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THE EAST

Um filme de guerra na verdade, mas ao mesmo tempo um thriller, porque a guerra é o pano de fundo para que os partícipes, notadamente o protagonista (que se destaca no curso da história), tentem se situar no mundo e descobrir qual o sentido de tudo, afinal, diante de tantas tragédias e dilemas descortinados ante seus olhos jovens. Os fatos se passam na Indonésia e na colônia holandesa pós Segunda Guerra o objetivo a princípio é os soldados garantirem a liberdade e a independência do povo, livrando-o da opressão. Mas há tanto caminhos imprevistos, quando grande perigo e quantidade de movimentos e forças envolvidas, que em questão de segundos o dilema pode surgir quase ao mesmo tempo que a morte. O filme no início caminha de forma plácida, aparentemente mostrando que a missão inicial seria sobretudo entediosa, entretanto com o passar dos dias surgem imponentes e conflitantes os motivos por que lutar, algo para justificar tudo. O filme tem várias facetas, segue rumos imprevisíveis e pouco a pouco os personagens mergulham nas sombras e aparecem paradoxalmente de forma mais clara e intensa. Surpresas virão, mas até o final o roteiro nos deixa em suspense, sem sabermos exatamente onde pisamos e para onde iremos. E a cena derradeira é efetiva e totalmente inesperada, de certo modo aproximando guerra e arte, ao apontar pontos imprevisivelmente comuns. Um filme extremamente bem dirigido, porque dá vazão a um roteiro forte sempre com firmeza e também sensibilidade, tornando o espectador refém de uma história que acaba possibilitando várias interrogações e interpretações, sobre o destino do homem, o significado da guerra etc. Curiosamente, o filme foi alvo de um processo movido pela Federação dos Indonésios Holandeses, que não aceitaram além da ficção alguns aspectos do filme, como a maneira de mostrar as intervenções holandesas na Indonésia (que teriam o objetivo de colocar fim nas ondas de terror da milícia local), a imagem de soldados com prostitutas, proferindo blasfêmias e injúrias raciais, vestindo uniformes que lembram os dos nazistas e o personagem “O turco” com um bigode à la Hitler. O processo não prosperou, tendo o diretor Jim Taihuttu inclusive conseguido depoimentos de veteranos holandeses, que negaram a ficção, confirmando os relatos abordados no filme e a autenticidade dos fatos apresentados. Por sinal, o Turco foi uma figura real histórica, tendo liderado várias missões na Indonésia e virado após a guerra um cantor de ópera, apesar de a cena final ser totalmente fantasiosa. Outro fato curioso é que as filmagens na Indonésia foram extremamente difíceis, sofrendo inúmeros atrasos e incidentes, como as fortes chuvas, a destruição do cenário pelas enchentes, além do permanente perigo de crocodilos, intoxicação alimentar, tifo e até picada de escorpião que vitimou aa assistente do diretor. 8,8