TIGRE BRANCO
Este é um filme poderoso, dirigido e interpretado por indianos ou descendentes/naturalizados americanos (os protagonistas são indianos, inclusive a atriz Priyanka Chopra foi Miss Índia e também Miss Mundo no ano 2000), que mostra com inteligência, originalidade e criatividade tanto a Índia com suas duas castas -segundo o protagonista, a “dos homens com barriga e a dos homens sem barriga” – referindo-se aos miseráveis e aos endinheirados-, sua miséria e tradições milenares que convivem com a modernidade, resultante principalmente dos vínculos com os EUA, quanto a trajetória de quem não fica apenas na fé e na teimosia e não se resigna meramente, para buscar uma salvação, sobreviver ou, mais, “trocar de lado”, que seria, digamos, “abraçar o capitalismo”. Os raros que não se acomodam e obstinadamente adquirem conhecimento e vão à luta são “espécimes” cujo nascimento é apenas de um a cada geração, como os “tigres brancos”, razão do título. E então, em meio a ambições, contrastes de classes, preconceitos, machismo, humilhações dos subservientes e corrupção, temos uma história contada por Balram, personagem do excelente ator (e cantor) Adarsh Gourav – aliás, todo o elenco é ótimo. A maneira de contar de forma original algo que poderia ser banal resume toda a qualidade do filme, que mistura elementos culturais, sociais, políticos, de uma forma muito bem dosada, deixando o espectador com várias “máximas”, como, por exemplo que: “Este é o século dos asiáticos”; “O pobre só chega no topo pelo crime ou pela política”… O filme uma severa mudança de rumo mais ou menos em sua metade e levanta voo ao aprofundar os limites da submissão e da revolta pelas injustiças sociais, acelerando as mudanças que vinham até então sendo apenas ensaiadas. Pode ser que não seja um filme perfeito e que em certos pontos falte o “encanto certo”, mas é uma forte e bela produção da Netflix. 8,6