AS ASAS DO DESEJO
O nome original deste filme é, literalmente, Um céu sobre Berlim, que seria realmente perfeito. O título em português, embora evocativo, é, mais uma vez, lamentável. Este é um filme feito em 1987 (2 anos antes da Queda do Muro, portanto) e de bastante prestígio dentro do gênero dos filmes “de arte” e talvez a principal produção do diretor alemão Wim Wenders. É uma obra muito bem construída, tecnicamente perfeita, repleta de símbolos e mensagens, exigindo do espectador sensibilidade e até algum conhecimento histórico. O gênero é o drama com fantasia e toques de romance. É um filme típico do cinema alemão, com um enredo original e interessante (que mais tarde foi adotado pelo sucesso Cidade dos anjos, com Nicolas Cage e Meg Ryan – só que com o jeito americano de ser, o que é bem diferente) e um texto ora literário, ora poético-filosófico, muitas vezes complexo. Mas um jeito árido, nada emocional, de contar os fatos, inclusive sendo limitados os ambientes retratados no filme, que torna o enfoque mais contemplativo do que outra coisa, narrando as desventuras de dois anjos na Terra, percorrendo espaços e ouvindo os pensamentos as aflições dos humanos (sem interagir, porém). Até que existe uma provocação relevante para despertar em um deles o desejo de poder ser humano novamente. É um filme para gostos especiais e que tem como protagonistas na verdade os dois anjos e mais o ator Peter Falk (nosso querido Columbo), interpretando ele mesmo e com grande importância no desenrolar da história. Além, é claro, da atriz francesa (embora musa do diretor e atuante em filmes alemães) Solveig Dommartin. Muito bonita a fotografia em preto e branco, já se destacando na cena de início, em que o anjo Damiel (Bruno Ganz) está no alto da famosa e histórica igreja de Berlim bombardeada na Segunda Guerra e em vários closes. A proposta do diretor efetivamente é revestida de grande significado e desde a já referida primeira cena vemos um anjo contemplando de cima a vida das pessoas, repletas de dor, angústia e destruição, que permearão o desenrolar dos fatos e serão destacados ao longo do filme. A questão é apenas a maneira mais crua de narrar os fatos, que provoca um distanciamento também do espectador. Ao final, a frase “continuará” anuncia a continuidade da história, que acaba ocorrendo seis anos mais tarde com o filme “Tão longe, tão perto”. 7,8