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WATCH ON THE RHINE (HORAS DE TORMENTA)

Sem comentários sobre o péssimo título em português, cabe dizer ser sabido que muitas pessoas têm preconceito contra filmes antigos, principalmente quando feitos em preto e branco. Isso é uma pena e não deveria acontecer com quem ama o cinema. Porque vendo filmes antigos, principalmente das décadas de 40 e 50, percebemos que naquela época havia grandes roteiros, histórias maravilhosas eram contadas. E com desempenhos inesquecíveis de muitos atores e atrizes. Além disso, grandes diretores se destacavam e embora não houvesse efeitos especiais nem perto dos que hoje existem, já era grande a preocupação com a qualidade e com a técnica cinematográficas. Este filme é um exemplo disso, inclusive tendo seu roteiro concorrido ao Oscar de 1944 (foi produzido no ano anterior), assim como concorreu nas categorias de Melhor filme e Melhor atriz coadjuvante (Lucile Watson, que faz o papel de Fanny, a mãe), ganhando na de Melhor ator (Paul Lukas que já havia ganho o Globo de Ouro). Acontece que o filme vencedor daquele ano foi Casablanca e nesse caso realmente não haveria como concorrer, embora este filme tenha grande qualidade, produzido em plena Segunda Guerra Mundial e com apelos anti-fascistas. E tem, de fato, uma história muito interessante, porque aborda a vida de um dos líderes da chamada resistência, mas que atuava externamente aos grupos locais e em âmbito global (sem limitações territoriais), embora em nome do interesse de todos e naturalmente da liberdade: segundo a própria introdução do filme, essas pessoas especiais já tinham conhecimento, antes dos demais, que os fatos da guerra se agravariam ainda mais, com vários países da Europa sendo invadidos e tomados pelos nazistas. Aqui vemos a vida em família de um desses bravos e altruístas combatentes “anônimos” contra o fascismo, quando, após transitar com mulher e filhos por vários países cumprindo sua missão, ruma aos Estados Unidos, para onde a esposa (Bette Davis) está retornando após dezessete anos (para a casa da mãe). Mas não haverá paz, porque a guerra começa a se alastrar e na América também existem focos poderosos de atuação alemã, já com manifestações claras de adesão ao movimento que eclode na Europa. Assim, paralelamente ao aspecto familiar (muito bem desenvolvido, com belos exemplos de família), temos a trama interna/política da guerra, o ativismo. O desempenho de Paul Lukas é excelente (inclusive brindado com um ótimo personagem), a atuação de Lucile Watson merece grande destaque, tanto que indicada ao Oscar, mas Bette Davis também está maravilhosa, como sempre: uma grande atriz, emprestando à personagem elegância, coragem e dignidade. Dois detalhes que chamam a atenção: o desnecessário pedantismo do garoto, o filho mais novo, que chega a ser até mesmo irritante (ou insuportável…) e a atuação de George Coulouris, que a princípio poderia ser tida como mais um estereótipo de vilão (por suas atitudes e também aparência): acontece que a partir do momento em que um personagem desperta sentimentos no espectador (no caso nada bons), é sinal claro de que o ator teve um bom desempenho! Este drama de espionagem (pode-se enquadrar assim) tem também o mérito de ter belos diálogos e não é à toa, pois foi roteirizado por Dashiell Hammett, um dos maiores escritores policiais americanos e que inclusive foi detetive antes de escrever seus contos e de criar o famoso detetive durão Sam Spade, que ganhou vida no cinema no filme O falcão maltês, interpretado por Humphrey Bogart. Conta-se que esse escritor chegou a ser perseguido em 1951 pela famosa Comissão McCarthy (que investigava atividades supostamente antiamericanas), ficando preso por 5 meses por se recusar a delatar supostos amigos comunistas. Enfim, um filme muito bem acabado, contando uma história repleta de idealismo e paixão, que emociona e também impressiona justamente por relatar fatos reais de uma guerra que ainda estava em plena efervescência.  8,9