NO SILÊNCIO DA NOITE (IN A LONELY PLACE)

Oito anos depois de Casablanca (e quatro após À beira do abismo), Humphrey Bogart ainda muito em forma para interpretar um personagem de forte personalidade, machão, durão, de raciocínio e respostas rápidas, que atrai as damas. Só que aqui em um desafio maior, sob o ponto de vista dramático, porque se trata de alguém –um famoso roteirista de cinema- com temperamento violento e imprevisível, que ao mesmo tempo em que vive o descontrole, também o condena e de certa forma se martiriza com ele, a despeito de seu ego não permitir muitas desculpas para seus atos. Um personagem repleto de culpas e angústias e que teme ver desmoronar sua vida a qualquer momento, razão pela qual também tem uma insegurança, que tenta disfarçar a qualquer custo. Humphrey constrói muito bem esse personagem, a tal ponto de realmente sentirmos na pele sua dor e também o medo que provoca (as cenas no restaurante e principalmente na estrada são grandes exemplos!), além de encararmos como perfeitamente verossímeis as suspeitas que recaem sobre ele. A respeito do assassinato (todo filme noir como este, de 1950, tem um crime ao menos), passa a ser o grande mistério do filme e que naturalmente vai ser resolvido só no final, mas é o fio condutor dos vários dramas que se sucedem ao redor da investigação, todos muito interessantes, envolvendo casais, amizade inclusive com um policial e principalmente os relacionamentos mais íntimos (sem spoiler). Nesse ponto o roteiro é excelente, ao aprofundar as consequências no meio social e na vida das pessoas, pelo fato de serem suspeitas de um crime. Todos no elenco estão muito bem, incluindo a atriz –e cantora- Gloria Grahame (Os corruptos…) e a direção tem a assinatura do famoso e polêmico Nicholas Ray (Johnny Guitar, Juventude transviada…). 8,5