O TERCEIRO ASSASSINATO

Um thriller policial de 2017 (e em parte “filme de tribunal”) dirigido pelo magistral cineasta japonês Hirokazu Kore-eda (Monstro, Pais e filhos, Assunto de família), premiado e indicado a diversos prêmios (como Veneza, 2017) e que tem no elenco Masaharu Fukuyama (Pais e filhos), Kôji Yakusho (melhor ator em Cannes 2023 por “Perfect days”, de Wim Wenders) e Suzu Hirose (atriz e modelo japonesa), entre outros. Fukuyama, aliás, apesar de ser um excelente ator e parecer ter total domínio e experiência nessa arte, é na verdade um ídolo mas da música, fazendo grande sucesso na mídia musical do Japão, como compositor e cantor daqueles de lotar estádios. Aqui temos um filme investigativo, que além do mérito de fazer o espectador ir acompanhando passo a passo os fatos e tentar ir com isso desvendando todos os mistérios, tem também o de repentinamente virar o jogo, apresentando ingredientes que mudam totalmente o rumo da história, formando um redemoinho de possibilidades e gerando sensíveis dúvidas, sobre qual, afinal, é a verdade dos acontecimentos. Depoimentos e versões contraditórias retiram totalmente a segurança de um caminho que parecia seguro ao espectador, assim como também a alguns dos personagens envolvidos, que por sinal dão total dignidade tanto à advocacia quanto aos próprios institutos culturais do Japão, embora haja pontos incômodos de contato com a civilização ocidental (a corrupção de bastidores), que o filme enfoca ao nos colocar diante de importantes questões que aqui sintetizo em duas frases: “Quem, afinal, decide quem será acusado?”, “O juiz faz o que quer com as pessoas”. Um filme instigante, interessante, muito bem interpretado e dirigido, com todos os demais elementos cinematográficos agregados para, mais uma vez, referendar o cinema de qualidade desse diretor. Há mais na tela que simples imagens e que revelam a delicadeza e a singeleza das obras de Kore-eda, como a do vidro que separa o advogado do presidiário e que com o desenrolar do filme e dos fatos vai se transformando de obstáculo instransponível até uma fusão bela e significativa de rostos e almas.  E na última cena, o emaranhado de fios que o advogado contempla reflete muito bem os nossos sentimentos. 8,9