O PROFESSOR SUBSTITUTO

Apesar do título aparentemente singelo, este é um filme denso e trata de temas difíceis, complexos, mas que estão aí, à nossa volta, embora muitos não gostem ou não desejem ver: o futuro da humanidade e principalmente a situação da juventude (conduta e perspectiva) diante dos fatos do mundo atual e do que se prevê, considerando a destruição gradativa do planeta pelo próprio homem, nas suas mais diversas manifestações (usinas nucleares, matanças de animais, poluição de toda ordem, lixo acumulado etc, expostas em algumas cenas, fortes, do filme). Um projeto bastante arrojado e impactante do diretor Sébastien Marnier, aqui contando com a ótima performance das crianças e do ator Laurent Lafitte (Elle, Nos vemos no paraíso…). Em uma classe de alunos especiais (no caso, precoces intelectualmente), o professor é inesperadamente substituído e partir daí toda a trama se desenrola, justamente a partir da chegada e perspectiva (e ação) do professor novo, ético, atlético e engajado. Trata-se aqui de uma casta de alunos que é naturalmente rejeitada pelos demais (alunos normais) e que tem dificuldades de sobreviver na sociedade atual, passando com isso a adotar práticas isoladas e singulares, condizentes com o futuro que esperam. O filme traz diversos questionamentos, a respeito dos rumos atuais, da apatia, conformismo, da existência ou não de respostas, das questões ambientais, dos dilemas existenciais, da adolescência, enfim, dos perigos que permanecem em tocaia. Conseguirá o professor, apesar das dificuldades, ingressar naquele mundo fechado? E nesse caso conseguirá mudar comportamentos ou o pessimismo é inevitável? Quanto mais avança o filme, maior a tensão (Kafka e as baratas são fantasmas para o estudioso professor…), exacerbada pela estranha trilha sonora. Há vários momentos perturbadores e as próprias músicas do coral da professora meio psicodélicas são algo que foge ao convencional. Até mesmo as atitudes lúcidas do grupo, como privilegiados intelectualmente, chocam às vezes, pois dentro de um contexto que parece dispensar qualquer sentimento. E os pensamentos perigosos e autodestrutivos ou de superioridade -que lembram as origens nazismo, sendo que o filme cita explicitamente o massacre de Columbine – tornam o professor cada vez mais refém do que entende como sua missão maior.  O título original, afinal, é o que tem maior afinidade com o enredo: “L’Heure de la sortie” (A hora da saída), fazendo muito mais sentido do que o simplório título brasileiro e a pergunta que prevalece até a parte final é se estarão certos os jovens, ao dar como impossível imaginar um futuro não apocalíptico? O  final do filme mostra, por fim, uma aproximação, mas ao que parece tardia. 8,7