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SEGREDOS DE UM ESCÂNDALO

Todd Haynes é um perfeccionista na direção de filmes, bem como de atores e atrizes, sendo também bastante original nos temas que abraça, ou, pelo menos, na maneira de mostrá-los. Ao terminarmos um filme dele, saberemos com certeza que por ali transitou o pulso firme de um competente cineasta. São dele, por exemplo, filmes como A última aventura de Robin Hood, The velvet underground, Carol e Longe do paraíso). Neste filme em que o trio de protagonistas efetivamente brilha – Julianne Moore, Charles Melton e principalmente Natalie Portman, que está maravilhosa -, vemos uma adaptação de fatos do mundo real e que chocaram os Estados Unidos, com o envolvimento de um aluno de 13 anos e sua professora de 36 anos, que acabou engravidando dele (e depois se casaram). Não é um spoiler, porque em 5 minutos de filme isso já fica claro, já que a história gira justamente em torno desse fato décadas depois e da visita à família pela atriz que fará o papel da ex-professora em um filme a ser lançado e que está ali para fazer o famoso “laboratório”, muito comum para atores e atrizes, que convivem um tempo com situações que irão personificar, não sendo tão habitual com personagens ainda vivos, mas representando esse fato uma grande oportunidade – e que terá um significado muito especial na última cena do filme -, pois a pesquisa será feita diante de quem vivenciou os fatos. Só que essa convivência, que vasculhará o passado, provocará decorrências e desdobramentos, cutucando temas já adormecidos e que poderão ser incômodos, não será um mar de rosas, havendo tensão no mínimo implícita durante todo esse curto relacionamento. Todas as sutilezas dessa relação invulgar e inesperada aparecem na tela, deixando inclusive o espectador com certo desconforto e sendo, ainda, recheadas muitas vezes de ironia em face da hipocrisia reinante. O roteiro aqui procura olhar com olhos diferentes os fatos sensacionalistas da mídia, para tanto invadindo de forma resoluta (não sem oposições) a intimidade dos personagens, que têm o seu lado subterrâneo subitamente iluminado, mesmo a contragosto. Há cenas de sair faísca, como se diz, e outras em que os diálogos são tão agudos quanto as imagens. Segredos e vaidades afloram, à medida em que Elizabeth imerge nos fatos e se insere no universo íntimo da professora, do atual marido (e que era o menino seduzido – ou sedutor?) e dos demais envolvidos (como o marido da época e os filhos), revelando também facetas ocultas de todos: a sensualidade que deliberadamente provoca da atriz, a fragilidade de um pai de família que de repente começa a questionar todo o contexto, o momento delicado da família, inclusive pela saída dos filhos e assim por diante. O filme (drama denso e, portanto, para certos gostos) tem recebido prêmios e sido indicado em premiações importantes (como Cannes 2023 e o recente Globo de Ouro, onde concorreram todos os três protagonistas e mais o filme, na categoria de Melhor comédia ou musical), cogitando-se que inclusive terá algumas nomeações para o Oscar 2024. 8,8