QUEM TEM MEDO DE VIRGÍNIA WOOLF?
Por mais de uma vez tomei conhecimento da brincadeira que critica (com razão muitas vezes) esse pessoal que dá o título em português para os filmes, dizendo que a tradutora deste filme deu o nome de “Quem tem medo do lobo da Virgínia?”. Piadas à parte (ou não?), o fato é que o título desse filme de 1966 não tem relação com a escritora inglesa citada (ou com a obra dela) e sim com um jogo de palavras derivado da música infantil “Quem tem medo do lobo mau?”, do desenho “Os três porquinhos” da Disney (de 1933). Dito isso, cabe dizer primeiramente que este é um dos filmes mais pesados da história do cinema, em se tratando de “lavagem/lavação de roupa suja” de um casal, que inclusive não se importa em fazer isso na frente das visitas e ainda por cima acaba envolvendo o casal de visitantes na “baixaria” toda, o que vai se intensificando pelos efeitos do álcool (que é consumido desenfreadamente por todos) madrugada adentro. A partir de alguns poucos instantes de aparente paz na introdução, inicia-se um pesado duelo verbal entre o casal Martha e George, com agressões mútuas, de baixo ou alto nível (de ofensa ou de ironia) e que vai durar o filme todo. Os rancores e ressentimentos acumulados vão sendo despejados sem pudor algum pelo casal (com ou sem a contribuição das visitas Nick e Honey) e os diálogos ácidos são revestidos de toda a crueldade possível, inclusive deixando claro o fato de como é fácil atingir as feridas de quem mais conhecemos e nos é mais próximo e que justamente são as pessoas que acabamos mais atingindo em nossos momentos de fúria ou insensatez. Este filme, portanto, não tem nada de diversão, sendo, sim, um cinema de qualidade por entregar o que se propõe, baseado no texto de Edward Albee e revestido de elementos de alto nível de produção. É, afinal, um filme perturbador, depressivo, melancólico, de difícil digestão e que tem todo esse perfil decisivamente valorizado pela excelente direção do exigente Mike Nichols (A primeira noite de um homem, Ânsia de amar, Closer…) e pela estupenda interpretação do elenco, na ordem de atuação: Elizabeth Taylor, Richard Burton, George Segal e Sandy Dennis. Aliás, Liz Taylor ganhou o Oscar de Melhor atriz por esse estupendo papel (surpreendente para os fãs, pelos tipos que sempre desempenhou e até mesmo pela composição e aparência “denegridas” de sua personagem), mas os demais também foram indicados ao Oscar 1967, Burton como ator e Segall e Dennis como coadjuvantes, obviamente. O filme também tem ótima direção de arte, fotografia (ganhou esses dois Oscars, além de Figurino) e é muito bem cuidado em toda a sua atmosfera, principalmente para acompanhar os altos e baixos dos personagens, inclusive no melancólico avanço dos fatos, quando parecem esgotar seu repertório de ódio e rancor, o álcool já produziu seus efeitos incluindo o cansaço e a madrugada já avançou em direção ao amanhecer, parecendo deixar apenas sobreviventes e ruínas humanas que têm que seguir em frente, com seu amor, seu ódio e notadamente com sua dependência. Além das categorias já citadas, o filme também foi indicado para os Oscars de Roteiro adaptado, Edição e Trilha sonora. Apesar de tudo e do que foi propositalmente inserido, o filme entra em uma zona melancólica após a sua metade e cai um pouco de intensidade dramática…ou, então, torna-se um pouco cansativo pela própria limitação humana, de suportar o intenso “bombardeio” anterior. 8,5