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SUBLIME TENTAÇÃO (FRIENDLY PERSUASION)

Embora o título original não seja lá essa maravilha (“Persuasão amigável”, que se refere, dentro do enredo, a desvios de conduta, das pregadas pela prática religiosa), certamente o título em português deste filme é um dos mais infelizes da história do cinema. Isso à parte, é um filme muito bonito, estilo família dos anos 50, bem típico aliás, ocupando sua maior parte com a história de uma certa família de Quakers (religião que prega a ética, a igualdade, o absoluto pacifismo etc), do sul do Estado de Indiana, em 1862. O ano, para quem conhece a história americana, é o segundo da Guerra Civil ou Guerra da Secessão, que durou de 1861 a 1865 e colocou frente a frente os Estados aliados do Norte abolicionista (a União) e os Estados aliados do Sul escravagista (os confederados). Mas quase todo o filme contempla a vida da família e nesse espeço a guerra é um pano de fundo apenas. Nesse panorama, há ótimos momentos e até mesmo cenas engraçadas, como a inicial da gansa Samantha (que bica apenas o caçula e quando ele veste sua roupa de ir ao culto – curiosamente, o nome da gansa consta dos créditos do filme, mas isso realmente se fazia muito na época com os animais de destaque), as de disputa de charretes, a da música das moças que tocam gaita e harpa, a da compra do órgão, entre outras, sendo um drama-comédia bastante agradável, com bela fotografia. Um filme divertido e leve e a trilha sonora deixa isso absolutamente claro. O estilo do filme é à la western, embora não seja propriamente um faroeste. O pai da família é Gary Cooper, um dos mais famosos galãs americanos (no cinema e na vida real) e que aqui, aos 55 anos, exibe uma ótima forma física e um grande talento para o gênero. A mãe, muito bem interpretada, é feita pela atriz Dorothy McGuire. Na verdade todo o elenco está bem, inclusive muito bem o ator Anthony Perkins, surpreendentemente. Contudo, embora o tema predominante do filme seja o já descrito, é claro que não haveria como ele deixar de abordar a guerra civil americana, que estava inclusive chegando naquela região, pelas mãos e armas dos sulistas invasores: e os 30/40 minutos finais são destinados aos fatos da guerra e a alguns de seus dramas, naturalmente com repercussão importante na vida e nas crenças da família e da própria comunidade. Há nesse particular temas bem interessantes, quando a necessidade de preservação colide contra os princípios religiosos, de quem se recusa, por exemplo, a pegar em qualquer arma de fogo: Deus e passividade versus necessidade de ação contra os perigosos e mortais invasores…os princípios justificam ficar inerte e deixar de proteger a família? Desse contexto ótimas situações e algumas ótimas frases, como, por exemplo, “A vida de um homem só é válida se for guiada pela sua consciência” ou, em aparente oposição, “Qualquer um que mate um inocente é meu inimigo”.  O filme foi indicado a 6 Oscars em 1957, embora não tenha ganho nenhum: filme, diretor, ator coadjuvante (Perkins), roteiro adaptado, canção original (Three I love) e mixagem de som.  O diretor, William Wyler (O morro dos ventos uivantes, Os melhores anos de nossas vidas, Ben Hur…). 8,7