DRIVE MY CAR

Este é um drama japonês de 2021 que recentemente foi distinguido no Festival de Cannes e está indicado entre os cinco finalistas de Melhor filme estrangeiro do Globo de Ouro que acontecerá no próximo dia 9 de janeiro. Apesar de aclamado pelos críticos, não é algo exatamente fácil de ser visto e digerido, pela lentidão, pelo texto às vezes a ser pensado, pela duração de cerca de três horas e porque os acontecimentos decisivos só eclodem – após uma revelação surpreendente, aliás – a partir da segunda hora de filme. Em suma, o filme pode ser classificado como “filme de arte” e nesse sentido alcança todos os seus propósitos, embora apenas uma parte das pessoas deva apreciá-lo verdadeiramente e em todo o seu significado. Mas quem gostar dele vai certamente enquadrá-lo como uma obra de grande qualidade, até porque baseado nos famosos contos de Haruki Murakami e sua coleção de contos de 2014, intitulada “Homens sem mulheres”. Mas o filme é interessante também ao mostrar o Japão, a cidade de Hiroshima hoje, os costumes japoneses, alguns relacionamentos e as limitações de liberdade (inclusive a que dá nome ao filme), assim como a filosofia de ser e de viver, com um texto bastante consistente, como as interpretações do elenco e a direção de Ryusuke Hamaguchi. O roteiro tem muitas riquezas e em sua grande parte se passa em torno da peça Tio Vânia de Tchékov, isso não sem um grande propósito, evidentemente (o paralelo com a vida real acompanha todo o filme e as viagens de carro, que acabam sendo também um elemento vital). E, entre outras reflexões que propõe o filme, uma das mais belas pode ser destacada, mais ou menos assim: quando você quiser conhecer verdadeiramente a outra pessoa e mergulhar fundo no coração dela, deve se preparar para a dor; e a única solução para essa dor é você também mergulhar profundamente no seu coração. 8,5