Imprimir Shortlink

O CAVALEIRO VERDE (THE GREEN KNIGHT)

Este filme anticonvencional e grandioso, artística e visualmente (incluindo efeitos especiais e fotográficos), adapta uma das lendas do século 14 envolvendo o Rei Arthur e os Cavaleiros da Távola Redonda, especificamente “Sir Gawain e o Cavaleiro Verde”, que é a história do mais novo integrante da távola e uma jornada importante e perigosa que deve cumprir. E desde o início o filme já revela seu extremo cuidado com todos os seus elementos técnicos, com destaque para a direção de arte, para o som (excelente !) e para a trilha sonora, que é não só perfeita para cada momento do filme, como enobrecida com toques medievais e execução de orquestra e coral. Esse cuidado com a forma, contudo, não a torna fácil, pois embora o conteúdo possa ser até mesmo ser resumido em seus elementos principais, a maneira de contar os fatos muitas vezes é complexa ou repleta de reticências, com forte atmosfera de fábula e trazendo ainda pitadas de terror gótico, que bem evidencia toda a a mitologia e envolve a trajetória dos personagens em um mistério permanente, que pode deixar muitas vezes o espectador confuso. A música é perfeita ao dar destaque também a toda essa estranheza, que poderá em boa parte ser decifrada com percepção, interesse, inteligência e até mesmo algumas doses de cultura. Em suma, um enredo a ser desembaraçado aos poucos, mas ficando claro que o clima criado – com muito requinte e talento-  acaba sendo o essencial para David Lowery (roteirista e diretor) contar sua lenda, que ainda apresenta a qualidade das belas locações, figurino, maquiagem e de um excelente elenco, capitaneado por Pav Patel e Alícia Vikander. Diante do contexto, talvez realmente muitos detalhes da jornada passem despercebidos ou não sejam amplamente compreendidos, mas se trata de um caso típico, em que todo o esmero da produção está intencional e integralmente a serviço de um propósito definido, de uma história repleta de componentes simbólicos, teatrais e até mesmo neuróticos (a trilha sonora, principalmente no final, intensifica a dose de loucura), mas em que a total compreensão da obra cede vez ao fascínio da forma, à aura permanente de mistério e ao feitiço que toma conta do espectador diante de toda a magia e a beleza estética do trabalho. Não é um filme para muitos, mas quem apreciar o gênero terá uma iguaria bastante original e interessante para degustar. 8,8