A SUBSTÂNCIA

Este é um filme que deve ser evitado por espectadores sensíveis. Porque tem suspense, drama, ficção científica, mas apresenta sobretudo cenas fortíssimas de terror e esse horror é visceral (literalmente), envolvendo deformidades, muita violência, muito sangue, um terror escatológico e superlativo em relação a praticamente tudo o que o cinema experimentou antes. Pode até mesmo ser classificado dentro do gênero denominado body horror, que é aquele feito especialmente para deixar o espectador abalado com cenas bizarras-corporais. É, portanto, uma intensa experiência cinematográfica, mas basicamente para quem tem estômago forte, porque há longas cenas de degradação física e mental e que realmente chocam pela realidade de que se revestiram: porque são imagens muito bem feitas, maquiagem e efeitos especiais de primeiríssima linha, para contar uma história chocante envolvendo a chamada “escravidão da beleza” (eterna obsessão de buscar a juventude), contemporânea. Uma direção excelente da francesa Coralie Fargeat – que também roteirizou –, com muita sofisticação de ângulos e tomadas, capricho nos detalhes e uma edição perfeita, como se, comparados estilo e origem, essa cineasta fosse uma expert em dirigir vídeo clips de alta qualidade. E embora seja muito boa a atuação de Margaret Qualley (Pobres criaturas, Criada, Tipos de gentileza), o brilho da atriz Demi Moore (Assédio sexual, Proposta indecente, Ghost) é sem precedentes em sua carreira, retornando aos filmes com um desempenho magnífico, inclusive considerando as dificuldades impostas pelo papel. Nomeação ao Oscar à vista, sem a menor dúvida. De conhecido também atua Dennis Quaid, perfeito como o manager canastrão. O filme entrega seu recado de forma arrebatadora (embora violentíssima em termos de clima e de cenas), mas talvez se possa questionar seu final, que para muitos não pareceu à altura de todo o contexto. 8,5