VIOLÊNCIA E PAIXÃO (CONVERSATION PIECE)
Direção de Luchino Visconti (O leopardo, Morte em Veneza, Os deuses malditos, O inocente...) já é uma garantia de requinte: de roteiro, de cenários, de figurino, de trilha sonora…E também de elenco, aqui capitaneado de forma magistral por um já veterano Burt Lancaster (que na época da filmagem, em 1974, tinha 61 anos), acompanhado por Silvana Mangano e Helmut Berger, entre outros (com a participação inclusive de Dominique Sanda e Cláudia Cardinale – não creditadas). O tema envolvendo “declínio, mudanças e o tempo” sempre foi uma predileção do diretor, que aqui enfoca um requintado, solitário e maduro intelectual (professor), subitamente retirado de sua calma rotina pela vulgaridade e pelos claros sinais da mudança dos tempos e dos costumes. A perplexidade da cultura e da classe diante do vulgar, a solidão parecendo necessitar do abandono de um ombro qualquer…diversos enfoques mostrados com extremo bom gosto e cuidado e muitas vezes afiados diálogos, que provocam no espectador os mesmos sentimentos experimentados pelo protagonista…mais uma vez: graças ao notável trabalho de Burt Lancaster e à direção primorosa de Visconti. Por absolutamente verdadeira e síntese perfeita, cito parte da crítica feita ao filme por Miguel Barbieri Jr (a quem peço a devida licença): “Quando se vê uma fita como esta, percebe-se quanto o cinema perdeu da grandiosidade e do intimismo. Sente-se, é claro, algo démodé nos figurinos, nos hábitos e na decoração. Os diálogos desconcertantes, contudo, permanecem muito atuais, assim como se conservam intactos os sentimentos revelados. Quase um testamento, Violência e Paixão confronta o frescor da juventude com os dissabores da velhice. Em um round amargo e melancólico de duas horas, Visconti vislumbrava o início do próprio fim permeando a história de verdades avassaladoras”. O título do filme, em inglês, refere-se às pinturas estilo “retratos de família”, colecionadas pelo personagem de Burt. 9,0