QUANTO MAIS QUENTE MELHOR (SOME LIKE IT HOT)
Esta, sem a menor dúvida, é uma das grandes comédias que o cinema já produziu (no caso, americano). Se não for a melhor comédia americana de todos os tempos, conforme decretou com total propriedade o American Film Institute. Ritmo perfeito e total adequação: de elenco, de direção, de roteiro, tudo funcionando de uma forma totalmente harmoniosa e sem qualquer excesso, propiciando ao espectador um deleite do início ao fim, com várias cenas antológicas, notadamente todas as que envolvem Daphne (personagem de Jack Lemmon) e o milionário (Mike Mazurki) e tendo ainda de brinde um trio que se mostra perfeito, na atuação e na sintonia. E a cena final é simplesmente um achado, daqueles que o cinema jamais esquecerá. Genial, sendo talvez o melhor final de filme da história da sétima arte. Um enredo movimentado, que se passa inicialmente na Chicago dos anos da Lei Seca, onde há pesados conflitos entre a polícia e a máfia e os próprios gângsters disputam territórios entre si. E depois se desloca para a ensolarada Flórida, onde grandes momentos virão, com graça, leveza e criatividade, enaltecidos por uma Marilyn Monroe, no auge de sua carreira, mostrando a forma e o sex appeal que a tornaram o mito, Jack Lemmon na atuação master de sua carreira (simplesmente uma delícia seu personagem!) e o galã Tony Curtis em um papel totalmente inusitado e no qual se sai extremamente bem. Também, entre outros, temos George Raft no papel mais do que adequado de vilão e Mike Mazurkio, fabuloso e engraçadíssimo na pele do exótico milionário. O maestro de tudo é nada mais nada menos que o lendário Billy Wilder, que dirigiu grandes sucessos do cinema, entre os quais (notem a qualidade !) Se meu apartamento falasse, Sabrina, O pecado mora ao lado, A montanha dos sete abutres, Pacto de sangue, Crepúsculo dos deuses, Testemunha de acusação, Inferno nª 17, Farrapo humano, Irma la Douce. Com tantas obras poderosas, porém, este filme aqui parece ser o auge de sua carreira, pois o brilho é total, em todos os departamentos e sob qualquer ângulo que se analise, notadamente em razão das atuações do trio (com timming perfeito) e do roteiro, inteligente, criativo e mesmo ousado para a época. Apesar de tudo e da perfeição da obra acabada, duas curiosidades permanecem vinculadas ao filme: a) embora tenha recebido diversos prêmios, foi “esnobado” pelo Oscar de 1960 (era ano de Ben Hur), ganhando ridiculamente apenas o prêmio de Melhor Figurino (o Oscar de roteiro foi dado a Almas em leilão, filme do qual ninguém mais fala); b) a despeito das aparências, foram imensos os problemas de filmagem e de relacionamento de bastidores, devidos à instabilidade de Monroe, que faltava ou atrasava seguidamente, vivia problemas com sua gravidez e errava muitas de suas falas, a ponto de uma frase simples ter sido objeto de dezenas de takes. Felizmente, nada disso contagiou o filme, que permanece como uma das obras mais perfeitas do cinema, uma comédia efetivamente imortal. 10,0