IN THE HOUSE (DANS LA MAISON)
Há filmes que desde a primeira cena já nos tornam cativos. Sentimos claramente que são especiais e já antevemos sua qualidade muito acima da média, sua originalidade, seu poder de atração e que são repletos de surpresas, inteligentes e imprevisíveis. É o caso deste excelente filme francês de 2012, que é um daqueles que oferecem muito material para críticos cultos, sociólogos, psicólogos etc. Nas diferentes leituras que o filme permite fazer, surgem questões palpitantes: arte e a literatura não ensinam nada realmente? Qual o poder da literatura, afinal? O de colorir falsamente o mundo burguês, previsível e monótono? Quais os perigos de a realidade e a arte compartilharem ou tangenciarem seus limites? A arte continua sendo arte se desvinculada de seu componente comercial? O amor é apenas uma imagem ou essa definição pode ser a da paixão? Dirigido com extrema competência por François Ozon (Swimming Pool, Potiche…), o filme tem seu rico e premiado roteiro adaptado (de um livro que deve ser estupendo) e um elenco bastante talentoso e harmônico , capitaneado pelos experientes Fabrice Luchini e Kristin Scott Thomas (sempre bela), ao lado do jovem e talentoso ator Ernst Umhauer e também da já madura mas sempre bonita Emmanuelle Seigner. Uma história bastante original, que fala de muitas coisas, entre elas do poder: da literatura, da manipulação, do ser humano e sua sexualidade…fala de relações de professor e aluno, voyeurismo, sensualidade, fetiches, muitas vezes em clima hitchcockiano (principalmente nas cenas das narrativas do aluno sobre o que está escrevendo), com uma trilha sonora que acompanha a tonalidade de cada cena e que inclusive nos leva a bons momentos de suspense, colocando-nos, como espectadores, na mesma posição que o professor entende que o leitor deve estar: ansioso pelo que vai acontecer…Um filme muito inteligente e interessante, que nos faz olhar pelo buraco da fechadura para espiar parte da complexa natureza humana. 9,0