HOSTIS (HOSTILES)

Se este filme não envolvesse soldados e índios e não atravessasse longos territórios americanos na última década do século 19, poderia até não ser rotulado como uma faroeste. Porque na verdade é um drama de ação e aventura que se passa no Velho Oeste, nos espaços imensos e selvagens dos EUA, mas de onde já se avizinhavam fronteiras do progresso e da civilização; entretanto, nessas extensas paisagens eram ferozes e sangrentos os conflitos entre brancos e índios e já profundamente enraizado o preconceito que sobreviveria pelos séculos afora. Contudo, a despeito dos perigos em constante tocaia, o foco real do filme – sem deixar de lado a crueldade daqueles tempos – é o lado humano dos personagens, o homem semiselvagem mas reflexivo, ainda nas batalhas pela sobrevivência, mas com uma consciência maior de efemeridade, da necessidade de mudanças, da busca pela liberdade, do que é certo e do que é errado, a consciência de seu tempo, mas também do tempo que há de vir. Em belas imagens e trilha e segura direção de Scott Cooper (Coração louco, O pálido olho azul), também autor do roteiro (além de ator e produtor), a história tem cenas cruas – mostrando a rudeza daqueles tempos e o caráter implacável dos homens -, mas se desenvolve lentamente, contemplando o aspecto psicológico dos personagens. Há momentos que destacam essa ótica, como quando um soldado se ressente do ódio vigente contra os nativos (índios), ou quando outro soldado constata atônito ter matado seu primeiro ser humano. O filme é denso (inclusive nos choques culturais) e também tem seu ponto forte no excelente elenco, do qual fazem parte Christian Bale (memorável), Rosamund Pike (magistral), Jesse Plemons e inclusive o novato Timothé Chamalet. Na parte final, o que parece ser questionado é se é possível não agir como selvagem em um meio onde a selvageria impera e de modo implacável, imprevisível e talvez definitivo: e a cena que ocorre um pouco antes de um belo crepúsculo parece oferecer a resposta. Qual a solução disso tudo? Qual o caminho a seguir? A mensagem da última cena parece ser, de fato, a única resposta para essa pergunta. 8,9