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O SOL É PARA TODOS

Este é um filme para ser chamado de Clássico. Não porque foi eleito um dos favoritos de todos os tempos e o personagem principal interpretado por Gregory Peck –o advogado Atticus Finch- escolhido como o maior herói americano pelo American Film Institute em 2003, mas sim pelos elementos humanitários que contém e por sua qualidade. O filme é baseado em livro de Harper Lee (vencedor do Prêmio Pulitzer em 1961), abordando fatos de 1932 em pequena e conservadora cidade americana (Maycomb, Alabama). Há dois focos principais de interesse no filme: a infância (e a educação das crianças segundo regras éticas), seus heróis, mistérios e fantasmas e a advocacia de Atticus (rigorosamente íntegro), subitamente às voltas com um caso difícil, de julgamento pelo júri, e que praticamente desafia toda a cidade, pelo preconceito. A narradora da história é, já adulta e em off, a pequena Scout (quando tinha 6 anos), contando os fatos sob a sua perspectiva em um clima de permanente mistério, graças à direção de arte, fotografia e trilha sonora, assim como a excelente direção de Robert Mulligan (Houve uma vez um verão, Quando setembro vier, A inocente face do terror…). Esse clima que predomina inclui as fantasias de infância (curiosidade, medo, aventuras em um mundo mágico e criativo) e o misterioso vizinho Boo, que terá um papel importante e inesquecível no final do filme. De outro lado, o caso que abalou a cidade tem início e prossegue perante o tribunal do júri, com Atticus pautando-se sempre por uma conduta inabalável em defesa de suas convicções e do que acha justo, o que faz também na vida familiar, nos belos e edificantes diálogos com seus filhos. Em um deles, diz à filha que só se pode saber como alguém se sente, colocando-se no lugar dessa pessoa. No final há cenas notáveis e o fecho do filme é um primor, em todos os sentidos. Gregory Peck ganhou por seu papel o Oscar de Melhor ator em 1963, tendo o filme também ganho os de Melhor roteiro adaptado e Melhor direção de arte em preto e branco. Como curiosidade, foi o filme de estreia no cinema do ator Robert Duvall. O título original “To kill a mockingbird” ou “Como matar um rouxinol” -ou uma sabiá ou uma cotovia, conforme o tradutor- é esclarecido em uma das cenas e a explicação tem um significado belíssimo, que harmoniza com todo o sentido e o sentimento da obra. Tanto em razão do romance, quanto do próprio filme, Atticus Finch, pelo modelo de integridade, passou a ser na história literária americana, segundo um crítico, a imagem ficcional mais duradoura do heroísmo racial. 9,5