FILHOS E AMANTES (SONS AND LOVERS)

Não é  tão fácil adaptar um romance. Ainda mais quando se trata de um livro complexo e com temas difíceis e, além disso, censuráveis. Notadamente quando se trata de um escritor proibido e polêmico quanto D.H. Lawrence, que tanto foi considerado um nome importante para a literatura inglesa, quanto questionado e criticado por suas ideias de apoio ao fascismo e ao nazismo: escreveu vários livros, sendo os mais famosos justamente os dois que foram proibidos por muitos anos, “Mulheres apaixonadas” e “O amante de Lady Chatterley”. Interessante que o romance que dá título a este filme foi escrito em 1913 e o filme foi feito em 1960, havendo um abismo aparente de tempo separando a moralidade dos dois períodos. Igualmente curioso que o título do filme não significa exatamente o que aparenta (apesar de Lawrence…), embora sugira efetivamente um relacionamento doentio e que fica próximo ao incesto, isto é, o “aprisionamento”, em todos os sentidos, do filho pela mãe excessivamente protetora. E tanto a adaptação do romance foi bem sucedida, que o roteiro do filme foi indicado ao Oscar, assim como o foram o próprio filme, o diretor Jack Cardiff, o ator Trevor Howard, a atriz coadjuvante Mary Ulse (surpreendente a indicação!), a direção de arte em p&b e a fotografia, que acabou ganhando o seu único Oscar. Em termos de atuação, o destaque efetivamente vai para o casal central, cujos conflitos servem para tanto explicar todos fatos em sua órbita, como para suscitar inquietações e discussões a respeito dos relacionamentos e de suas consequências, envolvendo sonhos, esperanças, jovialidade, em oposição à realidade que o tempo traz, ainda mais quando se trata de uma família pobre. A esposa, interpretada muitíssimo bem por Wendy Hiller e o marido, trabalhador das minas de carvão, na talvez maior interpretação da carreira do excelente ator Trevor Howard. São várias as temáticas que perspassam pelos personagens, incluindo os impasses da juventude (impulsos x moralidade), o medo da perda da liberdade, a incerteza de ser o casamento a melhor resposta para o futuro, sendo satisfatório nesse sentido o desempenho do jovem e frágil ator Dean Stockwell. O filme apresenta ótimos e francos diálogos sobre a real essência dos homens e das mulheres, fazendo um painel bem próximo do que chama de “espírito” e de seu oposto, findando inesperada e subitamente, embora com a definição de um caminho sem retorno a ser seguido.  8,4