bizarros, outros de aventura, recheadas de bom humor, ironia e até filosofia. O fato é que ao longo do roteiro as sensações  do espectador oscilam, mas o filme em alguns momentos é bastante criativo, principalmente na miscelânea dos personagens com quem nosso “herói” conviveu ao longo da vida e sem qualquer ofensa à inteligência ou ao bom gosto. Humor negro diz presente, claro. Baseado em best seller, que inicia com a frase “Não vale a pena ouvir quem só fala a verdade”.  7,7