PÉRFIDA (THE LITTLE FOXES)

Este filme de 1941 tem um roteiro acima da média. Mas às vezes é um pouco prolixo demais (muitos e rápidos diálogos), embora realmente seja bem elaborado e tal fato não prejudique a compreensão, que mais tarde virá de forma clara. O problema aqui é o estereótipo, porque apesar de Bette Davis ser uma grande atriz e de a personagem ter o mérito do feminismo em uma época machista e em que só os homens eram herdeiros das famílias (final do século 19), a personificação de malvada fica muito evidente, explícita demais: desde as feições, passando pelo comportamento, pelo cabelo, pela maquiagem, tudo forma o perfil de uma vilã. Esse é um defeito de certo modo relevante em um filme muito bem construído e com personagens e trama bem interessantes, que intercala situações familiares com interesses financeiros e um panorama bem definido da sociedade da época. O título original, produto da inteligência, justifica-se pelo teor da citação que aparece na introdução do filme e que também é repetida a certas alturas pelo personagem Horace (o marido). E o título em português, produto do comércio, identifica o caráter da personagem de Bette. Dois anos antes da produção do filme a peça de mesmo nome e tema fez muito sucesso, inclusive três atores e uma atriz de seu elenco participando do filme: Dan Duryea, Charles Dingle, Carl Bento Reid e Patrícia Collinge. Esta última, no papel de Birdie, foi indicada ao Oscar como coadjuvante, também sendo indicada para a mesma categoria a atriz Teresa Wright, que fez o papel de Alexandra (seu primeiro papel no cinema). O diretor foi William Wyler, que já havia dirigido Bette em Jezebel e A carta e conta-se que ambos em todas as produções tiveram muitas divergências de opiniões em vários assuntos e momentos, a ponto de, segundo Bette, “cada dia ser uma batalha”. O filme concorreu a 9 Oscar e não ganhou nenhum: filme, direção, atriz (Bette Davis), atriz coadjuvante (Teresa Wright e Patrícia Collinge), roteiro adaptado, montagem, direção de arte em p&b e trilha sonora. Por fim, cabe o registro dos últimos minutos do filme, do diálogo de mãe e filha e dos instantes depois: um primor de fotografia e direção, trilha sonora e interpretação. 8,5